segunda-feira, 25 de abril de 2011

ingresso comprado

O Korzus anuciou via Facebook que será a banda de abertura dos dois shows do Slayer no Brasil. Nada mais adequado, afinal eles costumavam ser chamados de "o slayer brasileiro". Há boatos de que Jeff Hanneman não se apresentará por aqui devido à infecção no braço que o tirou dos palcos recentemente, mas quero crer que até lá ele já estará recuperado, já que no último show da banda em Indio, California, ele tocou duas músicas, "South of Heaven" e ''angelof Death". Eu gosto de Jeff. Gosto de caras discretos.

By the way, já comprei meu ingresso ...

SLAYER (JUN/11), 9/6/2011 22:00, Via Funchal, São Paulo
1 Ingressos, Pista, Pista 1 150,00 150,00
Taxa 1 27,00 27,00
Taxa de serviços cobrada pela aquisição de ingressos fora das bilheterias. Em caso de cancelamento do show, essa taxa não será devolvida.
VISA
Autorização: XXXXXXXX
Cartão de Crédito: 412XXXXXXXXXXXXX
Autenticação (LR): 0
177,00
0,00
0,00

terça-feira, 19 de abril de 2011

Noite preta (pretíssima!)

15/04/2011, Abril pro Rock, Recife, Chevrolet Hall. Contra-tempos (BR 101, terrível*) me fizeram perder uma das bandas que mais gostaria de ver ao vivo, o Facada. Furia, me perdoe. Perdi também uma tal de "Cangaço" mas, pelos comentários que ouvi ( o mais insistente era "é roque pesado com influência de regional" ), não perdi nada. Cheguei no Desalma, banda local. Pesadíssima. Death metal com algo a mais e a menos, mas não consegui definir muito bem o que, pois ando meio sem paciência pra analisar bandas que não me fisgam logo de cara e foi este o caso, muito embora a competencia dos caras seja evidente.

O show começou mesmo (para mim) com a banda seguinte, Violator, de Brasilia. "A noite vai ser boa", diria Cladio Zoli. Espécie de Nuclear Assault tardio (antes tarde do que nunca) tupiniquim, os caras são muito, muito, muito bons de palco. Compensam com gloria e galhardia sua principal deficiência, a falta de músicas REALMENTE marcantes no repertório, com uma energia insana e um astral muito legal, além de muita competencia na execução. E são muito simpáticos: o baixista/vocalista fala o tempo todo entre uma musica e outra e não fica chato, muito pelo contrário: tem um carisma de moleque roqueiro doido porém "do bem", bem intencionado, que contagia a todos. Até quando fala contra "essas igrejas de merda que querem ocupar nosso espaço, fodam-se, foda-se o white metal" ele fala, não vocifera. O mesmo para um auto-elogio que o cara fez que na boca de outro soaria pedante, apesar de verdadeiro: "nós somos responsáveis, por aqui, pelo revival do thrash metal na década passada, pela valorização da diversão e da espontaneidade, então nada de ficar se exibindo com cara de mal ou servindo de progaganda para marca de xampo". Sensacional. Deu vontade de virar amigo do cara na hora, oportunidade que eu e qualquer um que quisesse teria, era só ir lá bater um papo com eles num stand que vendia mechandising oficial do DRI e do Misfits, além de algumas péreolas "underground" como um CD do Quebra-queixo, banda do Evandro, ex-vocalista do macakongs 2099, acompanhado do melhor "encarte" que eu já vi em toda a minha vida, em formato de revista em quadrinhos grandona impressa em papel couchê e com capa-dura ! Em termos de produção, superou até o "Music for antropomorphics", disco conceitual do Mechanics que também vinha com uma revista em quadrinhos encartada. Tudo isso por apenas 30 reais ! Inacreditável. Claro que comprei, ouvirei, lerei, resenharei (se a preguiça permitir) e tocarei no programa de rock (se for bom, né, mas boto fé que seja). Ao lado da mesinha do Evandro, uma surpresa: o disco novo do plastique noir, de Fortaleza! Vendendo-o, Babuê, figura gente fina que tá sempre agitando as coisas por lá. Ele me deu o disco de presente, agradeço muito.

Mas já que mencionei o DRI, voltemos ao show do Violator: o baixista da banda texana, Harald Oimoen, estava o tempo todo ao lado do palco, fotografando, durante o show dos candangos, mas a gente só soube quem ele era quando o vocalista, Pedro "poney", falou que era um prazer tocar ao lado de uma das bandas que mais os influenciaram. Ressaltou, inclusive, que sua primeira tattoo foi o célebre bonequinho pogando, símbolo do DRI. Falou isso também em inglês se dirigindo a Harald, o que foi a deixa para que este fosse ao microfone e dissesse: "DRI was my first tottoo too, and Violator is amazing, old school fucking thrash metal". Dito isso o pau continuou a comer na casa de noca, os violadores continuaram agitando pra caralho e instigando as rodinhas com os dedos indicadores em circulos e foi todo mundo feliz - eles, o público, que agitou MUITO, e "Poney", que saltou na platéia duas vezes - numa delas teve, inclusive, um atrito com um segurança que atingiu na cabeça, fato pelo qual se desculpou publicamente no microfone. Grande show - o maior da carreira da banda, como eles mesmos enfatizaram no palco. Para se tornar uma banda perfeita, só falta mesmo composição - mas ressalto que as musicas não são ruins, são apenas banais, clicherosas, sem nenhum refrão ou passagem especialmente marcante.

A quinta banda (terceira para mim) foi o Torture Squad. Uma grande banda, sem sombra de dúvidas. Pesada, precisa, técnica, e "metálica", acima de tudo. Fizeram um grande show (destaque para os solos de guitarra, matadores), mas que eu não vi direito - fiz uma análise mental e percebi que aquela era a que menos me interessava na noite e aproveitei para dar o tradicional rolê pelo espaço, não sem antes comer uma fatia de pizza com preço salgado e procurar a já célebre latinha de pitu personalizada do festival. Não achei, mas soube depois que estava a venda apenas em pequena quantidade no stand da Astronave, a produtora. Uma pena, seria um souvenir curioso para a posteridade.

Voltei a dar atenção ao que rolava nos palcos com a apresentação do Musica Diablo já começada. Grande banda, pesada, precisa, técnica, "metalica" e blah blah blah. Os caras mandam muito bem no instrumental, mas também falta composição e ... vocalista. Não tem jeito, não consigo gostar de Derrick Green como vocalista. É muito "feijão com arroz", sem personalidade. Qualquer um com um mínimo de potencia vocal e disposição para se esgoelar por algumas horas faz o que ele faz. Chega a ser incrível saber que ele ocupa há tanto tempo o posto na principal banda de metal brasileira, uma das maiores do mundo. Isso sem falar do papo furado em português capenga cheio de gírias paulistanas entre uma musica e outra. Não foi um show ruim, longe disso, mas não foi nada comparado ao que viria a seguir ...

