quinta-feira, 15 de abril de 2010

É tudo baiano*

Quando eu morava em Aracaju, pequena província de uma grande região do Brasil localizada acima do Rio de Janeiro chamada Bahia, eu tinha um simpático jegue chamado Juremar.

Certa feita, quando eu ouvia o programa do Mussão no rádio, mainha me chamou e disse que o Juremar estava doente. Imediatamente desabei em profundo desespero, uma vez que o carnaval se aproximava e eu precisava do Juremar pra chegar à capital do Nordeste – a saber, Salvador – pra sair fantasiada de filha de Gandhi no bloco da Cláudia Leitte. Juremar era meu único meio de transporte, não poderia perdê-lo.

Então fiz uma promessa ao Padinho Padim Ciço para que o Juremar ficasse curado antes do carnaval. Jurei ficar até quarta-feira sem comer acarajé, vatapá e tapioca. Praticamente morreria de fome, diante da falta de opções pra minha alimentação diária. Mas Padim Ciço atendeu às minhas súplicas e colocou o bom Coronel no meu caminho. O meu benfeitor deu ordem pros seus jagunços transformarem Juremar num trio-elétrico que só tocava axé e assim cheguei a Salvador em grandessíssimo estilo.

Por isso gostaria de agradecer a mainha, a Mussão, ao Coronel, a Juremar, a Cláudia Leitte, a Padim Ciço e todos aqueles que fazem da Bahia a região do Norte do Brasil mais rica em cultura, beleza e arte, terra de gente esforçada, trabalhadora, alegre e festeira.

*Conto meramente fictício, dedicado a todos os meus novos amigos paulistas que possuem uma visão levemente limitada do Nordeste e tudo que há nele.

por Deborah Fernandes

Beijo de Arlequim

4 comentários:

  1. hahaha Muito legal.

    Como você sabe, sou paulista. Paulistano mesmo, até hoje carrego comigo um pingo de sotaque da terra da garôa, misturado com a pronúncia sergipana e um pouco da do norte de Portugal.

    Quando fui morar em Santos, em 1996, depois de 9 anos de Aracaju (posteriormente voltaria a Aracaju para morar mais 4 anos antes de vir para a zoropa), fui fortemente discriminado devido ao meu sotaque.

    Me chamavam de "baiano". Tiravam onda comigo porque os meus colegas de Santos ouviam Raimundos e eu ouvia...Edson Gomes!

    Ou seja, eu era um paulista sendo discriminado em São Paulo por ser nordestino.

    Isso pesou muito na balança na hora de escolher, dentre São Paulo e Aracaju, qual seria a minha terra. Mesmo tendo nascido em sampa, é claro que sou aracajuano de gema. Não tenho nenhum vínculo afetivo com São Paulo e não tenho personalidade de paulista. Só tenho um pouquinho de sotaque e pronto. Até acho estranho! Eu só morei em São Paulo até aos 5 anos de idade, e isso foi suficiente para me fazer manter até hoje o acento daquela cidade. Claro que a pronúncia dos meus familiares influencia. Minha mãe fala como paulistana até hoje (ela nasceu em Portugal mas foi para sampa com 2 anos).

    Voltando ao assunto, quando vivi em Santos entre 1996 e 1997, sofri na pele o preconceito contra nordestinos. Lembro no primeiro dia de aula numa escola de Santos chamada Brás Cubas. Até os professores zoavam comigo.

    Eu, para me proteger, dizia "mas eu nasci em São Paulo". O pessoal não aceitava: "você é baiano, rapá".

    Hoje, em Portugal, estudo com muitos paulistas que vêm fazer intercâmbio aqui. E para minha felicidade, dizem perceber logo de cara o meu sotaque nordestino.

    Quando algum brasuca me pergunta por aqui de onde sou, a resposta é na lata: "de Aracaju, Sergipe. Sou nordestino, ôxe. Nasci na terra da garôa para a renegar em nome do acolhimento de minha mãe adotiva, a terra dos papagaios e dos cajus".

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  2. Juliano, se eu tivesse contatos politicos iria te indicar para receber o título de "Cidadão Sergipano". De repente te pagavam uma passagem pra tu vir receber em pessoa, iria ser dinheiro público usado para uma causa bem mais nobre do que a que tem sido usada por aí, hehehe

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  3. Eu sempre brigava com quem ofendia os meus amados amigos nordestinos ou descendentes. Sou a paulistana mais arretada que existe. Aí ne rogaram uma praga: quando morei em curitoba, cidade sem alma, era insultada e discriminada pelo meu sotaque de lugar nenhum. Ainda é tradição entre nós falar OSH! até hoje.

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