quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

O PROCESSO DA CRIAÇÃO VAI DE 10 ATÉ 100.000

Primeiro show do Pato Fu em Aracaju
Eu estava mergulhado no mundo do rock "underground", independente. Visitava a única loja especializada da cidade, a Lókaos, de Sylvio da Karne Krua, todo final de tarde, ao sair do trabalho, para conferir as novidades do mundo do "indie rock", do Heavy metal, do punk/hardcore e do grunge de Seattle. Os lançamentos da gravadora Cogumelo, de Belo Horizonte, especializada em metal sujo e barulhento, eram geralmente os mais esperados.

Até que, no meio daquela pancadaria sonora sem fim, surge algo novo, totalmente diferente de tudo o que estávamos acostumados a ouvir até então, e com o inusitado (neste caso) “selo de qualidade” da cogumelo: "Rotomusic de Liquidificapum", o primeiro disco da banda mineira Pato Fu. Uma musica alegre sem ser babaca, totalmente livre de amarras e limitações estilísticas. Uma música “sem tribo”. Muito rock, mas experimental, com a excepcional qualidade de não ser chato. Fiquei louco por eles, virei fã, ao ponto de entrar em contato, via carta, com John, o guitarrista, ex-Sexo Explicito (não, ele não era ator pornô, era o nome de uma banda anterior dele, neste caso, bem chatinha, pelo que me lembro). Via carta, fiz a entrevista que reproduzo a seguir, publicada na edição xerocada do Escarro Napalm em algum ponto do meio da década de 90. Algum tempo depois, já durante a turnê do segundo disco, “Gol de quem?”, lançado por uma grande gravadora multinacional, eles tocariam pela primeira vez por aqui, no extinto Batata Quente da Orla de Atalaia.

Fernanda Takai and me
Num primeiro momento não fui falar com eles por timidez, achei que eles nem lembravam mais daquele pentelho de Aracaju que vivia enchendo o saco mandando cartas, mas alguém me falou que o John e a Fernanda estavam procurando por mim, então rolou um segundo contato pessoal ( o primeiro foi num show que eu tinha ido especialmente para vê-los em Maceió ) bastante simpático. Atualmente eu não gosto mais do Pato Fu, acho que a banda foi progressivamente diluindo seu som à medida que Fernanda Takai foi participando mais do processo criativo, mas também não é nenhuma banda horrível, repulsiva e mercenária. Ainda os considero simpáticos, e bastante “ouvíveis”. O primeiro disco, no entanto, permanece O clássico.

ESCARRO NAPALM ENTREVISTA PATO FU

1. COMO SURGIU A IDEIA DE MONTAR UMA BANDA, E DE ONDE VOCÊS TIRARAM ESSE NOME – EXISTE ALGUM SIGNIFICADO PARA ELE?
PATO FU – Bem, depois que eu saí do Sexo Explicito, eu tava afim de montar uma banda que fosse tão legal quanto a dita cuja, porém com um som menos “hermético” e mais “grudento”. Dá pra entender? Fiquei mais ou menos uma ano só pensando numa formula que fosse capaz de, um show, juntar punk, metaleiro, boyzim, skatista e intelectual, tudo numa panela só, e fazer todo mundo reagir, cada um à sua maneira, ou seja: o headbanger bate cabeça, o boyzim sacoleja, o skatista pula do palco e o intelectual estereotipado fica gritando “ô farofa!”. Entre as músicas. Aí deu neste trem mineiro que é o PATO FU. PATO na gíria = otário. FU no Aurélio = insignificante. Logo PATO FU = otário insignificante.

página do zine, original
2. COMO ESTA SENDO A REAÇÃO A “ROTOMUSIC DE LIQUIDIFICAPUM”? VOCÊS ESTÃO SATISFEITOS COM O RESULTADO FINAL E COM O TRATAMENTO RECEBIDO PELA GRAVADORA?
PATO FU - A reação tem sido excelente tanto na critica como público. O que mais me agrada é ver (como você viu em Maceió) que a gente tem conseguido romper barreiras que separa as tribos, transformando o show numa pajelança só. Dentro do esquema independente, o tratamento da Cogumelo é OK, super cordial, só peca pela falta de uma estrutura maior.

3. A MÚSICA “MEU PAI, MEU IRMÃO”, É AUTOBIOGRAFICA?
PATO FU – Todas minhas letras são. Dá pra resumir todas numa frase só: “Você viu o cabeção por aí?” Num é besta?

4. COMO PINTOU O PATROCINIO DA UNIMED - FORAM VOCÊS QUE OS PROCURARAM OU ELES QUE FORAM ATÉ VOCÊS?
PATO FU – Nós corremos deles até o dia em que eles foram num show w falaram que não tinha perigo, que eles queriam nos patrrocinar... Parece estória da carrochinha, mas juramos que é verdade!! Acredite ae se quiser...

5. ONDE PATU FU TEM TOCADO, E QUAL O MELHOR SHOW NA OPINIÃO DE VOCÊS? VAI PINTAR OUTRO SHOW NO NORDESTE?
PATO FU – Tocamos em BH até cansar em 93. Um show realmente chocante que fizemos foi no ROCK BRASIL 20 mil pessoas.... Mas o mais legal foi o lançamento do disco, com os bonecos do GIRAMUNDO... Cara, estamos doidos para tocar de novo no nordeste, tamos tentando...

6. O SKANK CITOU O NOME DE VOCÊS NO HOLLYWOOD ROCK – COMO É O RELACIONAMENTO DO PATO FU COM A S DEMAIS BANDAS DE BH CITY?
PATO FU – Super beleza. Tem bandas excelentes s aqui, uma Cogumelo só é pouco para escoar toda a produção....

7. O PATO FU TEM UMA IDENTIDADE MUSICAL BEM DEFINIDA – O QUE VOCÊS APROVEITAM DO QUE RECEBEM PARA CRIAR ESTE LIQUIDIFICADOR SONORO? O QUE VOCÊS OUVEM, LEEM , ASSISTEM, FAZEM...
pedaço do cartaz do primeiro show
PATO FU – O que? Cê acha o nosso som bem definido? Pô, então defina pra nós pelamordideus (N.R.: Acho que eu não soube me expressar bem, o que eu quis dizer é que o PATO FU tem uma forte identidade musical, um estilo só deles que a gente de cara já saca logo que banda é. É o estilo PATO FU, esta é a definição! NOTA ATUAL: Na verdade a pergunta foi mal formulada e minha explicação nada a ver com nada. Pato Fu não tinha estilo bem definido mesmo não.) Cara, todos nós três somos multi-influenciados, não dá nem pra citar... Vai de pinga com mel a Blood Mary, passando por loura gelada e conhaque quente!!

8. O VELHO ENCERRAMENTO DE SEMRE: DEEM (OU NÃO) SEU RECADO FINAL.
PATO FU – Moral da estória? É capaz de manga com leite fazer mal mesmo?... Um abraço!!!

Perguntas por ADELVAN
Respostas por JOHN FU

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