DRI! Gente, eu estava num show do DRI, a banda mais "pogante" de todos os tempos. Mas não "poguei" (eu sei, eu sou um verme). Até deixei todos os meus "apetrechos" nas mãos de minha companheira, que preferiu ver tudo lá de trás, prevendo um apocalipse particular, minha já tradicional incorporação do caboclo adolescente headbanger que ainda insiste em viver em mim, mas as quase 10 horas na estrada (nunca demorei tanto para chegar em Recife!) coroadas com um engarrafamento monstro na hora do rush começaram a cobrar seu preço. Me recusei a "morgar", no entanto - pelo menos por enquanto. Fiquei lá, logo atrás da "ciranda-cirandinha", como gosto de chamar, em tom assumidamente depreciativo, a roda (literalmente falando) de "pogo" local, que mais parece um passeio entre amigos. Foi um verdadeiro desfile de pérolas em forma de musica pesada desferido por uma das mais influentes bandas do estilo (na verdade DOS estilos, já que eles mesclam com perfeição Hardcore ao thrash metal e não por acaso são considerados os inventores do "crossover"**). Um pedrada depois de outra. Kurt Brecht continua com um vocal muito bom e original e Spike Cassidy, o guitarrista e outro único membro da formação original (ele nem parece tão velho) simplesmente destroi nos riffs, ABSOLUTAMENTE matadores. Infelizmente não resisti e precisei descansar um pouco, sentado, justamente quando começou uma das sequencias mais matadoras da história da música pesada mundial, "violent pacification" e "Five years plan" com seu mantra "I lose/you win/I win/you lose" que ecoaria em nossas cabeças por todo o final de semana seguinte. Vi tudo pelo telão, mas não vi que o baixista maluco tinha descido do palco. Tomei um susto quando ele passa por mim correendo, com o instrumento ainda em punho. Memorável. E puta que pariu, como os prórios caras do DRI enfatizavam o tempo todo no palco, a gente ainda iria ver os Misfits !!!

Corta pro telão: Imagens belíssimas e coloridas, produzidas pelo coletivo goiano "Bicicleta sem freio", ilustram a narração: "Petrobras apresenta: Abril pro rock 2011. E agora, diretamente dos Estados Unidos, The Misfits!". Denecessário dizer que a turba ensdandecida (que por sinal compareceu em peso, o Chevrolet Hall estava lotado, uma coisa bonita de se ver) veio abaixo. As cortinas se moveram ao som de um pianinho tenebroso e voila: lá estavaM eles, um dos mais matadores "power trios" em atividade na face da terra, neste momento. Na verdade o trio foi tão "power" que todo mundo (sei que não foi apenas eu, pelos comentários que ouvi depois) ficou meio atordoado, sem saber direito o que estava acontecendo. Uma música emendada na outra em velocidade acelerada (e olha que as versões originais já são bem rapidinhas) com o "Big Boss" Jerry Only dividindo os vocais com Dez Cadena, o guitarrista. Ficava até difcil identificar o que eles estavam tocando, algo que só ficou mais claro quando Only anunciou o primeiro grande clássico da noite, "Astro zombies", com um daqueles tradiconais "ÔÔÔ" feitos sob encomenda para serem acompanhados pelo público. E o publico acompanhou e participou, e muito !

A primeira pequena "pausa" serviu para que Cadena perguntasse se alguém ali conhecia uma banda chamada Black Flagg. Ele explica que iriam tocar "six pack" e a dedica "for you. Yes, you!", apontando para alguém na plateia. Os telões não focalizaram o felizardo, mas creio que deveria ser alguém com alguma camiseta de sua antiga banda. O Misfits toca com essa formação desde 2001, o que não impediu algumas "atravessadas", possivelmente motivadas por algum problema de equalização no início do show, quando a caixa da bateria estava muito alta e os vocais praticamente inaudíveis.

Os clássicos foram se sucedendo e o publico assimilando e enlouquecendo. Tudo muito acelerado, um verdadeiro rolo compressor. Só foi possivel respirar em "Helena", uma "quase" balada, mas o pau voltou a comer logo em seguida. "Dig up her bones" ficou quase irreconhecível devido à velocidade em que foi tocada mas o refrão, como não poderia deixar de ser, foi cantado a plenos pulmões por todos. Até eu, que estava exausto, consegui esboçar um sorriso mais entusiasmado e levantar o braço em sinal de aprovação. Only não parava nem para se refrescar ou trocar o chiclete que ele mastigava o tempo inteiro: havia um carinha agachado dedicado, aparentemente, unicamente a satisfazer estas suas "necessidades", espocando umas bolinhas de gelo (ou seria água ensacada?) nos "spikes" de sua jaqueta ou entregando outra goma de mascar ao menor sinal do "mestre". Por falar em jaqueta o visual de Jerry Only é, por sinal, uma atração a parte, um verdadeiro ícone de uma determinada subcultura pop norte-americana, com aquele topete escorrido despencando entre os olhos e culminando no nariz. Guitarrista e baterista, por outro lado, foram mais "comedidos": o primeiro ostentava uma face esbranquiçada entre os longos cabelos esvoaçantes enquanto o segundo "apenas" desenhou dentes enormes em seu maxilar, numa operação simples porém com um resultado excelente. O cara ficou parecendo um monstro pré-histórico.

O show "terminou" mas o bis não demorou. Veio com “We Are 138" e, surpresa, outra do Black Flagg, "rise above", que foi acompanhada pela maioria do publico, uma surpresa maior ainda para mim, que não sabia que a clássica banda underground californiana era tão popular. Fechando os trabalhos e para acabar de vez com tudo, o mundo inclusive, "Die Die, my darling". Puta que pariu, uma verdadeira aula de punk rock numa unica canção: curtinha, com refrão certeiro e batida martelada e minimalista. Fim de festa, cortinas fechadas, pianinho sinistro de volta aos auto-falantes e a volta pra casa com energias renovadas.

