Henry Jaepelt era uma presença constante em praticamente todo o material alternativo impresso que chegava até mim quando eu comecei a fazer fanzines, no final dos anos 80/inicio dos 90. Seu traço elegante sobre figuras distorcidas de aparentes universos paralelos em muito ajudavam a enriquecer o cenário da época, e sua produção era grande e rica. Tive inclusive a honra de ter uma das capas de meu fanzine, o Escarro Napalm, desenhada por ele. Quando eu parei de fazer zines (não por culpa da internet, ok? Foi bem antes disso, e o principal motivo foi cansaço mesmo, não conseguia mais dar conta de forma satisfatória da quantidade de correspondências que só fazia crescer) perdi também a maioria dos meus contatos, entre eles o de Henry. Mas sabia que ele continuava a produzir, pois ainda via seus desenhos esporadicamente publicado nas paginas de um jornal alternativo daqui, O CAPITAL (jornal de resistência ao ordinário). Somente quando comecei a usar a internet, especialmente o orkut, comecei a entrar novamente em contato com aquelas figuras maravilhosas e criativas que povoavam nossas caixas de correio naqueles saudosos tempos. Foi graças ao Orkut, por exemplo, que uma figura simpática me abordou numa fila pra comprar coxinha no Abril pro rock em Recife com a pergunta: “você é o Adelvan de Aracaju ? Te reconheci pelas tuas fotos no Orkut”. Era um conterrâneo do Henry e também um grande amigo dos tempos dos fanzines, o Edson Luiz da banda The Power of the Bira. Esse processo de reencontro segue a todo vapor – só recentemente me deparei, finalmente, com Henry jaepelt, via Orkut, e retomei uma velha amizade. Quero que vocês também conheçam (ou reecontrem) esse grande artista, e para que isso aconteça ofereço minha humilde colaboração abaixo, em forma de entrevista.
Comecemos do principio – Onde e quando você nasceu, e onde mora ?
Nasci aos 12 de Fevereiro de 1966, em Timbó (SC)... e moro em Indaial (SC), que é uma cidade vizinha.
Quando começou seu interesse por quadrinhos ? E quando você começou a desenhar? Fez algum curso ou foi autodidata ?
Mesmo antes de aprender a ler, eu ganhava muitos gibis de um tio-avô que era guarda-noturno ( ele tinha que fazer alguma coisa entre as rondas, né?), então sempre havia algum gibizinho novo , especialmente Disney, Fantasma e similares.Depois, aprendi a ler... e é que nem água morro abaixo até hoje.
Já o desenho, desde que aprendi a rabiscar alguma coisa. Coisa de moleque mesmo. Mas, com mais interesse, lá pelos 11 ou 12 anos, na escola. E a fazer quadrinhos propriamente, seqüências, colocar as coisas no papel e tal, em 1981.Os fanzines, comecei a contactar o pessoal lá por 86, pra conhecer e ver qual era o esquema e tal. A primeira colaboração de fato, foi no jornal de rock CONTRACORRENTE (Brusque/SC), com ilustrações a ver com rock , obviamente. Uma festa pra quem nunca tinha visto algo underground. Depois , publiquei ilustrações no MANY COMICS (Bagé/Pelotas – RS) e HQs no LEGENDA (São Luis/MA) e HIPERESPAÇO(Sto.André/SP), tudo em meados de 1987. E assim foi indo... em 89, fanzines argentinos, e na década de 90, Portugal, Espanha, Finlândia, Croácia, USA, Alemanha... sem falar nos intercâmbios de exemplares de zines e tal , já que eu sempre gostei muito do hábito da correspondência, troquei muita figurinha com pessoas de quase toda a Europa, alguns países Africanos, nas Américas e até me correspondi com um camarada em Bora-Bora – você aprende muita coisa, vê e lê muita coisa , e acaba se voltando para a busca de uma identidade própria – tipo os caras te perguntam: “que tipo de quadrinho vocês fazem no Brasil?” e que situação ingrata, não é mesmo?? O que a gente responde? Essa “identidade” infelizmente falta pra maioria, que prefere só desenhar super-heróis calcados em modelos bem consagrados de composição visual...
Mas, apesar dos pesares, tamos aí...
Você desenha profissionalmente ou, apesar da inegável qualidade de seu trabalho, sempre teve esta atividade apenas como um Hobby ?
Hobby, somente. Eu curto desenhar ... e até acho que se fosse querer explorar isso comercialmente, iria até sentir-me meio “vendido”, mercenário, sei lá. É uma opinião pessoal unicamente voltada pro meu trabalho – EU, Henry Jaepelt, não me sentiria legal.
