Um 2010 (A)bundante de coisas boas para todos.
quarta-feira, 30 de dezembro de 2009
"Eu quero o cheiro das manhãs da minha terra" ...
"Depois de 9 anos na Europa, aprendi sobretudo a dar valor ao que eu desprezava, às pequenas coisas da vida, às raízes locais, e senti crescer um mim um certo pendor provinciano, embora seja um provincianismo distinto de sua acepção tradicional."
Pra mim é bem curioso o caso de Juliano Mattos, um cara que foi morar na Europa e vive com saudades de Aracaju. Curioso porque convivo dia-a-dia com pessoas que morrem de vontade de sair de Aracaju. "o sentimento mais provinciano que existe é o desejo de sair da provîncia", já disse um poeta cujo nome me escapa ...
Mais Juliano Mattos em http://errocrasso19.blogspot.com
----------------
Há 10 Anos ...
por Juliano Mattos
Quando o ponteiro do relógio saltar das 23:59 do dia 31 de Dezembro de 2009 para as 00:00 do dia 1 de Janeiro de 2010, estarão completando 10 anos do começo do ano mais incrível e surreal da minha vida.
Há 10 anos, tudo mudava. Deixei de seguir o caminho dos outros e passei a seguir o meu. Desviei-me, completamente, do mundinho do Bê a Bá das gentes normais e mergulhei no desconhecido. Um mergulho de corpo e alma, sem pestanejar, sem olhar para trás, numa busca voraz na esperança de encontrar refúgio nalgo distinto do mundo em que vivera. A minha sede era tanta, que o Rock que eu havia começado a acompanhar a partir de 1998 não me satisfazia, parecia um deserto de mais do mesmo, reprodutor que era do recheio da sociedade contra a qual eu declarava guerra. Mas foi no meio desse deserto que encontrei um oásis: o Punk.
A rebeldia insaciável do Punk condizia com o meu estado de espírito, e foi dele que me revesti para afrontar a tudo e todos, para cuspir naquilo que acompanhava a minha vida desde sempre como sendo coisas intrínsecas à existência.
Certamente os psicólogos diriam que foi resultado de uma infância difícil no seio de uma família desmembrada e nômade, da sujeição a um estilo de vida desregrado e errante que caracterizou-se por não possuir raízes devido a inúmeras mudanças de casa, de bairro, de cidade, de estado e até de país.
Que seja! O certo é que por mais difícil que possa ser enveredar por caminhos paralelos ao que se está estabelecido, não há nada pior e mais deprimente do que a futilidade e a mediocridade de toda a normalidade. No ano 2000 finalmente descobri que odiava profundamente tudo o que era normal, tudo o que caracterizava (e caracteriza) por excelência a sociedade na qual vivia. E quando descobri que existia possibilidade de seguir um rumo diferente, quando conheci rumos diferentes, não pestanejei, não fiz qualquer ponderação e mergulhei no oásis de corpo e sobretudo de alma.
No ano 2000 aconteceram mais coisas na minha vida do que em todos os anos anteriores juntos. Ao entrar prá valer na cena Punk de Aracaju, o meu mundo transformou-se, as minhas perspectivas posicionaram-se para um novo horizonte que me oferecia um leque de novidades absolutamente avassalador. Até então eu era um mero apreciador de Rock, sem grandes pretensões quanto ao papel transformador da música. Mas bastou ir ao primeiro show da minha vida, na ATPN em Aracaju, para sentir a transformação me consumir as entranhas. O ambiente era mágico, lavava-me a alma e dotava-me de energia para afrontar a sociedade e buscar a afirmação da minha personalidade.
Entre 2000 e 2001 foram dezenas de shows, praticamente não havia semana em branco. Em 1 ano apenas, conheci mais pessoas do que todas aquelas que conhecera até então, fiz as amizades mais marcantes e sinceras da minha vida - algumas delas ainda hoje perduram graças ao advento da internet -, arranjei um trabalho escravo para ganhar 50 reais por mês somente para poder ir a todos os shows e para alugar discos de Punk na locadora CD Club, formei bandas de garagem que nunca dela saíram, mas que representaram momentos inesquecíveis de pura pujança juvenil. Tomei os meus primeiros porres de verdade, arranjei as minhas primeiras namoradas, abandonei o futebol para andar de skate, sobretudo depois da perda do meu saudoso avô, grande companheiro de jornadas futebolísticas. Abandonei a escola em nome da rebeldia, deixei o cabelo crescer, levantei moicano, rasguei as roupas, conheci as fanzines, entrei verdadeiramente no underground e comecei a pensar pela própria cabeça. Troquei os vícios e costumes banais e corriqueiros pela Freedom, pela Little Music Underground, pela ATPN e pelo Rock na esquina com os amigos, troquei a televisão pela vida real, comecei a tocar guitarra, abracei o vegetarianismo para não mais o largar, afirmei o meu ateísmo até então auto-reprimido, dinamitei toda e qualquer moralidade religiosa e conservadora, questionei a autoridade, conheci Bakunin e abri-me para o mundo em detrimento do provincianismo limitador.
Todas as estruturas da minha vida foram abaladas. O Punk tornara-se na minha tectônica. O ano 2000 representou a minha orogenia hercínica pessoal, numa analogia geográfica (mais geológica) com o fenômeno responsável pelo período mais ativo da dinâmica da Terra, durante o qual as massas continentais dispersas se uniram numa só (Pangea) e cadeias montanhosas foram erguidas.
Isso tudo resultou numa nova personalidade que me remetia ao experimento. Eu mergulhava profundamente em tudo aquilo que me atraía, algumas vezes sem conseguir suportar o peso das consequências, mas em geral sempre desvendando novos horizontes, sempre buscando aventuras como se fosse o meu último ano de vida. E foi, de certa forma.
Em Março de 2001, após mais de 1 ano em suspenso, finalmente chega a hora da partida para Portugal. Era a interrupção de uma festa em seu apogeu. Após quase 14 anos, sou arrancado de Aracaju como as raízes de uma árvore são arrancadas da terra. As amizades são cortadas, os sonhos desfeitos, todo esse novo mundo se desfazia em seu auge, quando eu vivia aquele que foi o momento mais feliz, satisfatório, surreal e enriquecedor da minha vida. Essa mudança de cidade, de país, de continente, representou também o fim da minha adolescência e me obrigou a ser adulto. 10 anos depois dessa epopeia começar, ainda não vivi nada semelhante. Aquele ano foi tão surreal que os meus flashbacks de costume o remetem à ilusão, ao mito, ao épico, à fantasia. Ele aconteceu, mas não parece, sobretudo quando faço um apanhado em ordem cronológica dos meus 27 anos. O ano 2000 foi um marco, e sempre tenho a sensação de que ele durou tanto quanto todos os outros 26 anos juntos. Se um dia eu escrever uma biografia, o ano 2000 deverá ter não só um capítulo dedicado a ele, mas um volume inteiro.
10 anos depois, boa parte daquela energia, daquela vontade de desvendar, daquele impulso incontrolável, foi desfeita pelas desilusões e pelo desgaste psicológico de viver contrariado. Nunca aceitei a minha vinda para a Europa, e quanto mais penso nisso, mais vontade tenho de regressar a um período onde tudo era magia.
Depois de 9 anos na Europa, aprendi sobretudo a dar valor ao que eu desprezava, às pequenas coisas da vida, às raízes locais, e senti crescer um mim um certo pendor provinciano, embora seja um provincianismo distinto de sua acepção tradicional.
Depois de percorrer a Europa, conhecer gente de todos os países, aprender a falar outras línguas, crescer culturalmente e aprofundar-me no underground europeu, cheguei a um ponto em que nada mais pode ser novidade, nada mais me toca e me empolga, nada mais me suscita tanto interesse e vontade incontrolável. Desde 2001 que a tendência é decrescente, não apenas porque no ano 2000 eu ainda não havia me "desvirginado" culturalmente, mas sobretudo porque a Europa não é o meu habitat e eu, alóctone desde sempre, nunca tive o dom da adaptação, tão só do improviso temporal.
A minha incessante busca pelo resgatar da epopeia é o meu revivalismo, a minha utopia pessoal. Há 10 anos a minha alma adentrava no dito oásis para nunca mais sair. Desde então, vivo sem ela. Porque eu vim para a Europa e ela ficou em Aracaju, que por ter sido a cidade dos meus sonhos, hoje é a cidade dos meus pesadelos.
segunda-feira, 28 de dezembro de 2009
Há 10 Anos ...
O que você estava fazendo na noite do dia 31 de dezembro de 1999 ? Uma data "cabalística". Passei minha infância inteira ouvindo falar que o mundo iria acabar no ano 2000. "Dos mil passarás, dos dois mil não", decretavam todos solenemente ao proferir essa profecia que, segundo eles, constava da Bíblia. Pois bem, chegou a data fatídica e fora o tal "bug do milênio" (que por sinal se revelou também uma farsa) nada de muito retumbantemente apocalíptico parecia se desenhar no horizonte. Para espantar o tédio, resolvi que alguma coisa precisava acontecer naquela noite. Convoquei alguns amigos, digamos, pouco sociáveis, com a recomendação para que chamassem seus outros amigos também pouco sociáveis para uma pequena comemoração em meu apartamento. Para sinalizar o local do evento, repaginei o pisca-písca de minha mãe na forma de um pentagrama e voilá ... Uma noite inesquecivel, em todos os sentidos (bons e ruins), que infelizmente não teve registro nem em video nem em fotos. Restou apenas o hilário relatorio que foi feito pelo síndico da época e posteriormente publicado no fanzine BODEGA, do Rio de janeiro. Em minhas memórias restam também algumas lembranças, mas as criaturas envolvidas podem não curtir ter suas aventuras relatadas publicamente em um blog da internet, então fica por conta de sua imaginação ...
Clique na imagem para ampliar.
Clique na imagem para ampliar.
terça-feira, 22 de dezembro de 2009
segunda-feira, 21 de dezembro de 2009
quarta-feira, 16 de dezembro de 2009
Knights do mal ...
Clostridium perfringens é o nome da bactéria causadora da gangrena gasosa, uma infecção que produz gás entre os tecidos do corpo. Geralmente ocorre em áreas traumatizadas e feridas cirúrgicas, evolui rápido e é caso grave. Se não for tratada a tempo, o enfermo entra em estado de hipotensão, insuficiência renal, choque, coma e, por fim, óbito.
Ronaldo de Souza Lima é o nome do ‘Chorão 3’, um dos vocalistas da Gangrena Gasosa, banda que comemora 20 anos c/ o 4º disco: SE DEUS É 10, SATANÁS É 666, prestes a ser lançado pela gravadora Freemind. O grupo surgiu nos anos ’90 em meio a uma onda do rock nacional em que novas bandas eram associadas a um determinado ritmo ou movimento: Chico Science liderava o manguebeat, os Raimundos vinham c/ o forró-core, e o Planet Hemp cantava a maconha. A Gangrena falava de macumba, e sua música foi batizada como 'SARAVÁ METAL'. Lançaram seu 1º disco em 1994, Welcome to Terreiro, ainda na época do vinil, pelo selo Rock It!, do ex-Legião Dado Villa-Lobos. Participaram de 2 coletâneas emblemáticas, No Major Babes, do jornalista Marcel Plasse, e Traidô!! - Tributo ao Ratos de Porão, produzido pelo Phú, da banda de HC de Brasília DFC [Distrito Federal Caos].
Em 2000 saiu Smells Like a Tenda Spirita, pelo selo Tamborete do amigo Leonardo Panço, e em 06 de junho de 2006 foi a vez do EP independente 6/6/6. Nascida sob o signo de Satã [ou do Exú, como preferirem], a Gangrena Gasosa passou por várias fases e formações, c/ algumas baixas resultantes da energia pesada c/ que a banda trabalha – o vocalista Paulão, ex-Seletores de Freqüência e atualmente em carreira solo, deixou o grupo depois de sofrer um atentado nas mãos de devotos fundamentalistas do Candomblé: “Isso é p/ aprender a não brincar c/ coisa séria”, teria dito um deles após aplicar-lhe algumas facadas [REZA A LENDA, pois Chorão não gosta de comentar o episódio].
“Metaleiro, gótico que anda de preto em cemitério, nego dá conselho: ‘Larga disso meu filho, fica direitinho’... Mas ninguém vê um adolescente entrar no mundo da macumba achando que isso é uma fase que vai passar quando crescer. Macumba é coisa mais séria, e ninguém gosta de mexer c/ essas coisas, não. Neguinho se borra mesmo”, diz Chorão. Conheci o ‘Omulú’ em ‘96, durante um Hollywood Rock no Rio. O White Zombie tinha acabado de tocar e rolava a apresentação do Smashing Pumpkins, e Ronaldo bradava: “Porra, esse The Cure é chato pra caralho!” Haha!.. Chorão [o ‘3’ ele acrescentou depois, por haver outros 2 Chorões mais famosos que ele] é tosco, suburbano, sinistrão. Mas também é culto, inteligente, engraçado – e acima de tudo verborrágico.