O Misfits conseguiu um grande feito em 1995: voltaram depois de 12 anos paralisados por um pendenga judicial envovendo Only e Danzig em torno dos direitos do nome da banda e fizeram um sucesso ainda maior, embalados por uma formação matadora que contava com o excepcional vocalista Michale Graves ( que, veja só, nunca tinha ouvido falar dos Misfits, apenas soube do teste por um amigo e foi lá "pra ver qual era") em clipes sensacionais veiculados à exaustão pela MTV. Na verdade experimentaram um sucesso que nunca haviam tido antes, mas tudo viria abaixo no ano 2000, quando Graves e o baterista Dr. Chud deixaram a banda sem nenhuma explicação aparente. A porca torceu o rabo de vez quando Doyle, o irmão de Jerry, também o abandonou às vésperas da turnê comemorativa dos 25 anos - aqui o motivo parece ter sido uma briga devido a suas aparicções em shows do Danzig tocando clássicos do Misfits. Mas quem tem moral, tem: o baixista remanescente não entregou os pontos e chamou dois ex-membros do Black Flagg, Cadena e Robo, para escudá-lo, e segue fazendo tours mundo afora até hoje. Também gravou e excursionou com Marky Ramone na bateria durante o "project 195o", um álbum de covers de musicas da "década de ouro"do rock and roll. Na tour, que deve ter sido antológica, além das musicas gravadas para o disco, clássicos do repertório de ambas as bandas, Misfits e Ramones.

UMA CURIOSIDADE: Em 27 de fevereiro de 1996 foi lançado um box set contendo quatro CDs com todas as músicas gravadas pela formação clássica do Misfits. Os CDs vinham num caixão e foram feitas poucas unidades. Atualmente esta fora de catálogo. Detalhe: eu tenho este box, comprei baratíssimo numa loja do Rio de Janeiro em 1998, e estou contando isto aqui unica e exclusivamente para te fazer inveja.

OUTRA CURIOSIDADE: Jerry Only é cristão assumido e, aparentemente, praticante. Chegou a ter, inclusive, um projeto gospel com o irmão na época em que o Misfits estava parado, o "Kryst the conqueror".

* A BR 101 está sendo duplicada e isto causa um transtorno imenso, pois além da tradicional dificuldade de trafegar por lá por conta do intenso movimento de veículos de carga, há as obras, que atrapalham, e muito. Mas que valerão a pena, a julgar pelo delicia que é deslizar pelo tapete que já está ponto. A lamentar, apenas, este monumental erro histórico da politica econômica de nosso país, que prioriza o tranporte rodoviário em detrimento do ferroviário, mais econômico e eficiente para paises de dimensões continentais.

** Há o English Dogs, da Inglaterra, que é anterior e já misturava punk rock com Heavy metal, mas aí a discussão vai longe e, infelizmente, ninguém lê textos muito longos na internet.

por Adelvan Kenobi

ocaso.

Fidel Castro deixou, hoje, o último cargo político que ainda ocupava: a direção do Partido Comunista Cubano. Antes tarde do que nunca, largou o osso. Quem sou eu para questionar a legitimidade de uma figura histórica como a de Fidel, mas convenhamos: esta estrutura monolítica stalinista baseada na ditadura do partido único já vai tarde. Mais que o ocaso natural, pela própria passagem do tempo, da figura humana, espero que seja mais um passo dado em direção à democracia. Porque não está escrito nas estrelas que um regime socialista tem que, necessariamente, sufocar a oposição. A oposição é sempre mais do que necessária, em qualquer tipo de governo, para estabelecer o contraditório, arejar as idéias. É evidente que neste mundo comandado pelo dinheiro corre-se sempre o risco, em eleições “livres” (enquanto houver concentração de poder econômico as eleições nunca serão realmente livres), de que uma oposição comprometida, aberta ou veladamente, com os interesses do capital internacional ganhe a disputa na base do poder financeiro, como aconteceu com a revolução sandinista, derrotada em seu primeiro pleito presidencial livre por Violeta Chamorro, candidata abertamente apoiada por Washington. Foi uma pena, mas foi também extremamente louvável a opção dos revoltosos vitoriosos de não optarem pela via do autoritarismo. Até hoje os admiro por isso e seu líder, Daniel Ortega, acabou dando a volta por cima e hoje é presidente da Nicarágua – claro que não é mais o mesmo Daniel Ortega, mas o mundo também não é mais o mesmo. O mundo dá voltas.

As sementes da ditadura do partido único como modelo de regime socialista foram plantadas na manhã de 5 de Janeiro de 1918, quando uma imensa manifestação pacífica a favor de uma assembléia constituinte foi dissolvida à bala por tropas leais ao governo bolchevique, na Russia. A assembléia constituinte, que se reuniu pela primeira vez naquela tarde, foi dissolvida na madrugada do dia seguinte. A idéia de Lenin era a de que os Sovietes, conselhos de operários e demais membros da classe trabalhadora, teriam maior legitimidade no processo revolucionário do que aquela suposta instituição “burguesa”. Com o posterior aparelhamento do estado pelo Partido Comunista, no entanto, os conselhos de operários perderam totalmente sua força e relevancia. O que restou foi a ditadura, pura e simples. Há registros de que o próprio Lenin, mais tarde, chegou a manifestar duvidas sobre se não teria sido um erro estratégico aquela decisão. Tarde demais: os abutres, personificados na figura sinistra de Josef Satalin, estavam à espreita e souberam dar o bote no momento certo.

Sigamos em frente observando os desdobramentos do que acontece na Ilha de Cuba, terra de nossos “gauleses irredutíveis”.

Adelvan

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AFP – Há 3 horas - HAVANA — O líder cubano Fidel Castro confirmou sua renúncia à liderança máxima do Partido Comunista de Cuba (PCC), seu último alto cargo político, ao pedir para ser excluído do Comitê Central, principal órgão da formação, em um artigo publicado nesta terça-feira.

"Raúl sabia que eu não aceitaria na atualidade cargo algum no Partido", afirma Fidel, ao explicar em um texto no portal Cubadebate.cu sua "ausência" no novo Comitê Central do PCC, eleito segunda-feira pelo VI Congresso do PCC.

Fidel Castro, 84 anos, ocupava o cargo de primeiro secretário do Comitê Central do PCC - o principal no regime comunista - desde a criação do partido, o único legal em Cuba, em 1965. Seu irmão Raúl é o segundo na hierarquia e provavelmente será o sucessor.

O dirigente comunista confirmou assim o que havia afirmado em março sobre a renúncia ao comando do PCC. Fidel cedeu a Raúl a liderança em julho de 2006, em consequência de uma grave doença, mas continuos sendo chamado de primeiro secretário.

"Ele sempre foi quem me chamava de Primeiro Secretário e Comandante-em-Chefe, funções que como se sabe deleguei na Proclama divulgada quando fiquei gravemente enfermo", reiterou Fidel.

"Nunca tentei, nem podia fisicamente exercê-las, apesar de ter recuperado consideravelmente a capacidade de analisar e escrever. No entanto, ele nunca deixou de transmitir-me as ideias que projetava", completou.

Fidel destacou ter afirmado ao irmão que não desejava ser incluído na lista de candidatos ao Comitê Central, quando Raúl declarou que seria "muito duro" excluir dirigentes "que pela idade ou saúde não poderiam prestar muitos serviços ao Partido".