A tal “qualidade”- discutível - talvez seja devido a esse desinteresse comercial – você faz porque gosta, porque se diverte com essa atividade. Você desenha porque gosta de desenhar, experimenta visuais porque gosta de experimentar visuais... e não porque é “pago pra isso”. “Não me desce”, como dizem....
Então, talvez até por isso, eu fico muito puto quando sacaneiam meus desenhos, alteram as coisas que eu rabisquei, acrescentam, cortam, etc. E infelizmente, os zines involuíram até um estágio de mediocridade tal, que está bem comum encontrar esses tipinhos.
Imagino que você seja contemporâneo de alguns ícones dos quadrinhos brasileiros, como Mozart Couto ou Watson Portela – com este ultimo sinto uma afinidade maior no seu trabalho, especialmente com a série “paralelas”, do Watson (muito embora as semelhanças possam advir de influencias em comum entre os dois, notadamente a Metal Hurlant e quadrinho Europeu em geral, me corrija se estiver errado) – De qualquer forma, o quadrinho nacional influenciou de alguma maneira no seu estilo de desenhar ?
Não exatamente. Eu tenho 43... eles , claro, têm bem mais... e eu vi o trabalho dos dois surgir nas bancas e tal. Mas, com certeza , pelo fato desses camaradas mostrarem que se podia fazer alguma coisa diferente, em termos de HQ que este modesto rabiscador está aqui. A revista Spektro que me apresentou ao trabalho de Watson foi algo único e “ponto”. Toda a linha da Vecchi, com o surgimento da cena “faroeste”, com Chet (cujo nome me parece , deveria ser “Lester”, mas, a Editora, etc,etc,etc) e as conseqüentes outras revistas, toda a linha de terror/fc ... onde mais se fez isso? Grafipar, claro... mas o pontapé inicial foi lá na Vecchi.
Watson foi o primeiro desenhista nacional cujo trabalho conheci e acompanhei com vivo interesse, logo, há uma certa influência, SIM. Que expandi tempos depois , ao conhecer o quadrinho europeu, em especial o franco-belga. Adelvan-Olhos-de-Lince!!!
Mozart Couto, conheci o trabalho um pouco depois. ]
De qualquer maneira, fui influenciado pelo quadrinho nacional , da ótima safra que tivemos naquela época, com Vecchi e Grafipar, principalmente. Foi o estopim, aquilo que me fez ver que tinha jogo ali, entendes?
E hoje, o que temos??????
Como e quando você entrou em contato pela primeira vez com o universo dos fanzines ? Você faz ou fez fanzines ou apenas colaborava com as publicações de terceiros ?
Está meio que respondido anteriormente a parte dos contatos e tal. Fanzines, fiz também... em 88 , Cidno da Silva Rego ( carioca radicado em São José/Floripa/SC) , Paulo César Will ( de São José/SC) e eu lançamos o primeiro CRAU!. Tinha 36 páginas. Em 89, acrescidos do Paulo Aloísio Priess ( Blumenau/SC) foi lançado o CRAU! II , com 80 páginas... o III saiu mais para colaboradores em 91, com 136 páginas. Tudo meio-ofício , hqs de humor, poéticas, protesto contra algumas babaquices da hq “nacional”, punk, heavy Metal, experimentações em geral, desde a primeira edição. A coisa começou meio que por acidente, Cidno quis fazer uma entrevista ao vivo, com gravador, numa das visitas minhas à casa dele, aí tava lá também o Will, o Daniel HDR (Porto Alegre/RS) entre outros aficcionados de hq de floripa e região... fizemos a entrevista e aí veio a idéia etc e tal.
Além desses, fiz vários outros, em parceria e mesmo em “carreira solo” , a partir de 89 até agora no início do século. Penso em reunir um material antigo numa coletâneazinha pra distribuir entre os amigos e talvez fazer um zine só ilustrando textos dos outros ... depende do tempo livre que eu tiver.
As publicações “de terceiros”, como você deve se lembrar, colaborei com quase qualquer coisa que tenha sido lançada. Com o detalhe de ser sempre algum material inédito – sem replay de hqs e ilustrações. Os repetecos, me parece, jogam contra o investimento do editor do zine, que gasta uma puta grana e depois vê aquilo que ele lançou em dois ou três OUTROS zines... pô, meio besta , isso, não???
Cite alguns dos fanzines que, no seu ponto de vista, marcaram historia – aproveitando, faça um breve histórico de sua relação com o mundo dos fanzines, como você viu a evolução desse tipo de publicação através do tempo, e como ela se encontra hoje – os fanzines de papel tendem a desaparecer com o advento da internet ?
