Uma feliz combinação de bons filmes e preços promocionais no cinema têm feito de mim um freqüentador assíduo das salas escuras. Farei breves comentários a respeito de alguns dos últimos filmes aos quais assisti, espero que sejam úteis.
A CONCEPÇÃO : Fita produzida em Brasília com atores desconhecidos, o único rosto familiar é o de Matheus Nachtergale, excelente como sempre, porém num papel pouco convincente. É um filme pretensioso e bobo, que conta a historia de jovens burgueses intelectualóides brasilienses entediados que caem na lorota de um pseudo-filosófo de botequim fajuto (Matheus) e fundam um tal de movimento concepcionista que prega a Morte ao Ego. Na verdade uma desculpa para praticar sexo grupal e golpes diversos sem sentimento de culpa. Mas a montagem é boa, tem muitas cenas de nu e as atrizes são gostosas. É chato, mas vale uma conferida
O ULTIMO REI DA ESCÓCIA: Excelente interpretação de Forrest Whitaker no papel do megalomaníaco Ditador de Uganda Idi Amin Dada. O filme utiliza-se do conhecido (e sempre bom, quando bem executado) expediente de criar personagens fictícios para romancear fatos reais – no caso, fatos reais E assustadores, como quase tudo o que vem da África, o continente esquecido, aliás. Conta as "aventuras" de um jovem medico escocês (entediado) que resolve partir para o ponto mais remoto que consegue encontrar no globo terrestre a procura de novas experiências e, de quebra, dar algum sentido a sua vida vazia – o famoso "fazer a diferença". Lá se depara por um acaso do destino com o Ditador recém auto-empossado de Uganda, cai em suas graças e passa a ser envolvido numa teia de intrigas políticas e violência. Perde a inocência e cai na real. Por pouco, tarde demais. Excelente fotografia de cores fortes, apropriadas para o cenário.
BORAT: Sensacional, fantástico, excelente. Sacha Baron Cohen é um gênio da comédia. Certamente um dos filmes mais engraçados já feitos – e tirando uma onda braba com a cara dos americanos, o que é melhor. Imperdível, não deixe de ver.
FILHOS DA ESPERANÇA: Esse Filme pode ser visto como uma aventura, e das mais movimentadas. Mas não como uma aventura escapista. O pano de fundo de seu enredo, um suposto futuro onde a humanidade subitamente ficou estéril e, por conta disto, está fadada à extinção e entregue ao fascismo, nos remete imediatamente aos dias em que vivemos, com o mundo caminhando a passos largos para uma espécie de Ditadura econômica corporativa globalizada e aparentemente à beira da extinção (veja UMA VERDADE INCONVENIENTE). Sempre fui fascinado por ficções cientificas pessimistas e essa aqui é de primeira. Não deixe de ver.
PECADOS ÍNTIMOS: Drama sobre o tédio e o aprisionamento involuntário que os casamentos quase sempre provocam e a necessidade que, uma hora ou outra, todos sentem de "pular a cerca" e, quem sabe, se sentir vivo e desejado outra vez. Poderia ser um filme chato, mas não é. Poderia ser pesado, mas também não é. Em vários momentos é leve e divertido, apesar da tensão representada pela iminência da traição permanentemente no ar. É uma espécie de "Desencanto" (filme clássico de tema parecido de David Lean) do século XXI. A Historia paralela do tarado pedófilo é excelente e comovente. Excelentes atuações de todo o elenco. Não deixe de ver.
CARTAS DE IWO-JIMA: Um daqueles "filmes de guerra" históricos impecáveis. A idéia de Clint Eastwood de filmar o outro lado do campo de batalha foi louvável, esperta e muito bem executada. E muito respeitosa também. Em nenhum momento os japoneses são demonizados, muito pelo contrário, o filme passa aquela conhecida sensação de que todos ali, dos dois lados do campo de batalha, são na verdade iguais em sua essência como seres humanos e estão em campos opostos apenas como peões de um complicado jogo de xadrez arquitetado por seus líderes em nome de supostos interesses nacionais. A narrativa é centralizada na figura do General Tadamichi Kuribayashi, comandante da defesa da ilha, mas flash-backs muito bem colocados enfocam a vida dos soldados comuns tolhidos pela espiral do conflito. Excelente.
O LABIRINTO DO FAUNO: o que a princípio era uma promessa (o diretor Guilhermo Del Toro) aqui se torna uma realidade. Esse filme é uma obra-prima. Visualmente impecável e muito, muito criativo. O visual do Fauno e das criaturas que a protagonista encontra pelo caminho (reais ou fruto da imaginação?) são coisa de gênio. Imperdível. Para todos.
PEQUENA MISS SUNSHINE: Tudo o que eu disser aqui vai fazer parecer que esse filme é um apanhado de clichês, e pode ser que seja. Mas a verdade é que é comovente e é muito bom. Todos entregam atuações impecáveis na História da menina feinha e gordinha que sonha em ganhar um concurso de Beleza infantil e da família que embarca em seu delírio para não decepcioná-la. A garotinha que faz a protagonista realmente mereceu a indicação para o Oscar de melhor atriz. Arrasou. E a mãe é Toni Colete, de quem eu sou fã desde o fantástico "cult movie" "O Casamento de Muriel". Além do mais, acho ela muito bonita.