É o que você confere em 3 entrevistas feitas em tempos diferentes clicando aqui.
por Adolfo Sá
vlb
Ronaldo de Souza Lima é o nome do ‘Chorão 3’, um dos vocalistas da Gangrena Gasosa, banda que comemora 20 anos c/ o 4º disco: SE DEUS É 10, SATANÁS É 666, prestes a ser lançado pela gravadora Freemind. O grupo surgiu nos anos ’90 em meio a uma onda do rock nacional em que novas bandas eram associadas a um determinado ritmo ou movimento: Chico Science liderava o manguebeat, os Raimundos vinham c/ o forró-core, e o Planet Hemp cantava a maconha. A Gangrena falava de macumba, e sua música foi batizada como 'SARAVÁ METAL'. Lançaram seu 1º disco em 1994, Welcome to Terreiro, ainda na época do vinil, pelo selo Rock It!, do ex-Legião Dado Villa-Lobos. Participaram de 2 coletâneas emblemáticas, No Major Babes, do jornalista Marcel Plasse, e Traidô!! - Tributo ao Ratos de Porão, produzido pelo Phú, da banda de HC de Brasília DFC [Distrito Federal Caos].
Em 2000 saiu Smells Like a Tenda Spirita, pelo selo Tamborete do amigo Leonardo Panço, e em 06 de junho de 2006 foi a vez do EP independente 6/6/6. Nascida sob o signo de Satã [ou do Exú, como preferirem], a Gangrena Gasosa passou por várias fases e formações, c/ algumas baixas resultantes da energia pesada c/ que a banda trabalha – o vocalista Paulão, ex-Seletores de Freqüência e atualmente em carreira solo, deixou o grupo depois de sofrer um atentado nas mãos de devotos fundamentalistas do Candomblé: “Isso é p/ aprender a não brincar c/ coisa séria”, teria dito um deles após aplicar-lhe algumas facadas [REZA A LENDA, pois Chorão não gosta de comentar o episódio].
“Metaleiro, gótico que anda de preto em cemitério, nego dá conselho: ‘Larga disso meu filho, fica direitinho’... Mas ninguém vê um adolescente entrar no mundo da macumba achando que isso é uma fase que vai passar quando crescer. Macumba é coisa mais séria, e ninguém gosta de mexer c/ essas coisas, não. Neguinho se borra mesmo”, diz Chorão. Conheci o ‘Omulú’ em ‘96, durante um Hollywood Rock no Rio. O White Zombie tinha acabado de tocar e rolava a apresentação do Smashing Pumpkins, e Ronaldo bradava: “Porra, esse The Cure é chato pra caralho!” Haha!.. Chorão [o ‘3’ ele acrescentou depois, por haver outros 2 Chorões mais famosos que ele] é tosco, suburbano, sinistrão. Mas também é culto, inteligente, engraçado – e acima de tudo verborrágico.
É o que você confere em 3 entrevistas feitas em tempos diferentes clicando aqui.
por Adolfo Sá
vlb
terça-feira, 15 de dezembro de 2009
NO SENSE By Escarro Napalm
No alto, No Sense Hoje. Abaixo, uma das primeiras fotos de divulgação.
ESCARRO NAPALM ENTREVISTA “NO SENSE”
NO SENSE é possivelmente a banda mais radical que eu conheço. Radical no sentido correto da palavra, o de identificar alguém que vai até o fim naquilo em que acredita. E não há outro adjetivo para apresentar a banda que gravou um disco como “ CEREBRAL CACOPHONY ”. Começaram ainda no fim dos anos 80, chamando a atenção no meio alternativo por ter no vocal uma garota de apenas 13 anos de idade. Os mais atentos, no entanto, viram além: perceberam que eles tinham algo mais, algo que os transformou na melhor banda de grindcore do país (sem querer desmerecer as demais é claro!!) e numa promessa de nível internacional. Apresentamos aqui uma entrevista feita em outubro de 1993 com Angelo, então guitarrista e principal compositor do grupo, e publicada na versão xerocada (internet na época era ficção científica) do fanzine Escarro Napalm.
NO SENSE é: ANGELO: guitarra, MARLY nos vocais, MORTO no baixo e PAULO na bateria. Já gravaram: “CONFUSED MIND” (demotape caseira), “OUT OF REALITY” (EP 7” FUCKER REC.) e “CEREBRAL CACOPHONY” (LP COGUMELO REC.).
Atualmente a banda está de volta à ativa, ensaiando novos sons, inclusive, com a formação original, com a diferença de que Morto agora toca guitarra e Ângelo assumiu o baixo.
http://www.myspace.com/nosensegrindcore
Ouça, é deliciosamente horrivel!!
1. COMO ESTÁ SENDO A REPERCUSSÃO DE “CEREBRAL CACOPHONY” NO EXTERIOR? EXISTEM PLANOS PARA O LANÇAMENTO DE UM CD DO NO SENSE? (A COGUMELO VISA BASTANTE O MERCADO EXTERNO E EU ACREDITO QUE A BANDA TEM CACIFE PARA TANTO)
NO SENSE: A repercussão tem sido boa, temos recebido varias cartas de lá. Ainda não sabemos se a COGUMELO lançará um CD nosso, mas talvez seja uma coisa natural, já que o CD no exterior já domina o mercado.
2. COMO ESTÁ A RELAÇÃO ENTRE BANDA E GRAVADORA? VOCÊS ESTÃO SATISFEITOS COM O TRATAMENTO QUE TEM RECEBIDO?
NO SENSE: A COGUMELO é uma gravadora independente que deu certo, afinal o dinheiro entra consideravelmente nela. Quanto ao nosso tratamento, é o mais formal do mundo. Se você não ligar, eles não ligam. As pessoas acreditam que se você entra para a COGUMELO, você se vendeu. Se nós nos vendemos, não ganhamos nada com isso até hoje.
3. É VERDADE QUE A CAPA DO LP ESTAVA PLANEJADA PARA SER A MESMA DO DISCO “HOW THE GODS KILL” DO DANZING?
NO SENSE: É sim, coincidência acontecem, por sorte não aconteceu e, além disso, gostamos da capa atual.
4. EXISTE PLANOS PARA O RELANÇAMENTO DO EP “OUT PF REALITY” VIA COGUMELO?
NO SENSE: Sobre isto ainda não sei, gostaria que sim, muita gente pede pelo 7” até hoje, quem sabe entre em um CD?
5. COMO ESTÁ A VIDA DO NOSENSE HOJE? MUITOS SHOWS, CONTATOS, ENTREVISTAS?
NO SENSE: Nós estamos parados no momento, mas breve voltaremos às atividades. Entrevistas temos tido algumas, contatos vários. Temos viajado por aí, indo a shows de outras bandas e se divertindo.
6. NO SENSE TEM PLANOS PARA TOCAR NO NORDESTE?
NO SENSE: Claro que sim, seria demais. As pessoas daí são legais temos muitos correspondentes por aí. Quando acontecer isso, vai ser demais.
7. MARLY AGORA É MÃE, ASSUME COM ISSO NOVAS TAREFAS E RESPONSABILIDADES. EM QUE ESTE FATO INTERFERIU NA VIDA DA BANDA COMO UM TODO?
NO SENSE: Até agora interferiu um pouco, desde que Marly estava com 8 meses paramos de tocar e ensaiar. Daqui pra frente, não sei como vai ser, mas tenho certeza que tudo irá dar certo.
8. O QUE VOCÊS MAIS GOSTAM E O QUE MAIS DETESTAM EM TERMOS DE SOM?
NO SENSE: Nós gostamos de tudo o que é bom, o que é ruim não gostamos. Curtimos HEAVY, DEATH, PUNK, H.C., DOOM, BLUES, JAZZ, NOISE, EXPERIMENTAL, GRIND. Só não gostamos de coisa que é feita pra vender, oportunista. Pode estar dentro de qualquer estilo já citado, mas se for feito pra vender e agradar a mídia, não iremos curtir.
9. NO FANZINE “VIA SKALA” ANGELO DECLAROU QUE SE UM DIA O NO SENSE FICASSE TÃO FAMOSO QUANTO O SEPULTURA, COM MAURICINHOS E GRUNGES DE PLANTÃO USANDO SUAS CAMISAS, A BANDA ACABARIA. VOCÊS NÃO ACHAM ESTA DECLARAÇÃO UM TANTO PERIGOSA? EXPLICO. SE UM DIA A FAMA VIESSE E VOCÊS ESTIVESSEM NO AUGE DA EMPOLGAÇÃO E CRIATIVIDADE, ACABARIAM COM TUDO ASSIM MESMO? O NO SENSE TEM MEDO DO SUCESSO?
NO SENSE: Não acho a declaração perigosa. Se estivéssemos no auge entre pessoas que realmente gostam do que fazemos continuaríamos, lógico, mas no auge com um bando de mauricinhos, isso seria desanimador. O NO SENSE acabaria e levaríamos nossa criatividade para outras bandas e coisas. Não, o NO SENSE não teme o sucesso, apenas não quer isso.
10. “GRIND IS PROTEST”. NO SENSE SE IDENTIFICA MAIS COM CENA HARD CORE OU COM O DEATH METAL? COMO VOCÊS VEEM A RIVALIDADE ENTRE ESTAS DUAS TRIBOS? EXISTE MOTIVO PARA TANTO?
NO SENSE: Nós nos identificamos com os dois estilos, existe espaço para todo mundo, não existe motivo para isso, como pra qualquer espécie de rivalidade.
11. QUAL A OPINIÃO DA BANDA SOBRE OS SEGUINTES TEMAS:
RACISMO: Idiotice, ninguém é melhor do que ninguém. Igualdade acima de tudo
MACHISMO: O homem se acha superior, mas vive precisando da mulher. Se ele é tão bom assim, porque não ele não transa com outros homens?
VEGETARIANISMO: Bom, nesse caso falo por mim e não pela banda, já que sou o único vegetariano no NO SENSE. As pessoas precisam se esclarecer mais sobre os malefícios da carne e sobre a fome no mundo. A floresta amazônica é devastada para criar gado, toneladas de grãos são gastos para alimentar o gado enquanto pessoas morrem de fome no mundo, pessoas que não irão nunca comer um bife.
MÍDIA: Ela tem o toque de Midas, transforma tudo que toca em ouro, se quiser, mas também transforma muita coisa em merda (a grande maioria, ou toda ela).
POLITICA: Não deveria existir pra ser político não se estuda, mas se ganha bem. O povo deveria tomar o poder, anular o voto e se conscientizar que está sendo usado e enganado.
12. NO PONTO DE VISTA DE VOCÊS, ATÉ QUE PONTO AS BANDAS DE ROCK PODEM INTERFERIR NA REALIDADE QUE AS CERCA PARA, USANDO UM EUFEMISMO BASTANTE POPULAR, “MUDAR O MUNDO”? É POSSIVEL? FOI O ROCK QUE MUDOU O MUNDO OU O SURGIMENTO DO ROCK FOI UMA CONSEQUENCIA DAS MUDANÇAS PELAS QUAIS PASSOU A SOCIEDADE HUMANA NESTE SÉCULO?
NO SENSE: Mudar o mundo é impossível, mas quem sabe lançar idéias, conscientizar as pessoas que ouvem os discos e vão aos shows... Um dia estas pessoas terão filhos e podem passar algo a eles. O não conformismo é o mais importante. O rock não mudou o mundo, senão estaríamos melhor hoje. Mas ele surgiu como mudança de padrão e isso é importante: mudar os padrões e ao criar outros, sempre renovar e nunca se acomodar.
13. ESPAÇO ABERTO. VOMITEM ALGUMA COISA, ALGUM ASSUNTO QUE VOCÊS QUEIRAM FALAR E QUE NÃO FOI CITADO?
NO SENSE: Queríamos pedir mais união, menos clichês, menos rótulos, música pode se rotular, mas pessoas não. Espero que as coisas mudem que o país cresça em todos os sentidos, que toquemos por aí em breve para podermos tomar uma pinga aí com você, Adelvan, e dar muitas risadas juntos. Afinal de contas, o importante é ser feliz!!
NOTA: O No Sense nunca tocou na região nordeste.
quinta-feira, 10 de dezembro de 2009
Um sergipano ( de coração ) no Velho Mundo
Há algum tempo me deparei com um cara que mora na Europa, em Portugal ( mas que está sempre em Praga, Republica Checa, lar de sua namorada ), perguntando sobre a Karne Krua e os shows na ATPN numa comunidade do orkut. Respondi suas perguntas e acabamos nos tornando amigos virtuais. Foi quando soube que ele morou por muito tempo em Aracaju, e tem saudades daqui, apesar de viver no chamado " primeiro mundo ".
Recentemente, em seu blog, ele publicou a postagem que reproduzo abaixo, fazendo uma interessante analogia entre o Muro de Berlin ( 20 Anos da queda ) e os muros do condominio onde vivia.
Com vocês, Juliano Mattos:
---------------
O Muro de Berlin, 20 Anos depois
por Juliano Mattos
Em 1989 eu era um guri desfrutando ao máximo da minha feliz infância em Aracaju. Uma criança como qualquer outra, que passava a vida jogando futebol, cheio de ilusões e borrifando-se para o mundo.