Citar zines? Rapaz, essa é fogo. Não posso preferir esse ou aquele. Eu gosto de quase tudo onde colaborei... fica bem sem graça esse lance, hein?Em geral, os zines que circulavam em finais dos anos 80 e até a metade da década de 90 eram mais especiais, e você fez parte dessa cena, sabe disso muito bem: todos foram importantes, pois contribuíram para uma cena que era FORTE e tinha PERSONALIDADE. Vou citar um sobrevivente, o TCHÊ, que está na ativa desde 1987, eu fiz a capa do número 1 e ainda hoje o Denílson lança alguma coisa.
Quando comecei , tinha contato com poucos zines, mas, uma coisa sempre leva à outra, e quem eu não encontrava, ME encontrava e assim por diante. Houve o boom, nos anos 80 , uma afirmação nos anos 90... e a queda. Sabe, a gente fazia tudo datilografado, quando aparecia alguém com um computador pra emprestar... OOOOOOOOOOOOOOOHHHHHH!!! Mas, agora todos – ou quase todos – têm computador... não deveria ser mais fácil? O que se perdeu?
É uma opinião meio negativista, mas, eu acho que não perdemos... ganhamos! Ganhamos em comodismo, em falta de garra, em desânimo... e a mediocridade cuidou do resto. Como diz aquela frase “Os idiotas ainda dominarão o mundo...por uma simples questão de superioridade numérica”. Não tenho respostas, mas um monte de perguntas que incomodam....
Talvez as coisas como nós as conhecemos naquela época, realmente desapareçam por completo dentro de mais alguns anos ( ou meses). Zine na Internet? Pode até ser... quem sabe?
Você se lembra do cheiro dos gibis da RGE... ou o cheiro dos dos gibis da Epopéia Tri, da EBAL? Eu lembro... mas, a internet e internautas em geral sequer desconfiam do que diabos eu esteja falando...
Realmente, eu não sei o que virá.... algo há de vir... mas, não sei o que é...nem se gostará de nós...
O mercado dos quadrinhos profissionais no Brasil é especialmente complicado. Você, em algum momento, se interessou em disputar espaço nesse mercado ? Já publicou profissionalmente em alguma revista “de banca” ? - lembro-me apenas de algumas participações suas na Rock Brigade há bastante tempo, como foi sua relação com a revista ?
Há quem diga que é inexistente. Se existisse algo mais nos moldes da Grafipar, talvez eu até fizesse alguma coisa. Mas, “pra ganhar dinheiro”, dificilmente. Tenho uma complicação com essas coisas. Fazer imitações de modelos ianques consagrados, não mesmo. Publiquei três adaptações de letras de Heavy Metal na Rock Brigade, em 1991. A primeira aparição foi a de “CAN I PLAY WITH MADNESS” do Iron, que fiz em 88 pra um zine lá de Três Coroas/RS, cuja capa anterior lembrava o Piece of Mind ...e aproveitei o gancho pra inventar alguma coisa a respeito. Veio a idéia de adaptar ao meu modo aquela letra. Então, em 91 por acaso enviei aquela hq pra revista, só por enviar. Quiseram publicar, e assim, fiz ALTERED STATE ( Sepultura) e BLOOD RED (Slayer)... e não recebi nada por isso, já que envolvia uma puta burocracia de direitos autorais etc. Mas, ficar meio que eternamente atrelado a “adaptações” e pegar carona numa banda conhecida etc e tal... optei por não dar continuidade e esses trabalhos. E a revista , na pessoa do FSF, com quem conversei, troquei cartas e etc, sempre se mostrou muito cordial e tal, apoiou o lance dos quadrinhos e assim por diante. Eu que preferi não continuar.
Aproveitando o gancho da Rock Brigade, sinto que seu trabalho é muito ligado à musica. Que tipo de musica você ouve ? quais suas bandas favoritas ? Toca algum instrumento ? Já tentou enveredar pelo campo da musica ou fez parte de alguma banda ?