MOTOQUEIRO FANTASMA: para não parecer que eu só assisti filmes bons, teve esse aqui. Fui ver porque curto quadrinhos e o visual apresentado no material promocional era promissor. Mas o filme é ruim que só. Pegaram um anti-herói semi-obscuro e anti-convencional da Marvel dos anos 70 e o transformaram num diversão chicletuda Hollywoodyana da pior espécie. O vilão é inacreditavelmente ridículo. Nicholas Cage é um ator de merda. Só não é um lixo completo porque o visual é realmente muito bom e a mocinha é extremamente gostosa e usa decotes generosos. Fora isso, mantenha distancia.
BABEL: Torci por esse filme no Oscar. Acho que o justo teria sido premiar Scorcese como melhor diretor (mais por uma questão de justiça histórica) e Babel como melhor filme. Mas anyway, nevermind, tanto faz. Não é tão bom quanto AMORES BRUTOS, mas é melhor que 21 GRAMAS. Segue a mesma estrutura (caso se repita mais uma vez no próximo filme, engrossarei o coro dos que acusam o diretor de repetir uma fórmula) de Histórias que se cruzam. Acontece que as Histórias se cruzam MUITO bem. É a Teoria do caos explicada da forma mais simples e didática possível. E tem Brad Pitt né ? Lindo, e excelente ator.
OS INFILTRADOS: É bom, mas não está, de forma alguma, entre os melhores filmes de Scorcese. E é confuso, não entendi muito bem a trama. Preciso ver de novo, quem sabe não melhores se eu encontrar o fio da meada ?
terça-feira, 4 de setembro de 2007
Snooze ao vivo em Aracaju
Na foto, Snooze ao vivo - mas não em Aracaju.
Aracaju, Sergipe, bandeirolas por toda a parte, clima chuvoso, show da snooze. Tradição no ar. Tradição popular, festejos juninos, tradição “underground” – trata-se de uma das mais antigas bandas de rock ainda em atividade na cidade, 10 anos recém-completados. Mas um elemento novo fez dessa uma noite especial. Como bem lembrou o guitarrista Clinio Jr., esse era, de certa forma, uma espécie de recomeço para eles, tendo em vista que se tratava do primeiro show de sua história sem a presença do baixista e vocalista Fabinho, que foi começar vida nova em Sampa. Um marco zero, e a julgar pelo que vi e ouvi naquela noite, um belo recomeço. O outro guitarrista, Marcelo , assumiu a maior parte dos vocais, e se mostrou um substituto à altura. O mesmo pode ser dito do novo baixista, Duardo – não por acaso, ambos egressos do Vitais, um dos muitos grupos que se formaram nesses dez anos influenciados pelo snooze. Rafael Jr, baterista, único membro remanescente da formação original, deu o tom da festa, apresentando as novas musicas e as novas roupagens para as antigas. O mesmo bom e “velho” guitar sound à la Teenage Fan Club com pitadas de surf music e punk rock executado com maestria e entrega. Mostraram-se bem ensaiados e perfeitamente entrosados, com um repertorio enxuto equilibrando com perfeição todas as fases do grupo – inclusive a novíssima fase, muito bem representadas pelas novas composições, algumas delas assinadas pelo novo vocalista – que já está há algum tempo na banda, como guitarrista. Completando o show, um cover do Guidede By Voices atesta que o lado didático da banda, que sempre apresentou ao publico roqueiro aracajuano o que há de melhor na cena independente mundial, continua intacto. O povo gostou, aplaudiu, urrou e pediu bis. A julgar pela recepção à nova formação, o futuro está garantido. Num mundo tão cheio de mudanças para pior, é bom saber que algumas boas coisas da vida continuam as mesmas. Século 21, aí vamos nós!Completaram a noite uma banda que eu não vi, e a julgar pelas impressões dos presentes não perdi muita coisa, o BRINDE, de Salvador, que faz uma espécie de power pop cantado em português repleto de lugares-comum e clichês de todos os tipos, tudo emoldurando ridículas letras de amor adolescente tardio, e a sensacional PLASTICO LUNAR, que merece alguns comentários à parte: Fazem um som totalmente voltado ao psicodelismo dos anos 60, obviamente influenciados pelos mutantes e tudo o mais que houve de bom por aqueles tempos, mas com uma incrível capacidade técnica e excelentes composições e presença de palco. O único senão, para mim, são as letras que, apesar de estarem perfeitamente inseridas na tradição e no contexto do estilo por eles encampado, me soam um tanto quanto anacrônicas e hippies demais para o meu gosto – frise-se, no caso, o MEU gosto pessoal. Fosse o mundo mais justo, esses caras já teriam um disco lançado pela Baratos Afins (que seria uma espécie de lar natural para eles) e pirateado mundo afora, com turnê marcada pela Europa e pelo Japão e tudo o mais que uma banda cult tem direito. Mas como o mundo é injusto, e nós precisamos nos acostumar com isso, eu fui embora antes do fim do show, pelo simples motivo de que já vi a banda ao vivo milhares de vezes e já conheço o repertório do show de trás para frente.
Terraço do mercado municipal, 29 de maio de 2004
originalmente publicado no site "Dissonancia"
por Adelvan k
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