Nessa época eu vivia num condomínio fechado de classe média chamado Flamboyant. Nele havia uma piscina grande, uma quadra poliesportiva, um salão de jogos, com bilhar e tênis de mesa, e um parquinho de diversão infantil. A minha vida resumia-se ao perímetro do condomínio e dali eu só saia para ir à escola, situada ao lado do Flamboyant. Desde 1987 ali, eu vivia entre dois apartamentos, o dos meus pais e o dos meus avós. No 11º andar do Bloco A, na porta número 1104, viviam os meus avós e a minha tia Mina, e no 2º andar do Bloco E, na porta 204, viviam os meus pais. Eu gostava mais do apartamento dos meus avós porque ele me proporcionava uma vista para fora do condomínio, da fortaleza. De lá eu conseguia ver, a jusante, o emaranhar de prédios que começava a se configurar na Treze de Julho, o Rio Sergipe, a Barra dos Coqueiros e atrás dela o mar.
Já para oeste, eu costumava contemplar os contornos da Serra de Itabaiana que se desenhava ao fundo, uma das mais belas atrações para turismo de natureza do estado de Sergipe. Hoje arrependo-me de nunca a ter visitado. Quem diria que 20 anos depois eu estaria estudando Geografia e me debateria no estudo da geomorfologia?
Mas olhar pela janela do apartamento dos meus avós era uma forma de imaginar o mundo fora do Flamboyant, de avistar coisas diferentes e as fantasiar. Eu imaginava a Serra de Itabaiana como uma cadeia montanhosa gigantesca, embora seu ponto mais alto atinja apenas os 600 metros de altura. Quando mudei-me definitivamente para o Bloco A devido ao divórcio dos meus pais, passei a observar cada vez mais o mundo fora do condomínio.
Em Novembro de 1989 eu tinha 7 anos de idade. Não tenho nenhuma lembrança marcante de acontecimentos ligados à Guerra Fria. A minha única grande lembrança envolvendo política está ligada à enorme frustração pela vitória de Collor nas eleições daquele ano. Minha mãe e tia eram militantes moderadas do PT e dentro do Flamboyant era muito frequente ouvir aquela emblemática música da campanha eleitoral petista, intitulada "Lula lá". Todos os dias de manhã eu punha-me na varanda para ouvi-la ser ecoada de algum outro apartamento. Eu tinha uma fitinha K7 com ela e não a parava de tocar. Foi certamente a primeira vez que senti-me emocionalmente ligado a uma ideia política, a letra da música soava-me bem, justa, e com aquela idade eu achava que a prática política era fiel à teoria.
No seio da minha família, algumas posições sempre foram mais explicitamente assumidas. Lembro-me das camisetas alusivas às Diretas Já, os quadros de Che Guevara na parede de casa e os comícios do Lula, aos quais eu era levado por minha mãe e tia e adorava. Não pela política em si, mas pela festa.
Tenho muito mais recordações acerca da derrota de Lula para Collor no segundo turno das eleições, em Dezembro de 1989, do que dos acontecimentos na Alemanha. Lembro-me da enorme tristeza que pairou sobre o Flamboyant com a vitória de Collor. Na verdade acredito que a maior parte dos habitantes do condomínio fazia festa, mas a minha lembrança resume-se ao rosto das pessoas mais próximas a mim e à minha família.
Todavia, tenho algumas recordações, bastante diluídas, sobre uma tal grande mudança no mundo, sobre o anunciar de uma nova Era, etc. Para mim, Alemanha, URSS e EUA eram tão longes que eu os encarava como sendo outros planetas. Eu não podia ver nenhum desses países olhando da janela do Flamboyant.
Hoje, a sensação de saber que vivi os 7 primeiros anos da minha vida numa outra "Era", num outro contexto geopolítico, causa-me estranheza. Geralmente a Guerra Fria só existe nos anais da História para as gerações mais novas, e saber que ainda assim vivi um período que hoje é pura história faz-me sentir que presenciei duas fases diferentes e que fui contemporâneo a um dos momentos mais importantes do século XX.
Aquele menininho ruivo, inocente, medroso e acanhado jamais imaginou que duas décadas depois encontraria refúgio no leste europeu ao arranjar uma namorada checa e apaixonar-se por Praga, e que a partir dali visitaria 8 países que estavam "do outro lado", além do próprio centro da Cortina de Ferro, Berlim.
A vida é estranha e dá voltas inacreditáveis. Quando visitei Berlim, em Setembro de 2008, eu só pensava em ver o muro. A capital da Alemanha unificada possui dezenas, centenas de atrações, mas eu queria era ver as ruínas de um paredão cinzento. Para mim era muito mais impactante do que quaisquer outras coisas por mais interessantes que fossem.
Durante o meu primeiro contato visual e físico com o muro a minha mente remetia-me para a minha infância e para os tempos de Aracaju, como se automaticamente estabelecesse um paralelismo temporal de eventos tão distantes um do outro em espaço.
Eu só conseguia pensar que nunca imaginara ser possível estar ali. O mesmo se sucedeu no último mês de Agosto, quando visitei Auschwitz. Mas o Muro de Berlim tem um peso histórico maior, porque simbolizou todo um período iniciado no pós-guerra.
Ver e tocar o muro foi uma das experiências mais impressionantes pelas quais já passei. A confusão de sentimentos que emanam em simultâneo é perturbador.
A primeira vez que vi o muro foi na Postdamer Platz, na área central da cidade. Dois blocos permanecem ali como os únicos vestígios do muro numa praça que já foi um autêntico deserto e hoje é rodeada por arranha-céus modernos. Mas o maior impacto deu-se quando deparei-me com a East Side Gallery, um pedaço de quase 1Km do muro que foi preservado e hoje é uma galeria a céu aberto, repleto de pinturas alusivas ao próprio muro.
A foto ao lado mostra a Martina e eu no ponto de partida da East Side Gallery. Na época em que lá estivemos as pinturas encontravam-se vandalizadas por pichações e mensagens idiotas de turistas igualmente idiotas. Recentemente as pinturas foram restauradas.
Desde que o muro foi destruído, as suas milhares de pequenas partes transformaram-se em sourvenirs para os turistas. Há cartões postais com supostos pedaços do muro à venda em lojas, e muita gente aproveita para depreda-lo para obter pedaços originais dele. Além de desrespeito a um monumento histórico, é um desrespeito à cidade de Berlim e sua memória.
Mas é claro que é tentador estar ali ao lado do muro. Passou-me pela cabeça levar um pedacinho para casa, mas em momento algum eu pensei em quebrar partes do muro. Então, fiquei procurando pelo chão pedacinhos soltos, mas não encontrei nada. Até que lembrei-me de reparar no início do muro, onde ele havia sido cortado, deixando seu material interior exposto. Foi ali, num buraquinho, que encontrei quatro pedacinhos semi-soltos e consegui chegar lá com um dedo.
Pronto! Não foi preciso imitar os turistas idiotas para conseguir uma recordação idiota. São quatro pedacinhos pequenos de cimento, quatro pedrinhas cinzentas, daquelas que abundam nas ruas de qualquer cidade, mas que revestem-se de um simbolismo muito forte por serem parte de Muro de Berlim e, consequentemente, da História.
Bem, depois de exibir-me com um pedacinho do muro, nessa foto horrível devido à falta de talento do meu irmão, passarei para o lado político do Muro de Berlim e da Guerra Fria.
Costuma-se dizer que o acontecimento representou o fim do Comunismo. É certo que foi o fim da União Soviética e do bloco de leste. Eu diria que findou o imperialismo russo. A União Soviética era um império que controlava os demais países do leste europeu, que eram satélites à sua mercê.
Até aí tudo bem, a questão é mais ou menos pacífica, a não ser para os nostálgicos defensores do totalitarismo soviético, que conseguem justificar o injustificável apelando a uma série de fantasmas e desculpismos ridículos.
Mas a queda do Muro de Berlim não representou o fim do Comunismo. O Comunismo nunca existiu nem na União Soviética e nem em qualquer país do mundo. O Comunismo como é concebido em teoria nunca foi posto em prática à escala nacional ou continental. Os dias seguintes à Revolução Russa, com a queda do Czar, já configuravam uma ditadura de partido único, com censura, perseguição e burocracia estatal. Aqueles que ficaram conhecidos como os mais importantes marxistas, Lenin e Trotsky, ao apoderarem-se de forma oportunista do processo revolucionário em curso, trataram de fundar a estrutura basilar de uma ditadura que não tinha nada de proletária, internacionalista e socialista. Fundaram um regime escravista, imperialista, e incrementaram a burocracia estatal ao capitalismo.
Durante o século XX há registro de algumas experiências mais ou menos profundas de socialismo. Alguns exemplos são a Revolução Mexicana de 1910 com a aclamada Republica Socialista de Baja California, ou com os Kibutz de Israel, a Makhnovtchina da Ucrânia, que resistiu como pôde à tirania dos bolcheviques, ou a Revolução Espanhola, que ocorreu em simultâneo à Guerra Civil de 1936-39 e representou a maior e mais profunda experiência de comunismo do século XX e talvez de toda a história da civilização, e que, não por acaso, foi esmagada pelo stalinismo. Isso para não falar nas experiências do século XIX, inclusive no Brasil, como a Colônia Cecília.
A União Soviética configurava um regime totalitário, opressor, era a materialização do terror de George Orwell. Na verdade o 1984, sua obra prima, foi concebida com inspiração no terror stalinista que Orwell presenciou quando combateu na Guerra Civil Espanhola.
Hoje, os meios de comunicação, meros propagandistas do sistema que vigora, difundem a ideia de que a URSS representava não apenas um sistema político e económico, mas era a materialização fiel de uma ideia, o socialismo, para assim difamarem um modelo alternativo ao liberalismo selvagem. Um grupo muito restrito de grandes empresas muito poderosas controla os meios de comunicação, e todos os dias nos impingem com comentadores e especialistas que propagandeiam as ideias do modelo instituído. As diferenças que existem são partidárias, não ideológicas, salvo raríssimas exceções.
Nas esferas da comunicação social das massas, diz-se que o Comunismo falhou e acabou com o colapso da URSS. Dizem que o Comunismo é intrinsecamente tirânico e que o Capitalismo é a única solução para o mundo.
Anunciaram o triunfo do Capitalismo e com o colapso soviético o economista e ideólogo do reaganismo e do neoconservadorismo, Francis Fukuyama, chegou a anunciar o fim da história.
Bastaram poucos anos para essas profecias patéticas serem desmentidas. O mundo continuou em constante mudança, e revezou momentos de evolução com momentos de regresso. Vários novos conflitos se iniciaram, novas rivalidades surgiram, as crises financeiras sucederam-se e novos paradigmas afloraram. Hoje temos o terrorismo islâmico e o aquecimento global (embora este último eu considere uma enorme farsa).
Francis Fukuyama e todos os que o seguiram na profecia do fim da história contemplam hoje um mundo mais complexo do que aquele que existiu durante a Guerra Fria. Até então, tudo era muito claro, duas grandes potências, inimigas uma da outra, dividiam a influência no mundo. Hoje, temos um contexto geopolítico extremamente diversificado e pouco se pode dizer sobre o futuro.
O Capitalismo não vingou, continuou spobrevivendo sob crises sistemáticas e sistêmicas. Suas maravilhas não foram cumpridas. Recentemente, com a última crise, o paradigma neoliberal sofreu o mesmo processo de colapso que a URSS, mas não há alternativa formada. O Capitalismo substitui-se a si próprio porque, infelizmente, a esquerda é burra e tapada.
Os que não se deixam reciclar politicamente pela democratura plutocrática do Capitalismo, continuam alimentando a fantasia macabra de que a União Soviética era um paraíso na Terra. Os PCs, mundo afora, continuam seguindo a cartilha stalinista, continuam defendendo atrocidades, justificando assassinatos e fantasiando regimes atrozes, como a Coreia do Norte ou Cuba.
Os propagandistas do Capitalismo gostam de falar em Socialismo Real e Socialismo Utópico para afirmarem, como roupagem de conveniência ideológica, que o único socialismo que existe é o totalitário, é a tirania, a opressão, e que somente os tolos e sonhadores podem acreditar nalgo diferente disso.
A queda do Muro de Berlim foi a melhor coisa que aconteceu para o Socialismo no mundo, mas a esquerda não soube aproveitar a oportunidade que lhe surgiu. Boa parte até lamentou o fim do monstro jurássico. Se a esquerda socialista tivesse compreendido o que a União Soviética representou, poderia tirar partido do colapso do monstro e assumir uma nova posição perante o Capitalismo. Poucos o fizeram, poucos abriram mão de status partidários e ideológicos para o fazerem.
20 anos depois, a esquerda continua burra e tapada, e o Capitalismo vai se arrastando e sobrevivendo por não haver um inimigo que lhe espete a estaca no coração. A última crise colapsou importantes pilares da ideologia dominante e não houve nenhuma alternativa pronta para a substituir.
20 anos depois, espera-se que os fantasmas do passado deixem de assombrar a lucidez das mentalides presentes. Espera-se que o futuro consiga concretizar todo um pacote ético que tem o socialismo como essência. Será que existirão pessoas suficientemente éticas para o fazerem? A evolução ética da sociedade tende a chocar-se cada vez mais com as estruturas do Capitalismo, de forma que a evolução das mentalidades e, consequentemente, dos comportamentos, poderá chegar a uma sociedade socialista mais rapidamente do que revoluções violentas que acabem por fazer toda uma estrutura ética desmoronar e voltar ao ponto inicial.