Com absurda certeza!! Eu me acostumei a ouvir meus discos de vinil enquanto desenhava, desde o princípio, então, isso faz parte do que faço. Naquela época, por causa da parada estratégica solicitada pelo vinil, eu até me treinei a desenhar num certo ritmo... fazer determinadas coisas para durar “um lado”. Você , conhecedor daqueles artefatos, sabe do que estou falando. Ouço muita coisa. Minha coleção de cds é um pouco limitada – a variedade mesmo, está nos vinis, que eu tinha desde eruditos (Bach e Vivaldi), passando por Blues, rock, progressivos, psicodélicos, punks, alternativos, heavy, black, death... e por aí vai, nacionais ou estangeiros. Hoje em dia, ouço muito Cathedral, Black Sabbath (Dio), DIO, Therion, e todas aquelas coisas que você já viu no meu Orkut (pois é pessoas, o Henry Jaepelt tem perfil no Orkut, vocês podem entrar em contato com ele por lá), inclusive o André Matos ( que conheci na época do Viper, e foi um vinil causador de muito espanto!!), a maioria das bandas gaúchas dos anos 80, o glorioso Violeta de Outono , uma série de bandas alemãs que conheci por conta de minha irmã... música é música, e quando é boa, ta tocando!
Apesar de ter um ouvido mais ou menos treinado pra algumas coisas, nunca tentei aprender nenhum instrumento, logo também nunca tive banda, nem nada. Mas, talvez até tivesse feito isso, se o desenho não fosse mais prático ( e barato) naquela época...
Recentemente vimos mais uma vez mais uma editora (Pixel Media) se propor a publicar material mais adulto e de qualidade no Brasil e, mais uma vez, morrer na praia deixando séries importantes incompletas. Você vê alguma possibilidade de, um dia, haver uma consolidação do mercado de quadrinhos mais direcionado ao publico adulto no Brasil ?
Possibilidades.... bom, o mercado e o consumidor desse mercado (HQ) em nosso país é extremamente focado. A grana que esse mercado sugere seduz muita gente – e é uma boa grana – então, a praticidade envolvida é decisiva. Gosto muito do material publicado pela Pixel... são autores que enxergam outras possibilidades, outras formas, vêem um mundo mais complexo e rico...e tentam enveredar por ele. Por isso, a gente gosta. Mas, é algo restrito a alguns poucos teimosos e obstinados apreciadores do gênero... não somos “consumidores” propriamente, não no sentido mais faminto do termo. Consumimos essa linha editorial, com toda certeza... mas, somos minoria. Isso até nos distingue na multidão, com certeza.... somos aqueles malditos sujeitos que perguntam “por que?” , “não tem outro jeito?”... incômodos pra cacete.
Essa consolidação é também uma revolução. Principalmente, porque não há alternativas. O cara quer se dar bem com HQ, vai desenhar pra fora... nunca pensaram , por exemplo, em investir numa linha editorial brasileira, com temas da nossa realidade ... e VENDER esse material lá fora, se não der aqui dentro. O jogo inverso. Fazer hq nacional pra vender aqui dentro, dá pra ver que é arriscado... o jogo dos gringos é fazer, vender no mercado interno deles e EXPORTAR. É óbvio o que nós temos que fazer....
Mas, temos algum PRODUTO? Analisando do ponto de vista “empresa”... temos que ter um produto, qualidades, matéria-prima, exportar, atender outros mercados.... expandir horizontes, ver outras possibilidades...
Só que não se pensa dessa maneira.... então, continuam as dificuldades...
A única saída para o quadrinista brasileiro é o aeroporto ? – No caso não especificamente o aeroporto, mas buscar o reconhecimento no exterior, já que com o desenvolvimento das novas ferramentas de comunicação o profissional pode produzir em casa e enviar seu trabalho para fora tranquilamente e a baixo custo.
Esse mercado que nós temos sugere bem isso mesmo.
O que você anda fazendo, relacionado à sua arte, no momento ? Colabora com alguma publicação ou site ?
Bem pouca coisa. Faço mesmo o que me dá vontade e quando tenho um tempo legal pra fazer a coisa com capricho. Colaboro com quem queira que eu colabore e que respeite o meu trabalho... ontem, hoje... enquanto der. Basta entrar em contato.
Você se arrisca ou já se arriscou alguma vez por outros ramos das artes plásticas, como pintura a óleo, em tela, escultura ou coisas do tipo ?
Só uns trabalhos com aquarela... bem pouca coisa. Penso em desenvolver isso... preciso ter algo pra fazer na aposentadoria, não? O único problema é o tamanho das telas... teriam que ser meio grandinhas e teriam esses temas que você já sabe... talvez até fosse algo legal, tipo pôsters, camisetas... sei lá. Mas, você sabe: pintores só ficam valorizados depois que morrem... quem sabe?
Planos para o Futuro ?
Nada muito ambicioso. Estou organizando umas coisinhas pra fazer... voltando a trocar idéias com muita gente, inclusive pessoas que não tinha contato há uns 15/20 anos... reciclando. E jogando conversa fora com essa turma.
Muito obrigado por sua atenção e fique a vontade para suas considerações finais.