"Não hesitei em sugerir que não excluísse estes companheiros de tal honra, e acrescentei que o mais importante era que eu não aparecesse na lista. Penso que recebi muitas honras. Nunca pensei em viver tantos anos".

O líder comunista indicou ainda que votou ao meio-dia de segunda-feira, quando recebeu a cédula. O site Cubadebate.cu publica oito fotos de Fidel no momento.

Fidel Castro afirma ainda no artigo que a parte do discurso do irmão, de 79 anos, na abertura do Congresso sábado, que mais chamou sua atenção foi a proposta de limitar a um máximo de dois mandatos consecutivos de cinco anos o período nos cargos governistas, incluindo os de presidente do país e primeiro-secretário do PCC.

"Me agradou a ideia. É um tema sobre o qual eu meditei muito. Devo confessar que nunca me preocupei realmente com o tempo que estaria exercendo o papel de Presidente dos Conselhos de Estado e de Ministros e Primeiro Secretário do Partido", revela.

Castro, que longe do poder se dedica a ler e escrever sobre a política internacional, chegou ao poder em 1º de janeiro de 1959 com a revolução que derrubou o ditador Fulgencio Batista e desde então concentrou os poderes no governo.

Além da eleição do novo Comitê Central, os 1.000 delegados do O VI Congresso do PCC aprovaram o programa de reformas de abertura proposto pelo presidente Raúl Castro para atualizar o modelo socialista em vigor há meio século, que pretende deixar para trás o esgotado modelo ultracentralizado soviético.

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terça-feira, 12 de abril de 2011

50 Anos hoje

Sempre fui fascinado pela conquista espacial. Não consigo entender como existe ainda tanta gente, jovem inclusive, que despreza seus feitos e, o mais incrível, duvida de sua veracidade. Para mim é como se estas pessoas auto-depreciassem sua própria capacidade de realização como ser humano. Há todo um universo lá fora esperando para ser conhecido, desbravado e, porque não? conquistado! Então porque deveríamos crer que temos que ficar confinados a nosso minúsculo cantinho no cosmo? Um cantinho muito aconchegante, é verdade, somos criaturas sortudas, mas ainda assim um cantinho, um "pálido ponto azul" perdido na periferia de uma galáxia que nem é das maiores. Claro que há uma série de considerações éticas e práticas a serem discutidas e resolvidas, como o fato de termos problemas demais aqui mesmo onde estamos para nos darmos ao luxo de nos lançarmos a uma aventura tão cara, perigosa e incerta, mas isto não deveria ser um fator decisivo para nos condenar à imobilidade. O mundo é dos que se arriscam.

Hoje faz 50 Anos do primeiro vôo tripulado por um ser humano no espaço - mas não esqueçamos da cadelinha Laika, uma mártir involuntária. Laika morreu entre cinco e sete horas depois do lançamento, bem antes do planejado. A causa de sua morte, que só foi revelada décadas depois do voo, foi, provavelmente, uma combinação de estresse sofrido e o superaquecimento, talvez ocasionado por uma falha no sistema de controle térmico da nave (wikipedia). Mas Gagarin sobreviveu e virou, merecidamente, um herói. É um caso raro de "garoto-propaganda" da guerra fria que tornou-se unanimidade mundial. Nunca ouvi ninguém falar mal dele, mesmo o mais ferrenho e vociferante anti-comunista. Isto se deve, em parte, à sua personalidade, simples e gentil, mas mais especificamente a seu feito. Era um homem no espaço, afinal! Um homem, acima de tudo, bem antes de um cidadão da União Soviética - e o mesmo pode ser dito dos astronautas americanos que pousaram na lua.

Gagarin era a face mais visível do programa espacial soviétido, mas o cérebro por trás de tudo era o de Sergei Korolev, projetista e engenheiro ucraniano sem o qual nada daquilo teria sido possível. Não por acaso, os russos começaram a ser passados para trás pelos americanos depois de sua morte. Nada, no entanto, surge do nada: Korolev desenvolveu seu talento a partir da avaliação e restauração dos mísseis V-2 balísticos, pérolas da engenharia militar nazista - nada que denigra o feito dos soviéticos, já que o programa espacial americano também foi construido, em grande parte, com a ajuda de cientistas dissidentes alemães. A partir dali, com disponibilidade de recursos e carta branca para experimentar, Korolev revelou todo o seu gênio e conduziu o desenvolvimento de diversas gerações de satélites lançados por mísseis balísticos e de veículos de lançamento com fins científicos, militares e de comunicação. Ele também desevolveu projetos de exploração interplanetária e equipou as naves espaciais soviéticas - tudo isto mesmo depois de ter sido duramente perseguido pelo governo de seu próprio país durante a ditadura de Josef Stalin. Este é, aliás, um dos grandes mistérios de sua personalidade: como alguém pôde ter sido tão fiel ao regime de seus próprios algozes - talvez não pensasse muito sobre o assunto (política), já que era extremamente concentrado nos estudos científicos. Morreu no auge de sua carreira, em 14 de janeiro de 1966, em decorrência de uma operação cirúrgica mal sucedida para a retirada de pólipos hemorrágicos de seu intestino.

Ambos, Korolev e Gagarin, são fonte infinita de ispiração para todos aqueles que enxergam muito além de um palmo à frente de seu nariz.

E esta é minha pequena homenagem a estas duas grandes e inesquecíveis personalidades.

A.

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Ao contrário de todas as previsões anteriores ao lançamento do primeiro satélite artificial – o Sputnik 1 –, em 4 de outubro de 1957, a conquista do espaço a partir deste acontecimento desenvolveu-se num ritmo inimaginável. Até então a supremacia dos EUA era inquestionável no domínio das tecnologias de ponta. Com objetivo de mostrar que a sua superioridade não era um fato isolado, os soviéticos decidiram lançar, em 3 de novembro de 1957, um segundo satélite - o Sputnik 2 - com uma carga útil espetacular: uma pequena cadela – Laika –, o primeiro ser vivo a girar ao redor da Terra.

Diante das realizações soviéticas, os projetos norte-americanos pareciam ridículos. De fato, o primeiro satélite dos EUA - Pamplemousse -, que deveria ser lançado por um foguete Vanguard, possuía massa de 1,8kg, quantidade insignificante em relação à de 508 kg do Sputnik 2.

Após sucessivos fracassos, o fusólogo alemão Von Braun foi autorizado a transformar o Júpiter-C em um lançador espacial. Em 31 de janeiro de 1958, o primeiro satélite dos EUA – o Explorer-1 -, com massa de 14 kg entrou em órbita, quando foi detectada a existência de um cinturão de radiação ao redor do nosso planeta. Esta foi a primeira mais importante descoberta científica realizada desde o início da era espacial. Só em 17 de março de 1958 um Vanguard conseguiu satelizar Pamplemousse. Dois meses mais tarde, em 15 de maio de 1958, os soviéticos colocaram em órbita o Sputnik 3, com massa de 1.327 kg, do qual 968 kg de instrumentos, um recorde para a época.