Não há lugar para mais muros, embora os EUA e Israel pensem o contrário. Sobretudo, não há lugar para regimes que, alavancados por distorções grotescas de ideais sublimes, configurem o mais puro terror e a mais opressiva tirania.
20 anos depois da queda do Muro de Berlim, o Socialismo continua inédito à escala nacional, continua sendo um ideal demasiado avançado para o nível de desenvolvimento atual, e caberá à humanidade conseguir atingi-lo, apesar de todas as forças contrárias e retrógradas que depois de anunciarem o fim da história, tratam de travar a evolução e manter tudo como está, num eterno presente que é a cada dia mais insuportável perante uma humanidade que reclama para ela a modernidade ética sem no entanto estar disposta a coloca-la em prática.
Recentemente, em seu blog, ele publicou a postagem que reproduzo abaixo, fazendo uma interessante analogia entre o Muro de Berlin ( 20 Anos da queda ) e os muros do condominio onde vivia.
Com vocês, Juliano Mattos:
---------------
O Muro de Berlin, 20 Anos depois
por Juliano Mattos
Em 1989 eu era um guri desfrutando ao máximo da minha feliz infância em Aracaju. Uma criança como qualquer outra, que passava a vida jogando futebol, cheio de ilusões e borrifando-se para o mundo.
Nessa época eu vivia num condomínio fechado de classe média chamado Flamboyant. Nele havia uma piscina grande, uma quadra poliesportiva, um salão de jogos, com bilhar e tênis de mesa, e um parquinho de diversão infantil. A minha vida resumia-se ao perímetro do condomínio e dali eu só saia para ir à escola, situada ao lado do Flamboyant. Desde 1987 ali, eu vivia entre dois apartamentos, o dos meus pais e o dos meus avós. No 11º andar do Bloco A, na porta número 1104, viviam os meus avós e a minha tia Mina, e no 2º andar do Bloco E, na porta 204, viviam os meus pais. Eu gostava mais do apartamento dos meus avós porque ele me proporcionava uma vista para fora do condomínio, da fortaleza. De lá eu conseguia ver, a jusante, o emaranhar de prédios que começava a se configurar na Treze de Julho, o Rio Sergipe, a Barra dos Coqueiros e atrás dela o mar.
Já para oeste, eu costumava contemplar os contornos da Serra de Itabaiana que se desenhava ao fundo, uma das mais belas atrações para turismo de natureza do estado de Sergipe. Hoje arrependo-me de nunca a ter visitado. Quem diria que 20 anos depois eu estaria estudando Geografia e me debateria no estudo da geomorfologia?
Mas olhar pela janela do apartamento dos meus avós era uma forma de imaginar o mundo fora do Flamboyant, de avistar coisas diferentes e as fantasiar. Eu imaginava a Serra de Itabaiana como uma cadeia montanhosa gigantesca, embora seu ponto mais alto atinja apenas os 600 metros de altura. Quando mudei-me definitivamente para o Bloco A devido ao divórcio dos meus pais, passei a observar cada vez mais o mundo fora do condomínio.
Em Novembro de 1989 eu tinha 7 anos de idade. Não tenho nenhuma lembrança marcante de acontecimentos ligados à Guerra Fria. A minha única grande lembrança envolvendo política está ligada à enorme frustração pela vitória de Collor nas eleições daquele ano. Minha mãe e tia eram militantes moderadas do PT e dentro do Flamboyant era muito frequente ouvir aquela emblemática música da campanha eleitoral petista, intitulada "Lula lá". Todos os dias de manhã eu punha-me na varanda para ouvi-la ser ecoada de algum outro apartamento. Eu tinha uma fitinha K7 com ela e não a parava de tocar. Foi certamente a primeira vez que senti-me emocionalmente ligado a uma ideia política, a letra da música soava-me bem, justa, e com aquela idade eu achava que a prática política era fiel à teoria.
No seio da minha família, algumas posições sempre foram mais explicitamente assumidas. Lembro-me das camisetas alusivas às Diretas Já, os quadros de Che Guevara na parede de casa e os comícios do Lula, aos quais eu era levado por minha mãe e tia e adorava. Não pela política em si, mas pela festa.
Tenho muito mais recordações acerca da derrota de Lula para Collor no segundo turno das eleições, em Dezembro de 1989, do que dos acontecimentos na Alemanha. Lembro-me da enorme tristeza que pairou sobre o Flamboyant com a vitória de Collor. Na verdade acredito que a maior parte dos habitantes do condomínio fazia festa, mas a minha lembrança resume-se ao rosto das pessoas mais próximas a mim e à minha família.
Todavia, tenho algumas recordações, bastante diluídas, sobre uma tal grande mudança no mundo, sobre o anunciar de uma nova Era, etc. Para mim, Alemanha, URSS e EUA eram tão longes que eu os encarava como sendo outros planetas. Eu não podia ver nenhum desses países olhando da janela do Flamboyant.
Hoje, a sensação de saber que vivi os 7 primeiros anos da minha vida numa outra "Era", num outro contexto geopolítico, causa-me estranheza. Geralmente a Guerra Fria só existe nos anais da História para as gerações mais novas, e saber que ainda assim vivi um período que hoje é pura história faz-me sentir que presenciei duas fases diferentes e que fui contemporâneo a um dos momentos mais importantes do século XX.
Aquele menininho ruivo, inocente, medroso e acanhado jamais imaginou que duas décadas depois encontraria refúgio no leste europeu ao arranjar uma namorada checa e apaixonar-se por Praga, e que a partir dali visitaria 8 países que estavam "do outro lado", além do próprio centro da Cortina de Ferro, Berlim.
A vida é estranha e dá voltas inacreditáveis. Quando visitei Berlim, em Setembro de 2008, eu só pensava em ver o muro. A capital da Alemanha unificada possui dezenas, centenas de atrações, mas eu queria era ver as ruínas de um paredão cinzento. Para mim era muito mais impactante do que quaisquer outras coisas por mais interessantes que fossem.
Durante o meu primeiro contato visual e físico com o muro a minha mente remetia-me para a minha infância e para os tempos de Aracaju, como se automaticamente estabelecesse um paralelismo temporal de eventos tão distantes um do outro em espaço.
Eu só conseguia pensar que nunca imaginara ser possível estar ali. O mesmo se sucedeu no último mês de Agosto, quando visitei Auschwitz. Mas o Muro de Berlim tem um peso histórico maior, porque simbolizou todo um período iniciado no pós-guerra.
Ver e tocar o muro foi uma das experiências mais impressionantes pelas quais já passei. A confusão de sentimentos que emanam em simultâneo é perturbador.
A primeira vez que vi o muro foi na Postdamer Platz, na área central da cidade. Dois blocos permanecem ali como os únicos vestígios do muro numa praça que já foi um autêntico deserto e hoje é rodeada por arranha-céus modernos. Mas o maior impacto deu-se quando deparei-me com a East Side Gallery, um pedaço de quase 1Km do muro que foi preservado e hoje é uma galeria a céu aberto, repleto de pinturas alusivas ao próprio muro.
A foto ao lado mostra a Martina e eu no ponto de partida da East Side Gallery. Na época em que lá estivemos as pinturas encontravam-se vandalizadas por pichações e mensagens idiotas de turistas igualmente idiotas. Recentemente as pinturas foram restauradas.
Desde que o muro foi destruído, as suas milhares de pequenas partes transformaram-se em sourvenirs para os turistas. Há cartões postais com supostos pedaços do muro à venda em lojas, e muita gente aproveita para depreda-lo para obter pedaços originais dele. Além de desrespeito a um monumento histórico, é um desrespeito à cidade de Berlim e sua memória.
Mas é claro que é tentador estar ali ao lado do muro. Passou-me pela cabeça levar um pedacinho para casa, mas em momento algum eu pensei em quebrar partes do muro. Então, fiquei procurando pelo chão pedacinhos soltos, mas não encontrei nada. Até que lembrei-me de reparar no início do muro, onde ele havia sido cortado, deixando seu material interior exposto. Foi ali, num buraquinho, que encontrei quatro pedacinhos semi-soltos e consegui chegar lá com um dedo.
Pronto! Não foi preciso imitar os turistas idiotas para conseguir uma recordação idiota. São quatro pedacinhos pequenos de cimento, quatro pedrinhas cinzentas, daquelas que abundam nas ruas de qualquer cidade, mas que revestem-se de um simbolismo muito forte por serem parte de Muro de Berlim e, consequentemente, da História.
Bem, depois de exibir-me com um pedacinho do muro, nessa foto horrível devido à falta de talento do meu irmão, passarei para o lado político do Muro de Berlim e da Guerra Fria.
Costuma-se dizer que o acontecimento representou o fim do Comunismo. É certo que foi o fim da União Soviética e do bloco de leste. Eu diria que findou o imperialismo russo. A União Soviética era um império que controlava os demais países do leste europeu, que eram satélites à sua mercê.
Até aí tudo bem, a questão é mais ou menos pacífica, a não ser para os nostálgicos defensores do totalitarismo soviético, que conseguem justificar o injustificável apelando a uma série de fantasmas e desculpismos ridículos.
Mas a queda do Muro de Berlim não representou o fim do Comunismo. O Comunismo nunca existiu nem na União Soviética e nem em qualquer país do mundo. O Comunismo como é concebido em teoria nunca foi posto em prática à escala nacional ou continental. Os dias seguintes à Revolução Russa, com a queda do Czar, já configuravam uma ditadura de partido único, com censura, perseguição e burocracia estatal. Aqueles que ficaram conhecidos como os mais importantes marxistas, Lenin e Trotsky, ao apoderarem-se de forma oportunista do processo revolucionário em curso, trataram de fundar a estrutura basilar de uma ditadura que não tinha nada de proletária, internacionalista e socialista. Fundaram um regime escravista, imperialista, e incrementaram a burocracia estatal ao capitalismo.
Durante o século XX há registro de algumas experiências mais ou menos profundas de socialismo. Alguns exemplos são a Revolução Mexicana de 1910 com a aclamada Republica Socialista de Baja California, ou com os Kibutz de Israel, a Makhnovtchina da Ucrânia, que resistiu como pôde à tirania dos bolcheviques, ou a Revolução Espanhola, que ocorreu em simultâneo à Guerra Civil de 1936-39 e representou a maior e mais profunda experiência de comunismo do século XX e talvez de toda a história da civilização, e que, não por acaso, foi esmagada pelo stalinismo. Isso para não falar nas experiências do século XIX, inclusive no Brasil, como a Colônia Cecília.
A União Soviética configurava um regime totalitário, opressor, era a materialização do terror de George Orwell. Na verdade o 1984, sua obra prima, foi concebida com inspiração no terror stalinista que Orwell presenciou quando combateu na Guerra Civil Espanhola.
Hoje, os meios de comunicação, meros propagandistas do sistema que vigora, difundem a ideia de que a URSS representava não apenas um sistema político e económico, mas era a materialização fiel de uma ideia, o socialismo, para assim difamarem um modelo alternativo ao liberalismo selvagem. Um grupo muito restrito de grandes empresas muito poderosas controla os meios de comunicação, e todos os dias nos impingem com comentadores e especialistas que propagandeiam as ideias do modelo instituído. As diferenças que existem são partidárias, não ideológicas, salvo raríssimas exceções.
Nas esferas da comunicação social das massas, diz-se que o Comunismo falhou e acabou com o colapso da URSS. Dizem que o Comunismo é intrinsecamente tirânico e que o Capitalismo é a única solução para o mundo.
Anunciaram o triunfo do Capitalismo e com o colapso soviético o economista e ideólogo do reaganismo e do neoconservadorismo, Francis Fukuyama, chegou a anunciar o fim da história.
Bastaram poucos anos para essas profecias patéticas serem desmentidas. O mundo continuou em constante mudança, e revezou momentos de evolução com momentos de regresso. Vários novos conflitos se iniciaram, novas rivalidades surgiram, as crises financeiras sucederam-se e novos paradigmas afloraram. Hoje temos o terrorismo islâmico e o aquecimento global (embora este último eu considere uma enorme farsa).
Francis Fukuyama e todos os que o seguiram na profecia do fim da história contemplam hoje um mundo mais complexo do que aquele que existiu durante a Guerra Fria. Até então, tudo era muito claro, duas grandes potências, inimigas uma da outra, dividiam a influência no mundo. Hoje, temos um contexto geopolítico extremamente diversificado e pouco se pode dizer sobre o futuro.
O Capitalismo não vingou, continuou spobrevivendo sob crises sistemáticas e sistêmicas. Suas maravilhas não foram cumpridas. Recentemente, com a última crise, o paradigma neoliberal sofreu o mesmo processo de colapso que a URSS, mas não há alternativa formada. O Capitalismo substitui-se a si próprio porque, infelizmente, a esquerda é burra e tapada.
Os que não se deixam reciclar politicamente pela democratura plutocrática do Capitalismo, continuam alimentando a fantasia macabra de que a União Soviética era um paraíso na Terra. Os PCs, mundo afora, continuam seguindo a cartilha stalinista, continuam defendendo atrocidades, justificando assassinatos e fantasiando regimes atrozes, como a Coreia do Norte ou Cuba.