Valeu... sempre é bom falar alguma coisa. Corremos o risco de alguém ler /ouvir e passar a ter novas idéias, quem sabe até salvar a lavoura do mercado de hq.... hehheheheheh
pr Adelvan Kenobi
quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009
Começar de novo ...
Carnaval passou, e eis que o ano começa pra valer em Terra Brasilis. Boa oportunidade pra começar de novo com gás renovado. Façamos de conta que o ano começa agora e que foi ano passado que morreram Ron Asheton e Lux Interior. E pra começar com o pé direito, o programa de rock entra em contagem regressiva para seu Aniversário de 2 anos, prestes a chegar no programa de número 100. Teremos novidades para comemorar estas duas ocasiões tão especiais - fiquem de olho no blog do programa, que foi reativado.
segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009
Leonardo Panço é "gente que faz"
Li ontem, de uma sentada só (é apenas a segunda vez que eu consigo fazer isso em minha vida, a primeira foi com a biografia do Sepultura escrita pelo André Barcinsky), o segundo livro de Leonardo panço, "Caras dessa idade já não lêem manuais". Recomendo muito. Toda a verve ácida desse verdadeiro guerreiro do submundo roqueiro brasileiro em crônicas baseadas em fatos reais ou fantasiosos, porém com os dois pés fincados na "vida como ela é". Sexo, rock and roll (especialmente Interpol) e ... cachorros. Leia mais sobre na entrevista abaixo, extraida do e-zine http://moshinfuria.wordpress.com/
------------------
Saudações a todos, após um bom recesso regado a bebedeiras e muita diversão voltemos aos trabalhos para este o ano de 2009!
E logo de cara pra esculhambar geral, trazemos a você visitante miguxito um “bate-papo” com Leonardo Panço, guitarrista da banda Jason, jornalista e escritor que acaba de lançar seu segundo livro intitulado de “Caras dessa idade não lêem manuais” pela Tamborete Records, gravadora de pequeno porte do próprio que apesar de tantas dificuldades encontradas se mantém de pé no meio underground.
Bem, esperamos que vocês curtam a “entrevista”, pois a mesma foi feita com muita dedicação, pois apesar de sermos amadores saibam que fizemos o possível pra que tudo ocorresse da melhor maneira.
MIF. Então panço, você parece ser um cara bem envolvido com aquilo que faz. Poderia nos dizer quando começou seu interesse não só pela música, mas pelo selo, literatura e todos os projetos em que você está envolvido.
Panço. Creio que pela música, tem muito tempo. Comprei o compacto da Blitz que tinha “Você não soube me amar” em 82, logo depois comecei a ouvir os roqueiros dos anos 80, fui no show do Ultraje em 85, do RPM, Legião, Biquíni. Vem de muito tempo. Até que em 86, 87, comecei a ouvir Replicantes e Garotos Podres e tudo mudou. Literatura não estou certo, mas eu leio e escrevo desde os 3 anos, minha tia me ensinou em casa. Minha mãe fala q eu andava com uma bolsa de livros e cadernos desde essa idade aí. Gravadora eu descobri que podia fazer isso há uns 12, 13 anos atrás mais ou menos. Comecei lançando umas fitas cassete como Panço Records e depois mudou pra Tamborete. Gosto da idéia de lançar o trabalho de outras pessoas. Acho uma pena que a maior parte delas, goste menos do que eu, porque quase todas não se esforçam quase nada. A Tamborete é bem pequena, realmente não é a melhor gravadora do Brasil nem de perto, mas os músicos lançam o disco, acabam a banda logo em seguida e pronto. Não dão à mínima se o CD tá ali numa estante apodrecendo.
MIF. Você acaba de lançar seu segundo livro intitulado “caras dessa idade não lêem manuais”. Do que se trata? Como está sendo feito à divulgação? Tem tido uma boa recepção pelo público?
Panço. Ele tem 46 crônicas e contos, mas não tem um assunto específico não. São relatos de viagens, tem ficção, tem mentiras, tem tudo. Fiz uma tour de 30 dias por sete estados e 13 cidades em novembro para promover o bichinho e alguns eventos no rio e um em Resende, no interior. Agora essa semana consegui finalmente enviar o livro para um monte de gente de imprensa e espero ir para o nordeste em seguida. Acho que tem tido uma boa recepção sim, mas não tá nem próximo do que eu preciso. Ainda está no começo, espero que melhore bastante. Tem tudo para isso acontecer com as resenhas saindo, essa entrevista e espero que muitas outras.
MIF. Sua publicação anterior “Jason, 2001 - uma odisséia na Europa” era um relato sobre a primeira tour européia da banda. Houve alguma contribuição direta ou indireta desta publicação no seu ultimo livro?