Todos os primeiros grandes sucessos espaciais soviéticos ocorreram num dos períodos mais difíceis da Guerra Fria, entre o fim dos anos 50 e início dos 60, quando as duas superpotências se confrontaram no terreno militar (Muro de Berlim, a Guerra da Coreia, a crise dos mísseis de Cuba, etc). Em todo o mundo, os homens – livres ou não – questionavam qual dos dois sistemas sociais e políticos que se contrapunham – de um lado o comunismo, do outro o capitalismo – constituía aquele que deveria prevalecer por sua capacidade científico-tecnológica. Para um público mais seleto, que acumulava uma cultura de séculos, associada às viagens cósmicas e dezenas de anos de ficção científica, não tinha dúvida: a maior potência no mundo seria aquela que soubesse impor-se na conquista do cosmos. Para os leigos as atividades espaciais provocavam um enorme impacto: para os homens, as mulheres e as crianças, o domínio dos céus era até então uma área de adoração divina. Ainda hoje, existem indivíduos que não acreditam que o homem foi à Lua...

Rapidamente, o espaço se transformou no principal palco de uma série de grandes batalhas da Guerra Fria – um combate até certo ponto pacífico – mas que provocou uma intensa mobilização econômico-tecno-científica jamais vista. A corrida ao espaço é desde 1957 a prioridade das prioridades para as duas superpotências. Na primeira etapa, a preocupação era a colocação em órbita de satélites ao redor da Terra. Na segunda, o envio de sondas automáticas em direção à Lua e aos planetas Marte e Vênus. A terceira etapa – a mais importante e audaciosa – era colocar um homem no espaço.

Sob o ponto de vista técnico, o desafio era enorme. O ambiente espacial não é próprio à vida humana: além do vazio quase absoluto, as radiações perigosas, as temperaturas, os meteoros etc constituíam uma ameaça permanente a ser controlada. Aliás, desde 1957, ou seja, alguns meses somente após a satelização do primeiro Sputnik, quando a astronáutica ainda dava os seus primeiros passos, os americanos e os soviéticos começaram a sonhar com os voos espaciais tripulados.

Finalmente, em 12 de abril de 1961, às 9h7, hora local, Gagárin foi lançado ao espaço na nave Vostok 1, do cosmódromo Tyuratam-Baikonur. Após uma viagem de uma hora e 48 minutos, aterrissou na aldeia de Smelovka, em Saratskaia. Sua espaçonave descreveu uma órbita com perigeu (ponto mais próximo da Terra) de 181 km e apogeu (ponto mais afastado da Terra) de 327 km, em 89 minutos. Gagárin permaneceu sentado no interior da cápsula esférica que o transportou no espaço até a aterrissagem. Como a nave era totalmente automatizada, o papel do herói do primeiro voo orbital “tripulado” foi de um mero espectador. Ao contrário do que ocorreu nos cinco voos subsequentes, quando um assento ejetor foi usado a 7 mil metros de altitude, presumivelmente para evitar o violento impacto com o solo, permitindo aos cosmonautas descerem suavemente de paraquedas.

A nave com Gagárin desceu, às 10h55, hora local, próximo à cidade de Smelovka, a 23 km de Saratov. Logo depois que a cápsula recuperável atingiu o solo, os cintos de segurança se romperam automaticamente. Gagárin abriu a escotilha e saiu do veículo diante do olhar espantado de uma velha camponesa e de sua filha Rita, que indagou: "Você veio do céu, por acaso?". "Imagine você que sim" - respondeu Gagárin, que logo em seguida foi levado por um grupo de soldados que, mais tarde, instalaram um posto de guarda junto à cápsula. Pouco depois, um helicóptero M14, do grupo de recuperação, pousou nas vizinhanças.

O comissário esportivo – Ivan Borissenko - registrou os primeiros recordes, segundo as regras a Federação Aeronáutica Internacional: recorde de altura: 327 km; de tempo: 108 minutos; de peso do veículo cósmico: 4.725 kg. Logo em seguida, o helicóptero conduziu Gagárin ao aeroporto mais próximo, de onde telefonou para os dirigentes soviéticos. Por volta das 4 horas da tarde, um avião Illiuchin – 14 aterrissou no aeroporto de Kuibychev. Gagárin foi o primeiro a descer do avião.

O enviado especial do Pravda entrevistou-o: "Como é o céu, lá de cima?" "Escuro, camarada, muito escuro", respondeu. " E a Terra, como a viu?" "Ela é azul. Quando sobrevoava a América do Sul e a África, vi a costa e os grandes lagos. É uma paisagem admirável."

Dois dias depois de sua aterrissagem, Gagárin foi recebido no Kremlin como herói nacional. Sua fama transformou-o num embaixador da alta tecnologia e da coragem soviéticas. Com esse objetivo viajou ao redor do mundo tendo sido recebido nas principais cidades como um herói da humanidade. Depois de passar por Cuba, Gagárin esteve no Brasil, aonde chegou no dia 29 de julho de 1961. Após visitar Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília voltou em 5 de agosto. Na cidade do Rio de Janeiro foi recebido, na Casa da Gávea Pequena, então propriedade do banqueiro Drault Ernanny, por um grupo de cientistas e intelectuais, dentre eles Leite Lopes, Álvaro Alberto, Osório Meirelles, Luiz Muniz Barreto e o autor deste artigo. Ao chegar a Brasília, foi recepcionado por Jânio Quadros, que o condecorou com a Medalha do Cruzeiro do Sul. Depois de contemplar a cidade construída por Oscar Niemeyer, o cosmonauta comentou: “A impressão que tenho é a de estar chegando a um planeta diferente.”

Ainda em Brasília, a mensagem do chefe de governo Nikita Kruchev ao presidente brasileiro entregue por Gagárin foi o primeiro passo para o restabelecimento de relações diplomáticas entre as duas nações, o que iria acontecer em dezembro de 1961.

O primeiro astronauta, Yúri Alekseevitch Gagárin, nasceu em 9 de março de 1934, na aldeia de Kluchino, na parte ocidental da Rússia. Seu pai -- Aleksei Gagárin -- era carpinteiro e a mãe -- ordenhadeira. Após a II Guerra Mundial, a família de Gagárin transferiu-se para a cidade de Gjatsk, atual Gagarin, em homenagem a seu mais ilustre habitante. Uma vez concluídos os estudos na escola secundária, Yúri ingressou numa escola técnica de fundidores. Sua grande paixão pela técnica, bem como pelo esporte, muito influenciou seu destino, em particular na escolha da profissão. Após ter sido aprovado no concurso de admissão, matriculou-se na Escola Técnico-Profissional de Sarátov, onde foi dedicado aluno de matemática e física, duas de suas matérias favoritas. Uma de suas dissertações seria dedicada ao pioneiro da cosmonáutica soviética, o mestre-escola Konstantin Tsiolkóvski, cujas obras, como confessou mais tarde, transformaram sua visão do mundo.