Os propagandistas do Capitalismo gostam de falar em Socialismo Real e Socialismo Utópico para afirmarem, como roupagem de conveniência ideológica, que o único socialismo que existe é o totalitário, é a tirania, a opressão, e que somente os tolos e sonhadores podem acreditar nalgo diferente disso.
A queda do Muro de Berlim foi a melhor coisa que aconteceu para o Socialismo no mundo, mas a esquerda não soube aproveitar a oportunidade que lhe surgiu. Boa parte até lamentou o fim do monstro jurássico. Se a esquerda socialista tivesse compreendido o que a União Soviética representou, poderia tirar partido do colapso do monstro e assumir uma nova posição perante o Capitalismo. Poucos o fizeram, poucos abriram mão de status partidários e ideológicos para o fazerem.
20 anos depois, a esquerda continua burra e tapada, e o Capitalismo vai se arrastando e sobrevivendo por não haver um inimigo que lhe espete a estaca no coração. A última crise colapsou importantes pilares da ideologia dominante e não houve nenhuma alternativa pronta para a substituir.
20 anos depois, espera-se que os fantasmas do passado deixem de assombrar a lucidez das mentalides presentes. Espera-se que o futuro consiga concretizar todo um pacote ético que tem o socialismo como essência. Será que existirão pessoas suficientemente éticas para o fazerem? A evolução ética da sociedade tende a chocar-se cada vez mais com as estruturas do Capitalismo, de forma que a evolução das mentalidades e, consequentemente, dos comportamentos, poderá chegar a uma sociedade socialista mais rapidamente do que revoluções violentas que acabem por fazer toda uma estrutura ética desmoronar e voltar ao ponto inicial.
Não há lugar para mais muros, embora os EUA e Israel pensem o contrário. Sobretudo, não há lugar para regimes que, alavancados por distorções grotescas de ideais sublimes, configurem o mais puro terror e a mais opressiva tirania.
20 anos depois da queda do Muro de Berlim, o Socialismo continua inédito à escala nacional, continua sendo um ideal demasiado avançado para o nível de desenvolvimento atual, e caberá à humanidade conseguir atingi-lo, apesar de todas as forças contrárias e retrógradas que depois de anunciarem o fim da história, tratam de travar a evolução e manter tudo como está, num eterno presente que é a cada dia mais insuportável perante uma humanidade que reclama para ela a modernidade ética sem no entanto estar disposta a coloca-la em prática.
segunda-feira, 23 de novembro de 2009
PROMOÇÃO "ATIVIDADE PARANORMAL"
Estréia dia 04 de dezembro, em todo o Brasil ( o que inclui Aracaju, definitivamente), o filme "Atividade Paranormal", um verdadeiro fenômeno de bilheterias mundo afora, que já foi exibido por aqui na última Virada Cinematográfica (leia resenha e crítica alguns posts abaixo). O Programa de rock, em associação com a Playarte, estará oferecendo 10 pares de ingresso para os responsáveis pelas 10 melhores respostas para a pergunta: "Qual é o seu maior pesadelo?". As respostas podem ser postadas, com e-mail para contato, aqui mesmo no blog, ou enviadas para programaderock@hotmail.com. Promoção válida de 24/11/2009 a 04/12/2009.
Boas Sorte a todos !
http://www.atividadeparanormal.com.br/
www.playarte.com.br
ATIVIDADE PARANORMAL
Sinopse: Um casal é perseguido por um espírito demoníaco dentro de sua própria casa. Dispostos a desvendar o mistério que assombra suas noites de sono, eles compram uma câmera e passam a filmar tudo o que acontece. Acabam captando estranhas atividades paranormais que os atormentam e podem ser muito mais perigosas do que imaginam ...
Estréia: 4/12/2009
Gênero: Suspense
Duração: 87 minutos
Classificação: 16 anos
País: EUA
Ano: 2009
Distribuidora: PlayArte
Diretor: Oren Peli
Elenco: Katie Featherston , Micah Sloat
Boas Sorte a todos !
http://www.atividadeparanormal.com.br/
www.playarte.com.br
ATIVIDADE PARANORMAL
Sinopse: Um casal é perseguido por um espírito demoníaco dentro de sua própria casa. Dispostos a desvendar o mistério que assombra suas noites de sono, eles compram uma câmera e passam a filmar tudo o que acontece. Acabam captando estranhas atividades paranormais que os atormentam e podem ser muito mais perigosas do que imaginam ...
Estréia: 4/12/2009
Gênero: Suspense
Duração: 87 minutos
Classificação: 16 anos
País: EUA
Ano: 2009
Distribuidora: PlayArte
Diretor: Oren Peli
Elenco: Katie Featherston , Micah Sloat
quinta-feira, 19 de novembro de 2009
NEEEEGROOOO !!!! (Bonitinha mas ordinária)
por Rian " Calango Doido "
Fonte: Spleen & Charutos
O perfume de minha pele sob o sol do meio-dia – evidência inequívoca do sangue e do sêmen negro, estrume fecundo de nossa cultura.
Nos últimos dias, o noticiário local foi assaltado por uma grande surpresa. O pré-conceito racial persiste entre a gente. A médica Ana Flávia Pinto Silva quebrou as correntes que governavam os seus demônios, e abriu nossas narinas, empurrando o sexo do sinhozinho pelas fendas da criada. Sentimos o odor repulsivo da natureza, obrigados a nos reconhecer no fruto indesejado da violência. Somos, sim, filhos bastardos de uma satisfação culpada – A roupa alva da Casa Grande, o couro do chicote, a carne nua e lasciva da negrada no chão escuro da senzala…
Não foi no canavial assombrado pelo silvo da chibata e o banzo choroso dos africanos. Ocorreu em nossos dias, entre prédios gigantescos, em uma Aracaju asfaltada. Ana Flávia – bonitinha, mas ordinária – justificou a atuação de Lucélia Santos na adaptação do clássico de Nelson Rodrigues para o cinema, e, cheia de bestialidade, gritou: Negro! Parecia até que a moça estava sendo currada.
Ficamos todos indignados, mas repetimos a acusação da médica, cuspimos cheios de luxúria, como a personagem de Lucélia Santos, todos os dias. Sob o mito da democracia racial, a maioria da população suporta a pancada.
Recentemente, a ONU apresentou um relatório sobre o desenvolvimento humano no Brasil. Segundo o documento, entre outros dados apresentados, o número absoluto de pobres com renda per capita inferior a R$ 75,00 no ano de 2000 diminuiu em 5 milhões, entre os anos de 1992 e 2001. O número de negros pobres, entretanto, ao contrário da tendência, aumentou em 500 mil.
Alguém já disse que todo camburão tem um pouco de navio negreiro. Incontestável, o olor desprendido pela realidade continuará a nos incomodar até que a súplica de Castro Alves finalmente adquira algum sentido. “Colombo, fecha a porte de teus mares!”
quarta-feira, 18 de novembro de 2009
+ 1 Virada Cinematográfica em Aracaju
por Adelvan Kenobi
Fotos: Divulgação
Ocorreu no último sábado, dia 14 de novembro de 2009, mais uma edição da Virada Cinematográfica de Aracaju, no Cinemark do Shopping Jardins. Desta vez foi uma edição temática, “Filmes extremos” – Uma verdadeira “tour de force” de horror - psicológico, escatológico, sugerido e explicito.
Coroada com uma boa presença de publico, a sessão começou com a mais nova e polêmica produção de Lars Von Trier, “Anticristo”. O filme, que segundo o diretor foi feito para expiar uma crise depressiva pela qual passava, é um verdadeiro delírio plástico e conceitual. Começa com uma longa e belíssima cena em câmera lenta onde ficamos a par do acontecimento que se torna o estopim de toda a trama – a morte de uma criança, vítima da negligencia dos pais. Logo de cara já diz a que veio, já que a referida cena, que serve também como prólogo (é dividido em capítulos), não se furta em estampar na telona uma cena de penetração explícita, em câmera lenta – algo inusitado e surpreendentemente belíssimo de se ver, para além do choque (ou apenas surpresa, para os menos carolas) inicial.
A partir daí somos lançados numa espiral de dor e sofrimento, quando o casal tenta superar o trauma com base nos conhecimentos do marido, interpretado por Willem Dafoe. A mulher, que é vivida por uma esquálida Charlotte Gainsbourgh, cai numa depressão profunda e é convencida por seu companheiro a tentar superar a situação sem recorrer a drogas. Seus temores e mágoas são então expostos de maneira crua e direta e confrontados com a racionalidade dos métodos científicos. Num dado momento o marido (que também é psicanalista) resolve que a situação tem que ser encarada em sua raiz e passa a invstigar qual seria seu maior temor, o que os leva a uma cabana isolada no meio da floresta, cabana esta (não por acaso batizada de Éden) que havia sido usada por ela pouco tempo atrás para se isolar com seu filho e tentar terminar uma tese de mestrado. Aos pouco as mágoas e problemas de relação mal resolvidos ou simplesmente "empurrados com a barriga" vão finalmente aflorando e ele se dá conta de que não se conhecem tão bem quanto pensavam. É então atraído para seu mundo de delírios angustiados (“se você olhar demais para o abismo, o abismo passará a olhar para você”, já dizia Nietsche). Metáforas se sucedem em cenas bizarras e não recomendadas a estômagos fracos, estampadas de forma pra lá de explícita na tela. Mas mais bizarro ainda foi o comportamento de certa parcela do público, que parecia não conhecer o significado dessa palavra, a tal da metáfora, e enxergava o que via no filme de forma literal, chegando muitas vezes a cair em gargalhadas diante de cenas especialmente inusitadas. Uma turma de energúmenos sentada atrás de mim, por exemplo, passou todo o tempo de projeção comentando cada frame do filme apontando seus supostos absurdos. Insistiam, por exemplo, que a perna do personagem, presa a uma roda de moinho, numa evidente referência ao peso da relação desgastada, já deveria estar infectada e ele ardendo em febre e portanto incapaz de estar se movimentando, como fazia. Tive vontade de me levantar e perguntar se algum deles era formado em medicina, e caso fosse e confirmasse a veracidade da afirmação, se o mesmo já havia ouvido falar em liberdade artística. Me contive e fiquei apenas resmungando de indignação em minha cadeira, o que por si só começou a incomodar a pessoa que estava ao meu lado, que passou a se incomodar mais com meu incômodo do que com o incômodo da situação em si, numa espécie de efeito dominó.
A sessão seguinte, não sei se por conta de uma chamada à atenção quanto á educação e ao simples fato de que haviam pessoas no recinto que vieram para ver os filmes, sem necessariamente ter que ouvir comentários em voz alta durante toda a projeção, feita pelo produtor Roberto Nunes, foi bem mais tranqüila. O que pode ter acontecido também é que o público se viu de tal modo envolvido pelo clima de suspense e tensão crescente que esqueceu de comer pipoca e falar besteira com a pessoa ao lado. O filme foi “Atividade Paranormal”, um verdadeiro fenômeno de publico mundo afora, ainda inédito nos cinemas brasileiros. Pelo trailer que havia visto na internet não tinha colocado muita fé, mas me surpreendi, e muito, positivamente. O enredo é bem batido, a velha historia de espíritos (ou demônios) assombrando um casal. O namorado resolve instalar uma câmera no quarto para registrar os acontecimentos e, a partir daí, a trama vai se desenrolando de forma brilhante, liberando as assustadoras imagens da assombração a conta-gotas, num timing perfeito. Uma verdadeira aula de edição e desenvolvimento de uma idéia simples, que culmina com um final de tirar o fôlego. Nota 10, nunca mais tinha me divertido tanto numa sessão de suspense e horror – no caso também muito mais psicológico e sugerido, mas nem por isso menos aterrorizante.
O terceiro e último filme exibido na noite foi o clássico “Massacre da Serra Elétrica”, de Tobe Hooper , lançado em 1974. Foi bom ver essa verdadeira pérola do cinema “trash” em tela grande. O publico mais uma vez caiu em gargalhadas, mas desta vez fez sentido, dado o conteúdo sarcástico e carregado de humor negro da película. Eu mesmo lembro de ter rido muito com a cena bizarra do avô da família de canibais tentando reviver os “velhos tempos” e o exagero de gritos da “mocinha” na longa cena de perseguição final.
Ao final de tudo, um farto e delicioso café da manhã.
Que venha a próxima.
--------------
Abaixo, conteúdo extraido do "Press Book" de "Anticristo".
Agradeço a Roberto Nunes por ter me enviado o material.
“Gostaria de convidá-los para uma espiada por trás das cortinas, uma espiada dentro do sombrio mundo da minha imaginação: na natureza dos meus medos, na natureza de Anticristo.”
Lars von Trier
Um casal em luto se isola no ‘Éden’, isolada cabana na floresta, onde esperam se recuperar de uma perda e do casamento em crise. Porém, a natureza assume o curso e as coisas vão de mal a pior...
CONFISSÃO DO DIRETOR:
Há dois anos, sofri de depressão. Foi uma nova experiência para mim. Tudo, sem exceção, parecia sem importância, trivial. Não conseguia trabalhar. Seis meses depois, apenas como um exercício, escrevi um roteiro. Foi um tipo de terapia, mas também uma procura, um teste para ver se eu ainda faria algum filme.