Panço. Acho que o que teve, foi à vontade de que o novo fosse diferente do primeiro. Menos relato, menos verdade, menos primeira pessoa, menos diário. Queria enganar mais as pessoas, nem tudo tem que ter acontecido e ser um fato.
MIF. Os selos e distros são uma ótima opção de apoio às bandas mais undergrounds. Com a disponibilização de álbuns para download na internet você acha que os mesmos perderam um pouco da sua forca? Existe alguma maneira de se adequar a essa realidade?
Panço. Pra mim as coisas já vinham devagar, já não conseguia vender muita coisa mesmo, então o download só enterrou, quase de vez. Quem gosta muito, ainda compra CDs, não sei até quando. Dizem que vão abrir uma fábrica de vinil aqui no rio. Caso isso aconteça, espero poder lançar alguns dos meus discos em LPs e pensar em projetos especiais, com tiragens limitadas. SMD também é legal, bem baratinho.
MIF. O Jason tem um público muito fiel aqui no nordeste, a que se deve toda essa identificação (se assim podemos chamar) entre a banda e o público nordestino?
Panço. Realmente não sei ao certo. Acho fantástico e todos nos orgulhamos muito dessa ligação com o nordeste. Já fizemos quase 80 shows por aí, então realmente é muito bom. Não sei se pela agressividade do som, pelas letras. Difícil dizer. Só espero que possamos voltar um dia, o que no momento realmente não é possível.
MIF. As preparações para o ultimo álbum do Jason, o “Regressão”, duraram pouco mais de um ano pelo que vemos no encarte. Mesmo com toda a experiência, quais as principais dificuldades encontradas pela banda durante este processo?
Panço. Foi o disco mais difícil de fazer por n motivos. Era o primeiro sem Vital e Flock para ajudar a compor. Eles só entraram em uma segunda fase do processo, colocando melodias e voz e letras, respectivamente. Ficou tudo mais em cima de mim, o que não estava acostumado, nem interessado em que acontecesse. Desouza acabou ajudando com riffs, etc. Tinha o fato de que durante o período de composição, fomos para Europa tocar, para o nordeste, eu trabalhava de noite e os outros dois dormiam de noite. Daí eu dormia e eles acordavam. N coisas.
MIF. Para o ano de 2009, podemos esperar por mais projetos do panço Jornalista e escritor ou do guitarrista? Há também alguma novidade da Tamborete para este ano?
Panço. É difícil dizer, mas tudo indica que escritor vai estar acima de tudo, mais ou menos perto de assessor de imprensa, pelo que tem acontecido até agora, as previsões. Realmente tocar tem ficado cada vez mais difícil.
MIF. Gostaríamos de agradecer a oportunidade e fique a vontade para suas considerações finais.
Panço. É muito difícil conseguir espaço para divulgar um livro no Brasil. As pessoas não lêem, muito mal foram alfabetizadas, então sempre é bom aparecer alguém interessado num trabalho assim. Obrigado pela atenção.
Para adquirir ao novo livro do Panço e outras publicações e produtos entre em contato com o mesmo através dos seguintes links:
http://www.myspace.com/leonardopanco
http://www.fotolog.com/leonardopanco
http://www.fotolog.com/tamborete
leonardoster@gmail.com
Para saber mais sobre a banda Jas0n:
http://www.bandajas0n.kit.net/
http://www.fotolog.com/jas0n
http://tramavirtual.uol.com.br/jas0n
quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009
Há uma luz que nunca se apaga
Lux Interior R.I.P.
Erick Lee Purkhiser, mais conhecido pelo codinome de Lux Interior - o famoso incendiário vocalista da banda americana The Cramps - faleceu ontem (04/fev) na Califórnia vítima de problemas cardíacos. Lux já estava com 62 anos, mas ainda continuava excursionando com a banda.
O Cramps surgiu em Nova Iorque na segunda metade dos anos 70 juntamente com toda a cena que se reunia no lendário clube CBGB. Sua mistura de rockabilly com punk rock logo ganhou o nome de "Psychobilly", embalado ainda mais pelas letras das músicas que falavam sobre zumbis, monstros, seres de outros planetas, rock'n'roll e garotas usando biquini com metralhadoras nas mãos.
Entre os diversos clássicos da banda estão "Can Your Pussy Do the Dog?", "Human Fly", "I Was A Teenage Werewolf" e é claro "Bikini Girls With Machine Guns". Lux deixa a sua esposa Poison Ivy, guitarrista e também líder do The Cramps, da qual ele era praticamente inseparável. Infelizmente a banda nunca se apresentou no Brasil.
www.uol.com.br
Um herói do rock, de salto e calcinha
"EU GOSTAVA dos B-52's até descobrir que, de dia, eles tiravam as perucas. Então perdi o interesse."