Enquanto preparava sua tese de fim de curso, Yúri aprendeu a pilotar avião no aeroclube local, durante a noite. Estava dado o grande passo que o conduziria à Escola de Aviação de Orenburgo. Nesta escola encontrou Valentina, com quem se casou e de quem teria mais tarde dois filhos. Ao concluir o curso de aviador, foi-lhe proposto o emprego de piloto-instrutor. Não aceitou, preferindo ir voar, em condições meteorológicas mais adversas, no norte da Rússia. Tornou-se assim um perito em voo. Ao atingir a idade de 26 anos e após passar no exame médico, Yúri entrou para o grupo dos dez primeiros cosmonautas soviéticos. Depois de um ano de estudos e treinamentos foi escolhido para ser colocado em órbita ao redor da Terra. Durante um voo de treinamento, num Mig-15 de dois lugares, versão de treinamento do primeiro caça a jato da força aérea soviética, os cosmonautas Yúri Gagárin e Vladimir Seriogin foram obrigados a proceder a uma brusca manobra para evitar uma colisão com dois outros aviões, um Mig 21 e outro Mig 15, que se aproximavam perigosamente do jato de Gagárin. Depois de entrar em parafuso, girando fora de controle, o avião de Gagárin caiu num ponto a nordeste de Moscou. Assim, desapareceu, a 27 de março de 1968, o primeiro homem a realizar uma volta completa ao redor da Terra num satélite artificial.

Até o início de 1988 haviam sido sugeridas diversas hipóteses para explicar o acidente. Uma primeira investigação inclinou-se por uma sabotagem a bomba ou por envenenamento dos dois pilotos. Uma segunda sugeriu que Gagárin e Seriogin haviam perdido o controle do pequeno caça depois de uma colisão com um pássaro ou um balão meteorológico. Finalmente, em janeiro de 1988, depois de uma reinvestigação do caso, ficou evidente que o acidente foi provocado por um erro da torre de controle de voo e de tráfego aéreo, ao permitir que dois outros aviões penetrassem na mesma região em que o Mig 15 de Gagárin estava realizando um voo de treinamento.

A admiração de milhões de pessoas não lhe alterou a personalidade, e Gagárin conservou as melhores qualidades de caráter: sinceridade, coragem, perseverança. Deixou uma das mais célebre frases, que a humanidade já ouviu: "A Terra é azul".

O sucesso de Gagárin deu à astronáutica a dimensão humana e tornou realidade um velho sonho dos homens que idealizavam um dia viajar pelo espaço. O impacto provocado por Gagárin só seria comparável à descida dos norte-americanos Neil Armstrong e Edwin Aldrin na Lua, em 20 de julho de 1969.

Na realidade, apesar de Gagárin ser considerado um herói, o grande mérito da missão coube ao engenheiro de voo espacial Serguei Pavlovith Korolev (1927-1966) – o pai do programa espacial soviético – que concebeu, comandou e acompanhou pessoalmente todo o desenvolvimento do projeto Vostok 1, veículo que transportou Gagárin. Aliás, somente após a morte a identidade de Korolev foi revelada ao grande público. Em 1937, foi prisioneiro por quase seis anos no auge do regime de repressão de Stalin, que o soltou, em 1942, ao compreender que iria precisar do seu talento para projetar e construir mísseis durante a II Guerra Mundial.

As contribuições de Korolev à astronáutica são incríveis. Seu nome está associado às principais missões da era espacial: o primeiro satélite artificial da Terra (1957); as primeiras fotografias da fase oculta da Lua (Lunik III, 1959); o primeiro veículo espacial habitado: Yúri Gagárin (1961); a primeira mulher cosmonauta, Valentina Terechkova (1963); a primeira saída de um homem no espaço: Aleksei Leonov (1965); o primeiro impacto de uma sonda em outro planeta: Vênus (1966) e a primeira alunissagem de uma sonda (Lunik IX, 1966).

Na realidade, não é importante saber quem ganhou a corrida espacial, mas procurar compreender as razões dos fracassos iniciais dos norte-americanos assim como as origens das dificuldades do programa lunar tripulado soviético que, aliás, teve início logo após o falecimento de Korolev, em 1966, por uma imperícia médica.

por Ronaldo Rogério de Freitas Mourão

para o Jornal do Brasil

domingo, 10 de abril de 2011

Abutres em Realengo

          Os Abutres têm fome, e é um apetite insaciável. Não respeitam a dignidade humana nem a dor de mães que acabaram de perder seus filhos da forma mais cruel e sem sentido. Dizem agir com uma missão, a princípio, justa e legítima: levar a informação ao cidadão. Mas numa sociedade regida pela “mão invisível” do mercado (termo fora de moda, mas como não sigo modas, continuo usando), o que se leva é um produto/mercadoria (a notícia) ao consumidor (o público pagante que consome os jornais, seja de forma direta, ao comprar as edições impressas nas bancas, ou indireta, ao bancar a audiência que atrai anunciantes nas emissoras de rádio e televisão abertas).