O roteiro foi finalizado e filmado sem muito entusiasmo, feito como se eu estivesse utilizando apenas metade da minha capacidade física e intelectual. O trabalho no roteiro não seguiu o meu modus operandi habitual. Cenas foram acrescentadas sem razão. Imagens foram compostas sem lógica ou função dramática. No geral, elas vieram de sonhos que eu tinha no período, ou sonhos que eu tive anteriormente.
Mais uma vez, o assunto foi a “natureza”, mas de uma forma diferente e mais direta do que antes: de uma maneira mais pessoal.
O filme não contém nenhum código moral específico e apenas possui o que alguns chamariam de “necessidades básicas” de um enredo.
Eu li Strindberg quando eu era jovem. Li com entusiasmo as coisas que ele escreveu antes de ir a Paris e tornar-se um alquimista e durante esse período dele lá... o período depois chamado de “crise infernal” – foi o Anticristo minha “crise infernal”? Minha afinidade com Strindberg?
De qualquer forma, não posso oferecer nenhuma desculpa por Anticristo. Além claro, da minha crença absoluta no filme – o mais importante de toda minha carreira!
Lars von Trier, Copenhagen, 25/03/09.
SINOPSE:
Um casal (interpretado Willem Dafoe e Charlotte Gainsbourg) devastado pela morte de seu único filho se muda para uma cabana isolada na floresta Éden, onde coisas estranhas e obscuras começam a acontecer.
A mulher é uma intelectual escritora que não consegue se livrar do sentimento de culpa pela morte do filho, e ele, um psicanalista, tenta exercer seu meio de trabalho para ajudar a esposa.
Anticristo é divido em partes: Prólogo e Epilogo e ainda capítulos que se passam na floresta do Éden: Dor, Luto, Desespero e Os três Mendigos
Site Oficial:
http://www.antichristthemovie.com
Site California Filmes:
Http://www.californiafilmes.com.br
FICHA TÉCNICA:
Título: Anticristo (Antichrist)
Direção: Lars Von Tries
Elenco: Willem Dafoe e Charlotte Gainsbourg
Duração: 104 min
Câmera: Digital Cameras RED + Phantom
Ratio: 1:2,35
Formato: 35 mm color / DCP
Som: Dolby Digital 5.1.
Língua: Inglês
Ano de Produção: 2009
Classificação: 18 anos
ELENCO:
WILLEM DAFOE
Willem Dafoe tem características físicas nada convencionais, com isso, manteve a conduta de seguir com personagens, que são geralmente figuras marginais e/ou excêntricas. Com formação no teatro, fez sua estréia cinematográfica no obscuro O Portal do Paraíso (1980). Mas foi notado pela primeira vez em Viver e Morrer em Los Angeles (1985), no papel de um vilão sádico.
A partir desse ponto sua carreira tomou a direção ascendente. Oliver Stone o chamou para interpretar o sargento Elias de Platoon (1986) e Martin Scorsese o dirigiu em A Última Tentação de Cristo (1988) onde interpretou Jesus Cristo. Esses dois filmes lhe renderam indicações ao Oscar de Melhor Ator.
Um ator versátil e muito requisitado, já foi dirigido por grandes cineastas como Abel Ferrara em Go Go Tales (2007) e Sam Raimi em Homem-Aranha (2007). Dafoe havia travalhado com von Trier anteriormente em Manderley (2005).
Filmografia selecionada:
• Um Segredo entre Nós (2008), dirigido por Dennis Lee
• Go Go Tales (2007), dirigido por Abel Ferrara
• A Férias do Mr. Bean (2007), dirigido por Steve Bendelack
• O Plano Perfeito (2006), dirigido por Spike Lee
• Manderlay (2005), dirigido por Lars von Trier
• o Aviador (2004), dirigido por Martin Scorsese
• A vida marinha com Steve Zissou (2004), dirigido por Wes Anderson
• Era uma vez no México (2003), dirigido por Robert Rodriguez
• Auto Focus (2002), dirigido por Paul Schrader
Melhor Ator Coadjuvante - Chicago Film Critics Association Awards
• Homem Aranha (2002), dirigido por Sam Raimi
• A Sombra do Vampiro (2000), dirigido por E. Elias Merhige
Indicadao como Melhor Ator Coadjuvante
• Psicopata Americano (2000), dirigido por Mary Harron
• eXistenZ (1999), dirigido por David Cronenberg
• O Paciente Inglês (1996), dirigido por Anthony Minghella
• O Dono da Noite (1992), dirigido por Paul Schrader
• Coração Selvagem (1990), dirigido por David Lynch
• Mississippi em Chamas (1988), dirigido por Alan Parker
• A Última Tentação de Cristo (1988), dirigido por Martin Scorsese
• Platoon (1986), dirigido por Oliver Stone
Indicadao como Melhor Ator Coadjuvante
• Viver e Morrer em Los Angeles (1985), dirigido por William Friedkin
CHARLOTTE GAINSBOURG
Ganhadora do prêmio de melhor atriz no Festival de Cannes de 2009, a tímida Charlotte Gainsbourg é atriz e cantora.
Nascida na Inglaterra, Charlotte é filha do poeta e cantor francês Serge Gainsbourg e da atriz Jane Birkin. Dessa forma, cresceu em uma família ligada ao teatro e à música, atuando em o seu primeiro filme em 1984, Paroles et musique. Em 1986 ganhou o César (o Oscar francês) de atriz mais promissora, pela sua participação no filme L'éffrontée e, em 2000, voltou a ganhá-lo, desta vez de melhor atriz coadjuvante no filme La Bûche.
Recentemente atuou em 21 Gramas (2004) ao lado de Sean Penn, e ainda esteve nos filmes Sonhando Acordado (2006) de Michel Gondry e em Não Estou lá (2007) onde foi dirigida por Todd Haynes.
Para além da sua carreira como atriz, gravou dois álbuns e cantou a canção-título de um dos seus filmes. Como curiosidade, é de Charlotte a voz que abre a canção “What it Feels Like for a Girl”, do álbum “Music” (2001) de Madonna.
A Revista americana “Vanity Fair” em 2007 elegeu Charlotte a mulher mais elegante do planeta, e hoje ela é musa da grife de roupas Gérard Darel, sobe o título de: “uma nova elegância sem artifício”.
Atualmente Charlotte Gainsbourg vive e trabalha em França, onde é casada com o ator e realizador Yvan Attal, pai dos seus dois filhos.
Filmografia selecionada:
• Persecution (2008), dirigido por Patrice Chéreau
• Eu Não Estou Lá (2007), dirigido por Todd Haynes
• Novo Mundo (2006) dirigido por Emanuele Crialese
• A Noiva Perfeita (2006) dirigido por Eric Lartigau
• Sonhando Acordado (2006), dirigido por Michel Gondry
• Lemming - Instinto animal (2005) dirigido por Dominik Moll
• 21 Gramas (2004), dirigido por Alejandro González Iñárritu
• La bûche (1999), dirigido por Danièle Thompson
Cesar Award melhor atriz coadjuvante
• Jane Eyre - Encontro com o amor (1996), dirigido por Franco Zeffirelli
• La petite voleuse (1988), dirigido por Claude Miller
• L’effrontée (1985), dirigido por Claude Miller
Cesar Award Atriz Promissora
DIREÇÃO E ROTEIRO: LARS VON TRIER
O cineasta dinamarquês Lars von Trier nasceu em Copenhague em 30 de abril de 1956. A partícula "von" foi adotada por Lars von Trier durante o período em que esteve no Danish Film School. O motivo para sua inclusão no sobrenome foi o apelido que seus amigos da época lhe deram.
Ficou conhecido mundialmente após fundar, junto com Thomas Vinterberg, o manifesto Dogma 95, no qual há 10 regras para a produção de filmes, como: não usar cenários, não usar trilha sonora, usar apenas câmera de ombro... Seu único filme que segue essas regras é: Os Idiotas.
Lars von Trier tem sempre seus filmes exibidos no Festival Cannes. Com Europa (1991), ganhou três prêmios, entre eles, o do Juri, em 1996 ganhou a Palma de Ouro com Ondas do Destino, prêmio que se repetiu em 2000 com o filme Dançando no Escuro que ainda concorreu ao Oscar de Melhor Canção. Os dois filmes da trilogia "América - País das Possibilidades", Dogville e Manderley concorreram também a Palma de Ouro.
No Festival de Cannes, desse ano (2009), Lars von Trier foi o grande polêmico da edição, com Anticristo. O filme dividiu opinião no festival, alguns críticos amaram, outros odiaram e as sessões de imprensa foram marcadas por aplausos e vaias. Durante a coletiva de imprensa, um jornalista britânico exigiu que o diretor explicasse Anticristo. Lars von Trier respondeu que não deveria explicar nada, e que eles (os jornalistas e público) eram seus convidados, e não ao contrário.
Para o futuro Lars Von Trier trabalha em um projeto pessoal que roda 3 minutos de filme todos dias, em diferentes locações da Europa. Sua intenção é realizar este trabalho durante 33 anos e, como teve início em 1991, a previsão é que o filme seja lançado apenas em 2024.
Ainda para terminar a trilogia “América – País das Possibilidades” o diretor já anunciou o começo da pré produção do filme Wasington, previsto para 2010 e o romance Caroline Mathildes år.
Filmografia:
• O Grande Chefe (2006)
Golden Shell nomination - San Sebastián International Film Festival
• Manderlay (2005)
Cannes Film Festival (official selection)
Toronto International Film Festival (official selection)
• As Cinco Obstruções (The Five Obstructions, 2003)
Toronto International Film Festival (official selection)
Sundance Film Festival (official selection)
• Dogville (2003)
Cannes Film Festival (official selection)
Toronto International Film Festival (official selection)
• Dançando no Escuro (2000)
Palme d’Or - Cannes Film Festival
• Os Idiotas (1998)
Cannes Film Festival (official selection)
• Riget II (The Kingdom II, TV, 1997)
Venice Film Festival (official selection)
• Ondas do Destino (1996)
Grand Prix - Cannes Film Festival
Toronto International Film Festival (official selection)
• Riget I (The Kingdom, TV, 1994)
Best Director - Karlovy Vary
International Film Festival
• Europa (1991)
Jury Prize - Cannes Film Festival
• Medea (TV, 1988)
• Epidemic (1987)
Cannes Film Festival (official selection)
• Forbrydelsens Element (Element of Crime, 1984)
Grand Prix - Cannes Film Festival
• Befrielsesbilleder (Pictures of Liberation Images of Relief, 1982)
Berlin International Film Festival (official selection)
ANTHONY DOD MANTLE - Diretor de Fotografia (selecionada)
• Quem quer ser um Milhonário? (2008), dirigido por Danny Boyle
• En mand kommer hjem (When a Man Comes Home, 2007) dirigido por Thomas Vinterberg
• O Último Reid a Escócia (2006), dirigido por Kevin Macdonald
• Manderlay (2005), dirigido por Lars von Trier
• Querida Wendy (2005), dirigido por Thomas Vinterberg
• Trainspotting (2004), dirigido por Danny Boyle
• Dogville (2003), dirigido por Lars von Trier
• Amor é Tudo (2003), dirigido por Thomas Vinterberg
• Extermínio (2002), dirigido por Danny Boyle
• Julien Donkey Boy (1999), dirigido por Harmony Korine
• Mifune (Mifune’s Last Song, 1999) dirigido por Søren Kragh-Jacobsen
• Festa de Família (The Celebration, 1998), dirigido por Thomas Vinterberg
REVIEWS:
“Anticristo não é um filme que deve ser explicado... Deve ser atravessado e enfrentado. Deslindá-lo, principalmente à luz do elemento inesperado que Von Trier introduz no desfecho, ao recapitular aquele lindíssimo prólogo, é tarefa para os dias ou semanas seguintes... A única certeza que se pode ter, aqui, é a de estar diante de algo raro, se não único – um artista de coragem absoluta, e de despudor irrestrito.” Isabela Boscov – Revista VEJA – 26 de agosto de 2009
**** “Não há respostas fáceis nesta hipnótica sessão de análise que traz enigmas e simbologias a ser decifrados pelo espectador – e eis aí um dos maiores méritos desde belíssimo trabalho de significados plurais.” Miguel Barbieri Jr. – Revista VEJA São Paulo / Rio – 26 de agosto de 2009
“Mais uma vez o enfat terrible Trier cumpriu a meta de chocar... Ela (Charlotte Gainsbourg) realmente salvou Anticristo do fracasso. No meio do caos imposto pelo diretor, a atriz francesa achou forças para compor uma personagem perigosa, imprevisível e comovente. Eva em estado puro.” Luís Antônio Giron – Revista Época – 24 de agosto de 2009
“É Lars von Trier, de Dogville, fazendo seu terror cabeça” Revista Época São Paulo – Agosto / 09
“Gritos, violência, sangue, sexo... Para fazer ANTICRISTO, o novo filme de Lars Von trier, a atriz francesa Charlotte Gainsbourg ultrapassou todos os seus limites e ajudou a compor um filme difícil e sem meios-termos. Para amar ou odiar.” Florecen Trédez – Revista ELLE – Agosto / 09
“... Promete gerar muitas discussões.” Roberto Larroude – Revista Sexy – Agosto / 09
“É difícil saber com certeza o que se passou logo depois de assistir a essa produção de terror. O prólogo, com cenas de sexo explícito, é das coisas mais belas vistas no cinema nos últimos tempos. São imagens que ficam, algo bem difícil nos dias de hoje.” Mariane Morisawa – Revista Preview – Agosto / 09
“As cenas vão do sublime (o prólogo em preto-e-branco) ao trash...” Thiago Stivaletti – Revista BRAVO – Agosto / 09
“O dom de exorcizar – No terror sexual ANTICRISTO, o diretor Lars Von Trier arrasta uma vez mais a mulher ao mundo mau.” Sean O’Hagan de Copenhague para Revista CARTA CAPITAL – 22 de julho de 2009
“Haneke vence em Cannes, mas ANTICRISTO não será esquecido” Manchete da Agencia REUTERS por Mike Collet-White e James Mackenzie 25/05/2009
“ANTICRISTO, de Lars von Trier, leva gelo à espinha do público de Cannes” Portal G1 – Diego Assim em Cannes 17/05/2009
“Tão perturbador quanto o filme é saber que temos todos uma violência latente que pode ser desencadeada em situações-limite. Cabe controlá-la, o que no cinema de Lars Von Trier significaria uma concessão ,algo que definitivamente, não seria compatível com o cineasta que já declarou que “gostaria de tentar reinventar o cinema” Tuna Dwek – Magic Bus e Site Rubens Ewald Filho
O Polêmico filme do Festival de Cannes 2009:
Depois das duas exibições do filme ANTICRISTO para imprensa durante o festival de Cannes, muito se falou a respeito de respostas polêmicas que o diretor teria dado, como: “Eu sou o melhor diretor do mundo”.