Lux Interior, vocalista dos Cramps, conversa com o amigo André Barcinski enquanto dirige do aeroporto de Los Angeles até a casa em que vivia com a mulher, Poison Ivy, guitarrista da banda. É a mesma casa de Glendale, região de L.A., onde Lux morou até morrer do coração, na semana passada, aos 62 anos.
Essa história de 2001 resume a trajetória demencial de Lux e os Cramps. Lux era de verdade, no palco ou fora dele. Foi buscar o Barça com a mesma calça justíssima de vinil e os mesmo sapatos femininos de salto muito alto e fino que usava nos shows. Em casa, nenhum objeto fabricado depois de 1962. Nem a TV.
Quem deveria estar escrevendo esta coluna é o Barcinski, o brasileiro que teve mais contato com os Cramps, em shows, entrevistas e tentativas de trazê-los ao país. Quase vieram em 92, para fazer um clipe dirigido pelo Zé do Caixão (a ideia de juntar Cramps e Mojica foi deste que vos escreve, modéstia à parte).
Se bobear, Cramps foi a banda que mais vi ao vivo. Em Boston, duas vezes, em San Francisco, trocentas, acho que em Londres também.
O clima era de abandono e descontrole. Lux vestia sempre calça de vinil preta de cintura ultrabaixa. Jaqueta de vinil também, aberta, sem camisa. E os tais sapatos de mulher.
De cara, se atirava na plateia. Passava o microfone por dentro das calças. Engolia o mesmo microfone na sequência. Beijava pessoas na boca aleatoriamente. Terminava só de calcinha.
O som era surf music com punk com blues. Fanáticos por filmes B, obcecados por fetiches sexuais, os Cramps eram a essência primal do rock and roll.
Se você nunca os viu, não sabe o que é rock.
Álvaro Pereira Júnior.
terça-feira, 3 de fevereiro de 2009
And Rapadura for all
Publicado originalmente em www.revoluta.com
Adelvan. Escarro Napalm. ETC. Quem viveu no underground dos anos 90, com certeza já ouviu um desses nomes. Pode até nem saber do que se tratava, mas sabia que existiam. Os três estão intimamente ligados. Ou são a mesma coisa. Ou os dois. Sim, tudo isso junto. Adelvan foi editor do fanzine Escarro Napalm, cantou no ETC (sigla de Eu Te Como) e é um dos eternos ícones da cena alternativa brasileira. Roqueiro desde que se entende por gente, está com sua antena lá em Aracaju sintonizada com o mundo. E é lá que também comanda todas as sextas-feiras seu programa de rádio que é exibido simultaneamente na internet, o Programa de Rock. O nosso fã ardoroso e colecionador de seriados de TV conta um pouquinho de sua vida e os motivos que fazem com que ele continue firme e forte nesse espaço virtual chamado underground.
Por Márcio Sno
1. Explique para o mundo quem é o Adelvan.
Eu diria: leia a entrevista e tire você mesmo sua conclusão. Ou não.
2. Como você descreveria o jovem Adelvan dos final dos anos 80, quando se envolveu com o rock?
Eu me descreveria como um revoltado, basicamente. Revoltado principalmente contra aquela velha educação católica castradora e repressiva, que faz a gente se sentir culpado por tudo o tempo inteiro. Decidi que não queria passar o resto de minha vida ajoelhado pedindo perdão, e nesse sentido o rock and roll me forneceu uma cultura libertária com a qual me identifiquei a adotei para contrapor ä minha formação católica. Fisicamente, um moleque extremamente magricela, só tinha cabelo e nariz, com um monte de espinha na cara e vestindo uma camiseta verde-cana silkada com uma copia tosca da capa do “Live after Death” do Iron Maiden e o numero 666 estampado atrás. É sério, eu tinha essa camiseta. E meu apelido era “Satan”. Um jovem, realmente - Tinha por volta de 15 anos quando comecei a curtir rock. Sou da geração Rock in Rio/Revista Bizz. Só quando a Globo começou a fazer aquelas matérias sobre as bandas que tocariam no primeiro Rock in Rio, de 1985, eu fui começar a achar aquele mundo que eu vislumbrava até então apenas apenas como exótico também interessante e diversificado. Fui vendo que haviam conceitos ali, não era só coisa de maluco. Notei que havia toda uma cultura alternativa a ser explorada, uma cultura que não chegava até mim, cidadão comum do interior de Sergipe (morava em Itabaiana, na época). Era algo a ser perseguido, caso quisesse se aprofundar, já que o que passava na televisão eu notava que era apenas a ponta do iceberg. É aquela velha historia clássica do moleque que começa a crescer e procurar novos horizontes para além de sua cidadezinha provinciana natal – no caso, eu era um dos “freaks”, um dos que não conseguiam se adaptar ao convívio social “normal” – ou padronizado, pelo meu ponto de vista.