          Foi de uma coincidência macabra que um dos fatos mais violentos e aterrorizantes da História recente do Brasil, já tão cheia de fatos violentos e aterrorizantes, tenha acontecido justamente no Dia do jornalista, 7 de abril de 2011. No entanto me recuso a afirmar, como alguns fizeram, que o ocorrido tenha servido para “separar o joio do trigo”, porque algo tão ultrajante e sem sentido não pode servir para absolutamente nada, a não ser para mostrar mais uma vez que, em busca do “furo” jornalístico, os abutres não hesitam em voltar a se amontoar sem piedade em torno da desgraça alheia para produzir sandices como a de que o maluco atirador era um suposto “terrorista muçulmano”. Uma vez descoberta a carta do suicida, com referências a Jesus Cristo, no entanto, ninguém passou a chamá-lo de “terrorista cristão”. Calaram-se - ou melhor, limitaram-se a continuar expondo pornograficamente imagens da tragédia e o sofrimento das famílias, acompanhados dos indefectíveis diagnósticos psiquiátricos forenses também repletos de suposições.
          Em meio ao oba-oba sensacionalista, salva-se a quase falta de cobertura feita pela revista Carta Capital desta semana, que não deu chamada de capa nem repercutiu nenhuma teoria mirabolante. Apenas lamentou profundamente o ocorrido, tanto o fato em si quanto o tratatamento dado ao mesmo pela chamada “grande mídia” – e mencionou, muito apropriadamente, o clássico “A Montanha dos sete abutres”, genial filme de Billy Wilder lançado em 1951 e com tema, desgraçadamente, ainda atual.
          A exibição deste filme deveria ser obrigatória em cursos de jornalismo. Seria também de bom gosto exibi-lo na televisão aberta pelo menos no dia dia dedicado ao profissional da notícia, mas aí é pedir demais nestes tempos regidos pela ganância: trata-se de um filme esquecido, porque foi um fracasso de público, além de ser em preto e branco. Fracassou com o público, muito provavelmente, porque as pessoas devem ter se sentido incomodadas ao verem-se retratadas como consumidores de carniça. Outro motivo pode ter sido a má repercussão na imprensa da época, que também não deve ter gostado de se ver na tela como fornecedora de tão questionável mercadoria.
          Trata-se, no entanto, de uma verdadeira pérola do cinema norteamericano, apontado por muitos como o melhor filme feito pelo diretor Billy Wilder. Conta a história de um jornalista desempregado por má conduta nos grandes centros que busca refúgio numa pequena publicação provinciana em Albuquerque, Novo México. É um refugio temporário, como ele deixa bem claro, e a chance de se catapultar de volta aos holofotes acontece quando, a caminho do registro de mais uma reportagem banal, se depara com um homem soterrado num buraco em velhas ruínas indígenas, justamente na Montanha dos Sete Abutres que dá título ao filme em português – até mais adequado que o original, "ace in the hole".
          Para valorizar o material que tem em mãos, Charles 'Chuck' Tatum, o tal jornalista (interpretado por Kirk Douglas), usa de todos os artifícios, como convencer a empresa responsável pelo resgate a usar um método mais demorado, dando tempo para que a notícia se espalhe pelo país, e a Lorraine, a mulher de Leo, a vítima, a se fazer passar por uma esposa arrasada, quando na verdade ela estava prestes abandonar o marido nesse trágico momento. Tatum a faz notar que ela pode ganhar um bom dinheiro em sua lanchonete quando as pessoas começarem a chegar para ver o que está ocorrendo. Tudo em nome do que ele teria aprendido não na faculdade, mas nas ruas, como entregador de jornal: a notícia que interessa é a notícia que vende, não importa se verdadeira, manipulada ou, simplesmente, inventada.
          O final é redentor, "pero no mucho". Ao se ver confrontado com um desfecho trágico, fruto de suas manipulações inconsequentes, Tatum questiona seus métodos de trabalho - um pouco tarde demais para ele mesmo, mas melhor não entrar em detalhes para não estragar a surpresa. Já os outros jornalistas presentes lamentam apenas o fato de que suas articulações tenham lhe dado acesso privilegiado às fontes. Todos voltam pra casa e, como podemos ver claramente ao nosso redor (tenho aqui em minha mesa uma edição do jornal Cinform com mais uma foto de um cadáver na primeira página), tudo volta a ser como antes "no quartel de abrantes".
Assista.

A.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

que Iron Maiden que nada ...

Agora sim: o Slayer vai tocar em junho no Brasil! Dia 09, no Via Funchal, em São paulo. Há algum tempo fiz uma análise mental de quais as bandas/artistas em atividade que eu pretendo ver de qualquer jeito, antes de morrer. Cheguei a três nomes: Morrissey, Kraftwerk e Slayer (é, eu SOU eclético). O Kraftwerk já tá morgando, da última vez em que estiveram aqui só restava 1 membro original (pensar que muita gente foi só pra ver Radiohead e ficou impaciente em ter que vê-los também). Morrissey é um cara complicado, e anda se incomdando até com uma inocente garrafinha de plástico vazia jogada no palco por um mané qualquer do público. Mas o Slayer taí, vivo e ativo, e com a formação original !

Eu vou nessa porra !!!!

A.


terça-feira, 5 de abril de 2011

FUI !

A esta altura do campeonato descrever, pura e simplesmente, um show do Iron maiden é mais do que chover no molhado: é fazer cair uma tempestade num lugar já inundado. Mas não poderia deixar de registrar esta minha experiência pessoal, minha “ida a Meca”, “roquisticamente” falando. Porque eu, assim como a maioria dos apreciadores do rock “pauleira” de minha geração, cheguei a este universo através desta banda, atraído pelas irresistíveis, para os moleques adolescentes, capas com o mascote Eddie estampado. Perdi o show de 2009 (não podia ir aos 2, escolhi o Motorhead), portanto não poderia, sob hipótese alguma, perder esta segunda (e ainda mais inusitada) chance de ver finalmente, ao vivo, uma das bandas que mudaram a minha vida.

Antes de mais nada quero registrar que, na parte que me toca, a produção está de parabéns: Foi tudo muito tranqüilo, limpo e organizado, da compra dos ingressos no Shopping Center Recife ao acesso ao “Front stage”. Tudo bem sinalizado e sem estresse, como a vida deveria ser. Cheguei, infelizmente (ou não, não sei) já no finalzinho do show da banda de abertura, que estava tocando um cover do Metallica, pelo que eu ouvia do lado de fora. Posicionei-me a uns 20 metros do palco e de lá não arredei pé até o início da apresentação, que começou pontualmente às 20:00H, como combinado, ao som de “doctor doctor”, do UFO (antes já havia identificado uma do The Cult e “Machine Head”, do Deep Purple, saindo dos auto-falantes). No telão começam a ser exibidas imagens editadas do clipe de The Final Frontier com “Sattelite 15”, a introdução do último disco, rolando ao fundo. Terminada e exibição, a esperada explosão de luzes acompanhada da catarse do público com a banda executando “The Final Frontier” a todo vapor. Caiu a ficha e algumas lágrimas me vieram aos olhos: eu estava, realmente, num show do Iron Maiden. O adolescente “metaleiro” que ainda existe dentro de mim, provavelmente à espreita habitando meu subconsciente, agradecia.

“Eldorado”, o single, veio a seguir. Bom pique até aqui. Foi aí que aconteceu aquele que foi, provavelmente, o único evento inesperado de toda a noite: um cidadão consegue invadir o palco, se posta ao lado de Steve Harris e posiciona o celular para uma foto ! Steve não se abala e ainda faz uma careta simpática para o flash antes que o indivíduo seja retirado aos solavancos por um segurança. Uma façanha e tanto. Parabéns para o rapaz – espero que não tenha sido agredido nos bastidores nem que tenham apagado o registro de seu feito histórico.