O site do festival disponibiliza o vídeo da coletiva de imprensa. No vídeo é possível ver que respostas como essas, foram dadas de forma irônica devido a uma pergunta extremamente agressiva de um jornalista britânico, Baz Bamigboye, do tablóide Main Online. http://bazblog.dailymail.co.uk/2009/05/index.html
Para ver o vídeo na integra acesse:
http://www.festival-cannes.com/en/mediaPlayer/9902.html
Agradecimento: João Marcelo F. de Mattos
UM CAIXÃO A CAMINHO DE CASA - ENTREVISTA
Entrevista da FILM #66
publicada pelo Instituto de Cinema Dinamarquês Maio 2009
Knud Romer, que participou de Os Idiotas de Lars von Trier, em 1998, conversou com o diretor em abril, quando ele tinha acabado de dar os últimos toques em seu mais recente filme, Anticristo.
“Você está parecendo um padre” von Trier disse quando nos cumprimentamos fora da sala de exibição no Filmbyen, onde eu veria seu último trabalho, Anticristo. O filme está tão envolto em segredos e precauções de segurança que eu me sinto como num cofre cheio de ouro. “Bom, estou aqui para salvar sua alma imortal”, ironizo.
Noventa minutos depois eu me levanto do meu lugar, profundamente abalado. Dirigindo de volta para casa, o medo e a paranóia voltam com tudo quando um carro funerário passa por mim na estrada.
A tarefa de entrevistar von Trier é um pouco intimidante. Um mestre da ironia e do sarcasmo, ele consegue dominar qualquer conversa e transformar você e suas piores feridas no assunto principal. Eu espero por ele no Filmbyen e a equipe me avisa que ele vai se atrasar. Acima das portas de seu escritório está escrito, em vermelho-sangue: “O caos reina”. Uma hora depois eles me avisam que Von trier quer fazer a entrevista em sua casa, vinte quilômetros ao norte dali. Estou tão nervoso que tenho medo de sair da estrada. Aproximando da pequena estrada que leva à casa dele, ao olhar para um pequeno riacho, bato meu carro numa cerca e em algumas pedras no estacionamento de uma outra casa, antes de ouvir, finalmente, uma voz gritando de uma porta aberta: “Knud, aqui”!
Von Trier está graciosamente personificado. Sua esposa, Bente, fez waffles e chá de ervas – as duas coisas mais relaxantes do mundo. Eu aceito as duas coisas quando percebo que a entrevista vai ser no porão, em dois pufes, e que von Trier está vestindo apenas meias pretas, uma cueca preta folgada e uma camiseta preta. De repente, já não sei mais o que vai acontecer – ainda mais porque eu pretendo discutir como, da mesma maneira que outros grandes diretores, ele continua fazendo sempre o mesmo filme, com variações diferentes e cada vez mais radicais. Isso, no caso dele, é um filme sobre um cara passivo e paranóico, megalomaníaco, que está acamado (como em Ondas do Destino) ou enterrado vivo (como em Anticristo), que abusa sexualmente de uma mulher enferma, ou mentalmente doente, até a morte, com o intuito de produzir imagens de um desejo sado masoquista e satisfazer sexualmente sua condição de voyeur. Minha paranóia está fora de controle – francamente, tenho medo der o próximo!
Eu não fui, claro. Não foi o Anticristo que eu encontrei lá no porão, mas o diretor, em seu estado mais simpático e aberto – ao ponto mesmo da quase nudez – que vive à beira do abismo, com uma consciência aguda da morte, para criar o rico visual apocalíptico que faz de o Anticristo uma obra-prima. Uma hora e meia depois, eu me arrependo de não ser um entrevistador melhor. É minha primeira vez, na verdade, e falo demais. Na saída, faço algo que não se faz – bem cuidadosamente – abraço von Trier para demonstrar meu agradecimento. De volta ao carro, meu nervosismo e medo e minha paranóia desaparecem e dessa vez – é verdade, eu juro – ultrapasso um carro funerário no meu caminho de volta para casa.
Lars von Trier: Estou muito ansioso para ouvir sua primeira pergunta. Lembre-se que tem que ser uma longa!
Knud Romer: Você fez vários filmes conceituais, nos quais, você se “escondeu”. Agora, Von Trier, o produtor de imagens apocalípticas está de volta. Por que você fez a primeira coisa e por que está de volta?
LvT: É tudo imagem para mim – mesmo que haja linhas feitas à giz no chão. Mas eu (hesita), eu estava me sentindo pra baixo, deprimido – eu cheguei ao fundo do poço – e duvidei que eu fosse capaz de fazer outro filme. Porém, retornei a alguns materiais da minha juventude. Eu era muito interessado em Strindberg*, especialmente na pessoa dele. Ele era incrível. Então tentei fazer um filme – nunca falei sobre isso antes e é difícil colocar em palavras – então tentei fazer um filme no qual eu tivesse que jogar a razão para longe por um momento.
KR: “O caos reina”.
LvT: Sim (ri). Produzi várias imagens que tentei juntar. Também, foi muito interessante fazer um filme com apenas dois personagens.
KR: Cenas de um Casamento (de Ingmar Bergman – 1973)…
LvT: Sim, Cenas de um Casamento, mas de uma maneira um pouco diferente. Eu gostei de Cenas de um Casamento. Achava um grande filme.
KR: Mas esse casamento está mais para Strindberg do que para Bergman.
LvT: Sim, eles se levam por caminhos mais próximos a Strindberg.
KR: A visão da mulher no seu filme é provavelmente mais ligada a Strindberg do que a Bergman?
LvT: Sim, e é provável que eu seja questionado sobre isso novamente, minha visão da mulher. Sempre tive uma visão romântica acerca da batalha dos sexos, sobre a qual Strindberg escrevia sempre. Continuamos a descrever as relações entre os sexos. Não sei se uma verdade inequívoca existe.
FILMES DE GÊNERO – ENTRE ASPAS
KR: Agora, você faz “filmes de gênero” – entre muitas aspas. Você continua contando a mesma história, a sua história, de formas diferentes, sob diferentes ângulos, como muitos outros cineastas e autores. Qual a sua relação com os gêneros cinematográficos? Ondas do Destino é um melodrama e Dançando no Escuro um musical. Anticristo é um suspense ou até mesmo um terror. Você descreveria sua relação com os gêneros de forma romântica ou como uma brincadeira?
LvT: O gênero é uma inspiração. A minha história é praticamente a mesma sempre. Estou bem ciente disso agora. Mas “gêneros” – acho que nunca seguirei um a risca, pois acredito que é necessário acrescentas algo a eles. Se eu fosse um chef, essa seria a minha versão de um porco assado clássico.
KR: Você parece se servir das expressões convencionais para depois vira-las de cabeça para baixo.
LvT: Eu cheguei a estudar Cinema na universidade e era muito fã de filmes de gênero. O Segredo das Jóias! Filme noir, sabe, isso tudo era fantástico.
KR: Uma pessoa preguiçosa que só assistir a seus filmes, terá conhecido todos os gêneros que existem.
LvT: Sim, todos no mesmo filme (ri). Mas eu não sou exatamente fiel aos diferentes gêneros. Não diria isso. Eu gosto quando as coisas ultrapassam as fronteiras.
KR: Alguns poderiam dizer que você – com um espírito cada vez mais transgressor – se aproxima de um dos gêneros mais tabus, a pornografia.
LvT: Bem, posso dizer que flertei com a pornografia, especialmente em Os Idiotas. De alguma forma, sexualidade e o gênero terror estão ligados. Mas pornografia? Não sei. É pornografia? Talvez. Mas a pornografia sempre me incomodou. Filmes pornôs são feitos com uma função. Geralmente, são muito crus.
LvT: Você faz perguntas difíceis. Mas, claro, o assunto é interessante. Eu realmente tento fazer com que meus filmes afetem as emoções do público. Porém, faço isso tentando criar uma imagem com a maior expressividade que eu conseguir para mim mesmo. Então eu posso dizer que, mesmo que seja um pouco de mentira, não penso no público quando faço meus filmes. Basicamente, satisfaço a mim mesmo com as imagens que eu crio. Ao mesmo tempo, não posso negar que elas são criadas com o objetivo de causar um efeito.
KR: O filme me causou muito medo. Não lido bem com o medo, ele me assombra. Se eu tivesse que criar aquelas imagens na minha mente primeiro e depois ter que enfrentar suas expressões emocionais profundas, eu teria um ataque nervoso.
LvT: Um filme é um reflexo pálido da realidade. Se você está numa sala de cinema e chora, é uma pálida imitação de uma emoção similar que você teve na vida real. Dessa forma, um filme é sempre algo de segunda mão, uma emoção emprestada da vida real. Se alguém se assusta é porque, provavelmente, tem algum medo que pode ser tirado dentro e ser usado durante uma experiência cinematográfica. Mas o cinema tem outras qualidades além de provocar emoções. ‘O Grito’, de Munch, por exemplo, que meu filho acabou de copiar num desenho. ‘O Grito’ é uma expressão magnífica de uma emoção, mas as pessoas não saem correndo e gritando de dentro dos museus por causa disso.
KR: Seus filmes são ‘gritos’?
LvT: Humm. Anticristo é o que mais se aproxima de um ‘grito’. Ele surgiu na minha vida em um momento em que eu me sentia muito mal. A inspiração pode ser encontrada em seu próprio medo, em suas próprias emoções. É daí que surgem as coisas, mas a partir disso, elas se transformam em outros elementos. Não é como se acontecesse uma telepatia entre o diretor e o público, como com Presto, essa é a chave que te coloca no estado em que eu estava. Não é assim. A razão pela qual o gênero terror – e eu nem estou certo de que o filme seja de terror – é interessante para mim, é porque eu gosto de fazer muitas coisas diferentes.
PARANÓIA PASSIVA
KR: Para mim é um alívio ver você retornar a algo 100% romântico, simbólico e universal com reminiscências católicas, e todo esse papo – é quase pré-romântico, gótico de alguma forma, Conde Drácula.
LvT: Sim, é mesmo. Eu não consigo analisá-lo, mas visualmente, estamos no gênero romântico, sem dúvida.
KR: Você diz que um filme não é uma cópia fiel de um pedaço da vida. A realidade de um filme de terror – uma experiência passiva e paranóica da realidade, aquela da megalomania, quando tudo gira em torno de você – indica um espectador passivo. É como medo do escuro: um estado passivo de paranóia que vemos sempre nos seus filmes, com o protagonista completamente paralisado, acamado, enterrado vivo!
LvT (ri): Sim. Não esqueça, eu li Edgar Allan Poe. Ele mesmo era uma figura romântica.
KR: É algo bonito os seus filmes expressarem medo do escuro, considerando que eles são feitos para a sala escura, onde o espectador está completamente vulnerável.
LvT: Uma vez pensei em fazer teatro porque pensei que era possível ficar mais assustado no teatro do que no cinema. Eu estava planejando fazer uma versão de O Exorcista no teatro. Eu me sinto mal no cinema com facilidade, mas no teatro, com mais facilidade ainda, porque é ao vivo. Ver uma peça é algo terrível para mim. Agora que estamos falando sobre públicos, parece que apenas uma parte muito pequena passa bem pela experiência. Mas estou muito feliz em relação a esse filme e às imagens nele. Elas vieram de uma inspiração que é real para mim. Demonstrei honestidade nesse trabalho. Acho que fiz isso em Os Idiotas e em outros filmes também. Mas nesse filme, essas imagens são o brilho de uma época bem anterior da minha vida.
KR: Você parece lidar com a “cena primária”, o primeiro encontro de uma criança com a sexualidade dos pais e a incapacidade de lidar com isso, que é um mistério mesmo. A criança não sabe o que está acontecendo, mas a experiência transporta-nos para um poderoso estado de medo e desejo. Segundo Freud, essa é a mãe de todas as cenas primárias, o medo que acaba com todos os outros.
LvT: Estou ouvindo…
KR: Certo, péssima pergunta… De certa maneira o filme é uma terapia, mas o terapeuta no filme não tem muito o jeito de terapeuta não. Ele é praticamente um sádico, certo?
LvT: Eu tive algumas experiências com terapia cognitiva, que parece ser baseada na forma como terapeutas fazem você superar o medo de cair num abismo, por exemplo, e esse é o fim do medo. Aparentemente, é uma forma bem sucedida de terapia. Claro, depende da altura do abismo. Eles se saem muito bem com pequenos declives. Ah, eu gosto de brincar e provocar, essas coisas. Os meus protagonistas masculinos são basicamente idiotas, que não entendem nada. Em Anticristo também. Então, é claro que as coisas dão errado! E como o medo é uma coisa e a realidade é outra, já podíamos esperar por isso. O medo pode mudar o mundo? Eu acho que sim – ele pode.
EXORCISMO
KR: Os personagens desse filme parecem estar completamente paralisados. Presos em uma cabana, as possibilidades de interferência e mudança são limitadas. Tudo que eles têm é uma chave de fenda e palavras para lutar contra uma realidade extremamente assustadora. Como o Catolicismo entrou na história? Filmes de terror antigos têm alho e crucifixo – assim como o Catolicismo. Parece haver muita bagagem católica nesse filme.
LvT: Certo. Mas eu não posso responder, porque sou um péssimo católico. Na verdade, eu nem sou religioso. Estou cada vez mais ateu.
KR: Ainda assim, o Catolicismo é a religião favorita dos que não acreditam, porque possui muitas expressões: rituais, ornamentos e por aí vai. Isso nos leva de volta ao que conversamos sobre subverter e brincar com os gêneros cinematográficos. O Catolicismo também oferece essa possibilidade.
LvT: Sim, ele pode fascinar e atrair – pelo menos eu fui. Eu vejo muita liberdade nessa possibilidade. Para mim, o Protestantismo sempre foi a grande besta. Mas a religião em geral é uma droga. Isso eu sei bem.
KR: Mas todo esse sistema de possibilidades está presente, tanto em Ondas do Destino quanto em Anticristo.
LvT: Eu deixo o livro do Nietzsche, O Anticristo, na meu criado-mudo desde os 12 anos de idade. É o grande estudo dele que desnuda o Cristianismo.
KR: Engraçado você mencionar sua idéia de transformar O Exorcista em peça de teatro, porque o exorcismo é algo muito católico. Você está exorcizando seus próprios demônios ou demônios da vida real? A psicanálise não é uma forma de exorcismo também?
LvT: Mas esses demônios são meus amigos. Talvez seja essa a vantagem de fazer filmes: os demônios, que podem causar dor quando você os conhece, têm outros papéis. Eles se tornam seus amigos quando você os coloca em um filme. Eles se tornam parceiros, cúmplices. Talvez, Munch tenha se sentido muito bem com ‘O Grito’. Munch, em certo momento, veio para a Dinamarca ser curado por um Dr. Jacobsen, que tratou dois grandes artistas, Strindberg e Munch. Ambos ressurgiram totalmente transformados. Munch, definitivamente, para o pior. Munch era bem mais interessante antes de vir para a Dinamarca e passar pelo que passou. A coisa pode ir bem longe, mas pelo menos é interessante, se o que dizem for verdade: quando a loucura retrocede, a qualidade do trabalho também cai. Pode ser…
KR: E vale o preço?
LvT: Nunca vale o preço! Eu não quero ser repetitivo, mas eu tenho me sentido muito mal!
KR: Deixe-me voltar para o tema da paranóia. O oposto da sensação de ser perseguido e ter medo é estar no topo de tudo e ter controle. Ao invés de ser perseguido por alguém que intimide, você se coloca na posição de dominador e controla os outros? É por isso que fica calmo e feliz quando está dirigindo um filme? LvT: Eu geralmente me sinto assim, mas não dessa vez. Eu não tenho medo de fazer filmes, nem de fazer uma declaração e ser julgado depois. Dessa vez, eu senti medo até de estar lá. Há uma certa claustrofobia envolvida na produção de algo grande assim e em ser o centro – e dessa vez, eu fui um centro muito fraco, mais do que nos meus outros filmes. Eu me senti, de fato, sem alegria nenhuma. Agora, que acabamos de fazer a mixagem do filme, eu estou me sentindo bem feliz. Tem sido muito bom, mas por outro lado, não houve êxtase. Alguns dos meus outros filmes eram como jogos, nos quais o diretor decidia o que e como jogar.
KR: Pode ser então que, com tanta coisa acontecendo, você tenha feito uma obra-prima como resultado? A força e a transgressão das imagens do filme são como uma luz que se apaga!
LvT: Uau! A diferença é que eu retornei a coisas da minha juventude, um material que tinha algo a dizer, incluindo coisas embaraçosas que evitei usar antes. É somente isso, em uma fase em que não estou me sentindo muito feliz.
KR: E isso tem alguma coisa a ver com envelhecer?
LvT: Acho muito que sim!
KR: Com quantos anos você está?
LvT: Farei 53, merda.
ATORES E O PÚBLICO
KR: Gostaria de conversar sobre seus atores. Como foi trabalhar com eles? Afinal você exigiu muito deles.
LvT: Trabalhei com Willem antes, em Manderlay. Ele é um cara ótimo. Perguntou se eu tinha trabalho para ele, então escrevi dizendo que tinha esse filme, mas que minha esposa não achava que ele toparia. Acho que isso o provocou. Mas ele não tem constrangimento em mostrar seu corpo e eu nem acho que ele deveria ter. Entramos em contato com algumas atrizes que realmente não tinham coragem para o papel. Charlotte se prontificou e leu o roteiro. Ela não teve dúvidas. Isso é a melhor coisa que pode acontecer: dois atores que estão de fato interessados em fazer o filme. E muito foi cobrado deles, então eles tinham que estar a fim. Os dois fizeram um ótimo trabalho! Nunca vi alguém trabalhar tão intensamente quanto Charlotte. O roteiro dela está cheio de notas que, ainda bem, ela não quis mostrar para ninguém. Muito, muito dedicada.
KR: Como você se sente em relação à reação que pode obter em Cannes?
LvT: A platéia de Cannes é geralmente muito aberta. O que não pode ser mostrado? Sexo?
KR: Há um certo pudor em relação aos órgãos genitais.
LvT: Eu prefiro pensar que ainda tenho um público que aprecia quando as coisas são mostradas.
KR: Você acredita que as crueldades nesse filme, a manifestação extremada, terão algum efeito sobre quem assistir ao filme – ou seja, interferir na recepção?
LvT: Não faço idéia. Eu quero que as pessoas vejam o filme, claro. Uma carreira é como uma série de perguntas para um certo grupo. Se eles acompanham toda a jornada, eles são “minha” gente. Mas acima de tudo, eu quero que o filme encontre seu público.
KR: Isso é um fetichismo, não é, ser cultuado? Acaba que você também é uma figura de fetiche …
LvT: É!
KR: Por exemplo, você usa uma câmera especial que é capaz de filmar em velocidade extremamente lenta. Ao invés de algo “pá-pum, muito obrigado, moça”, você segue na direção oposta: sofrimento estático, medo estático, paranóia estática – tudo ressaltado por imagens em câmera tão lenta, quase fixas.
LvT: Há muito tempo eu tive a idéia de fazer uma cena longa apenas ao som de uma ópera. E mergulhando de volta na caixa de brinquedos da minha memória, lá estava a câmera lenta, que se tornou uma coisa muito simples de fazer e tem sua beleza particular. No fundo, não sou muito fã de fazer coisas utilizando técnicas antigas. Mas fiz vista grossa para isso, porque esse é um filme urgente, praticamente um salva-vidas. Eu tinha que fazer alguma coisa, ou iria voltar para a cama e ficar olhando para a parede. Muitas das imagens do filme vieram de viagens imaginárias que fiz durante minha vida. Aprendi algumas técnicas do xamanismo e encontrei muitas imagens nessas viagens. Tem essa batida de tambor que te coloca num estado de transe e te leva para um mundo paralelo. É muito interessante e muito divertido também. Nunca experimentei LSD, mas é para ser como uma viagem de ácido, sem o ácido.
KR: É engraçado como continuamos falando as mesmas coisas, de maneiras diferentes. Há sempre uma atitude passiva em relação ao que se ama, imagens estáticas, imagens extasiadas, paranóia passiva, medo e voyeurismo – tudo para satisfazer um desejo sado masoquista.
LvT: (sorri) Claro, os rótulos ajudam!
KR: Não negue! Uma certa dose de inclinações perversas faz parte de qualquer vida minimamente natural e saudável.
LvT: Sim, vamos acreditar nisso, nós dois, ou seríamos execrados! Minhas perversões, que estão refletidas nesse filme, não são novidade. Apenas o como é diferente aqui. E porque uma parte do material tem origem na minha juventude, pode ser, sem razão evidente, arrebatador. As emoções e o medo tiveram que ser perseguidos até a última gota de nosso sangue. Esse é um filme mais infantil, eu diria.
KR: Alguns poderiam chamá-lo de pesquisa sobre a sexualidade infantil.
LvT: Sério? É, pode ser! Sem dúvidas. Explica bem!
KR: Na verdade, isso nos leva de volta ao começo, sua visão romântica de Strindberg.
MULHERES
KR: Nicole Kidman chegou a perguntar em algum momento porque “você é tão mau com as mulheres”? Acima de qualquer coisa, Strindberg era conhecido por sua misoginia. Eu sei que você não detesta as mulheres. Mas você não tem medo de ser cobrado ao levar a misoginia ao extreme? A sexualidade feminina como o mal. Como a serpente no Paraíso, que merece ser punida. Isso é tudo uma brincadeira romântica?
LvT: Acabei de ver um documentário sobre caça às bruxas. Diga o que quiser, mas essa história é incrível. É um material excelente. Eu não acredito em bruxas. Não acredito que mulheres ou sua sexualidade seja o mal, mas é assustador. É importante ter liberdade quando está fazendo um filme. Quem se importa com o que eu penso? Algumas imagens e conceitos são interessantes em diferentes maneiras de combinação. Eles mostram partes da alma humana e das ações humanas. Isso é interessante. Eu também me provoco, você sabe. Minha mãe era uma defensora ferrenha dos direitos da mulher. Eu sou muito aberto em relação à igualdade entre os sexos. Eu só não acredito que isso vá de fato acontecer um dia. Os sexos são muito diferentes, ou também não teria graça. Não acho que mulheres devam ser subjugadas, ainda mais com violência. É claro que sou contra isso. A caça às bruxas era algo realmente horrível. Mas a imagem da bruxa tem tantos pontos de fascínio que – porque eu deixei esse filme surgir para mim, ao invés de pensá-lo – o que acabou indo parar no filme tende mais ao caricato. É como pendurar uma rede cata-mosquito: pensamentos e imagens podem ficar presos e entram para o filme. Porém, me chamar de misógino é equivocado.
Knud Romer, nasceu em 1960, atuou em Os Idiotas, de Lars von Trier, e é co-roteirista de Offscreen, filme de Christoffer Boe. Romer estudou Literatura Comparada na Universidade de Copenhagen e trabalhou muitos anos com propaganda. Seu romance autobiográfico, Den som blinker er bange for døden (He Who Blinks Is Afraid of Death) de 2006, foi um bestseller na Dinamarca e foi vendido para mais de 12 países. O livro recebeu um prêmio de vendas na França, Le Prix Initiales d’automne, e o prêmio espanhol Calamo de literatura. Uma tradução para o inglês está prevista para 2010, pela editora Serpent’s Tail.
*August Strindberg - Fonte: Wikipédia
August Strindberg (22 de janeiro de 1849 - 14 de maio de 1912), pintor, escritor e dramaturgo sueco, é autor, entre outros, de O Pelicano. Figura ao lado de Henrik Ibsen, Søren Kierkegaard e Hans Christian Andersen como o maior escritor escandinavo. É um dos pais do teatro moderno. Seus trabalhos são classificados como pertencentes os movimentos literários Naturalismo e Expressionismo.
Frequentou a Universidade de Uppsala, tendo-a abandonado para trabalhar como jornalista e actor, até que ingressou na Biblioteca Real (1874) o que lhe permitiu assegurar o seu futuro econômico. As suas primeiras peças teatrais denotam influências de Ibsen e Kierkegaard e aí transparece uma personalidade amarga e torturada: O Livre Pensador (1869), Hermion (1869), O Professor Olof (1872), A Viagem de Pedro Afortunado (1882) e A Mulher do Cavaleiro Bent (1882).
O fracasso do seu primeiro matrimônio com Siri von Essen (1877-1891) deu à sua obra um tom misógino, que está patente, em especial nos contos de Esposos (1884) e nos dramas de carácter naturalista Camaradas (1897), O Pai (1887) e A Menina Júlia (1888), a sua obra mais importante.