A terceira música da noite foi também a primeira “clássica”, dos primórdios: “two minutes to midnight”, que eu cantarolo compulsivamente toda vez que olho no relógio e os ponteiros estão rodeando o 12 há uns bons 20 e tantos anos. Desnecessário dizer que a “coroada” (haviam muitos) foi ao delírio. A partir dali começaram as “progressivices” que a mim, particularmente, não agradam – até porque não conheço. Nada que me fizesse nem por um segundo me arrepender de estar ali depois de uma longa jornada de suor(calor da porra!), lágrimas e alguns bons reais derramados pelo caminho, mas a turnê ideal, para mim, teria sido a de 2009, onde tocaram “só crássicos”. Isso porque, admito sem a menor vergonha, o último disco do Iron maiden que eu comprei no lançamento e ouvi de cabo a rabo até decorar cada acorde foi o “seventh son of a seventh son”, de 1988 ! E olha que já não tinha curtido tanto – não gosto de álbuns conceituais pois, a meu ver, as músicas costumam ficar engessadas para que possam contar a “historinha”. Há nele, no entanto, alguns excelentes momentos e, felizmente, foi um destes o escolhido para representá-lo na noite: “The evil that man do”. Grande som.

Mas como eu estava dizendo, haviam começados as “progressivices”: “The Talisman”, do disco novo. Enorme, verborrágica e com um refrão que não “pega”. Mas vale o registro do ótimo trabalho do geralmente desvalorizado (e não é pra menos, quem mandou entrar numa banda que tem Adrian Smith e Dave Murray na formação?) Janick Gears ao violão, na introdução. Emendam com “coming home”, outra que eu desconheço. Aproveito para apreciar mais detalhadamente o cenário, excelente, num clima futurista/retrô aparentemente inspirado na Ficção Científica dos anos 50 – o design dos dois “foguetes” postados dos dois lados do palco não me deixam mentir. Além disso, os panos de fundo iam se revezando a cada música, ora com imagens ilustrativas deslumbrantes, ora com um cenário cósmico vazado salpicado de luzes representando estrelas. Conjugados com os telões de excelente definição que ficavam nas laterais do palco, formavam uma excelente combinação de tecnologia com apego à tradição.

Uma bela imagem da morte estendendo a mão para a platéia emoldura a música seguinte, “Dance of death”, faixa-título do álbum de 2003. Meus amigos de viagem, bem mais jovens (eles têm 20, eu 40), gostam muito, mas eu achei chatinha - uma questão de gosto pessoal, provavelmente, já que eles curtem muito mais metal do que eu, pelo que constatei pela viagem regada a Primal Fear, Gamma Ray e Ronnie James Dio. Nunca ouvi absolutamente nada deste disco, “dance of death”, que tem, a meu ver, a pior capa da discografia do Iron Maiden. Mas aí veio “The Trooper” e caralho, puta que pariu ! Sensacional ver finalmente, ao vivo, a clássica imagem de Bruce Dickinson agitando uma bandeira esfarrapada do Reino Unido ao som deste verdadeiro Hino do Heavy Metal. Um grande momento, intenso, sem rodeios. Comparada ao que veio antes, é uma musica minúscula, simples e direta, e é assim que eu gosto.

Sim, senhoras e senhores: eu NÃO SOU um headbanger, mas não me senti, em nenhum momento, um estranho no ninho em meio àquela horda de fanáticos barbados e suados que me rodeava. Só senti falta de uma maior presença feminina para perfumar o ambiente, mas isso são ossos do ofício. “The wicker man”, do Brave new world (2000), veio a seguir e também é muito boa. Tem um excelente refrão “grudento” (your time Will come) e a letra faz referência a um clássico filme britânico dos anos 70 estrelado por Christopher Lee que eu recomendo muito – mas cuidado para não pegar, por engano, a desnecessária refilmagem hollywoodiana que tem Nicholas Cage. A música seguinte, “Blood brothers”, que também é do mesmo disco, foi dedicada por Bruce aos fãs do Japão e de lugares inusitados onde eles também têm fãs, como Irã, Egito, Síria e Libia. Lugares onde, ainda segundo o vocalista, coisas horríveis estão acontecendo naquele exato momento, o que nos deve fazer pensar, a nós, brasileiros, como é bom ter nascido e poder viver neste país sem guerras civis (há controvérsias), terremotos e outras catástrofes naturais. Foi efusivamente aplaudido.

“When the wild wind blows”, a última do novo disco, não me empolgou. Na verdade não ouvi o disco inteiro, já que os caras são osso duro de roer com a pirataria e não consegui encontrar links para download funcionando. No entanto, apesar de, com já disse, ter sido preferível para mim poder ter ido no show “retrospectivo” da tour anterior, também é legal estar num show, digamos, “normal”, da banda, divulgando um novo disco. Nos faz sentir mais “parte do circuito”, integrados a este grande circo do rock and roll mainstrean, coisa que nós, moradores de rincões mais isolados do mundo, estamos acostumados a acompanhar apenas pela imprensa. Este é um grande mérito do Iron Maiden: audaciosamente ir onde nenhuma outra banda de grande porte jamais esteve. O próximo passo, eles dizem, é a China.

Depois de “The Evil that men do” veio outra apoteose: “Fear of the dark”, provavelmente o último grande hit da banda, do disco de 1992. Finalizando a primeira parte do set, “Iron Maiden”, a música, e a entrada do mascote Eddie, desta vez numa versão ainda mais rebuscada, uma mistura de zumbi com andróide futurista com ótimos movimentos mecânicos. Não por acaso, o boneco foi projetado pelo filho de Ray Harryhausen, que fez o primeiro “Furia dos Titãs” e animações clássicas para Hollywood nos anos 50 e 60.

Intervalo, volta, "The Number of the Beast" (que tem um clima “tenebroso” ótimo, lembra “Black Sabbath”, do Sabbath), "Hallowed Be thy Name" (cantada a plenos pulmões, inclusive por mim) e "Running Free", onde Bruce aproveita para apresentar, de forma bem humorada, os integrantes. Fim de festa. Depois de um longo silêncio no palco, eis que somos brindados com a excelente musiquinha de encerramento do clássico “A Vida de Brian”, do Monty Python. Melhor despedida, impossível.

O primeiro disco de Heavy metal que eu ouvi em minha vida, ainda nos anos 80, foi “somewhere in time”, então o último lançamento da maior banda do estilo no mundo. Mas meu maior deslumbramento veio mesmo quando eu tirei o lacre de “Live after death”, abri a capa dupla e me deparei com aquelas sensacionais fotos da “World slavery tour”, a turnê de divulgação do LP “powerslave”. Não comecei a acalentar a possibilidade de estar, um dia, pessoalmente num show do Iron Maiden porque esta era, para a época e para a cidade em que eu vivia (Itabaiana, Sergipe), uma coisa muito remota para se pensar. Na minha cabeça ficaria, para sempre, no mundo dos sonhos. Ainda bem que o mundo dá voltas – e o Iron Maiden acompanha estas voltas, a bordo do “Ed Force One”.

por Adelvan k.

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