3. Quando você percebeu que essa viagem ao mundo do rock não tinha mais volta?
Acho que foi quando eu fui para o rock in rio II, já em 1991, e voltei de lá mais “roqueiro” do que nunca, cheio de idéias fervilhando na cabeça. A partir daí comecei a me envolver mais intensamente na produção de shows, e com a idéia fixa de montar uma banda - comprei uma guitarra mas não aprendi a tocar, então fui ser vocalista de uma banda grindcore pornográfico (em todos os sentidos) e critico musical underground frustrado, uma entidade também conhecida pela alcunha de Fanzineiro. – a segunda parte da sentença é brincadeira, ok? Desencanei logo dessa idéia de ser guitarrista e por conta disso nunca fui frustrado não. Pelo menos não que eu saiba, conscientemente falando. Foi nessa época também que comecei a publicar meu segundo e mais “famoso’ fanzine, o “Escarro Napalm” – já tinha publicado um nos anos 80 em Itabaiana, intitulado apenas NAPALM.
4. O primeiro disco que você comprou foi o Viva do Camisa de Vênus. Você ainda tem? Costuma ouvi-lo? Quando ouve, o que passa por sua cabeça?
Não tenho mais o vinil, fiz a besteira de trocar pelo CD naquela época da transição em que quase todo mundo ficou deslumbrado com a tecnologia digital. Ridículo isso, era o disco numero 1 de minha coleção, deveria ter preservado. Nunca mais ouvi não. Tenho um carinho especial pelo Camisa de Vênus por ter sido a principal banda a me colocar no caminho do rock, digamos assim – junto com o Ira! (meu disco numero 2 foi o “Vivendo e não aprendendo” do Ira!, e esse ainda tenho guardado em vinil), mas não dá mais pra ouvir hoje com a mesma empolgação que ouvia nos anos 80 né. Os tempos eram outros, minha carga de informação não era suficiente para, por exemplo, detectar os plágios descarados que eles faziam, como de “That´s entertainment” do The Jam em “Passatempo” ou de “gimme shelter” dos Stones em “Só o fim”. Mas era uma banda necessária para a época, uma banda desbocada e vagabunda, como o rock deve ser, na maioria das vezes, pelo menos (nada contra rock poético e trabalhador). E Marcelo Nova, apesar de falar demais e, como todo mundo que fala demais, falar muita besteira, ainda é um cara a ser respeitado. Não dá pra não respeitar um cara que emprestou a guitarra dele pra Chuck Berry tocar, né ?
5. Na sua última passagem por SP você usou pela primeira vez uma jaqueta de couro. É muito difícil ter rock na veia em Aracaju?
Kkkkkkkk – Você não esquece isso né? Com o tempo e o amadurecimento fui vendo que não é preciso se enquadrar em estereótipos estéticos para se auto-afirmar como “roqueiro”. Jaquetas de couro são legais, mas não dá pra usar aqui por causa do calor, vai-se fazer o que ? Andar numa sauna ambulante só pra dizer que é roqueiro ? Sou um roqueiro feliz de camiseta, bermudas e chinelo de dedo. Na verdade sempre fui, nunca fui disposto a fazer esse sacrifício besta de andar de preto no sol escaldante só pra manter a postura maléfica não – lembre que mesmo no auge de meu radicalismo metaleiro adolescente minha camiseta do Iron era verde (risos). Aquela jaqueta de couro eu só usei acho que 2 ou 3 vezes em toda a minha vida.
6. Ao contrário da maioria do povo do rock, você tem o hábito da leitura, inclusive costuma ler autores polêmicos como George Orwell, Saramago, Nietsche. Que livro você indicaria para alguém do rock pegar o gosto pela leitura?
“Mate-me Por Favor”, sem sombra de duvidas. Porque tem tudo a ver com o rock e tem uma linguagem coloquial, já que é todo montado a partir de entrevistas com a galera que viu o punk nascer, crescer e morrer. É muito divertido e inspirador, para o bem ou para o mal. Eu mesmo, ao lê-lo, tinha vontade de largar tudo pro alto e virar um punk de verdade, sair pela rua sem compromisso nenhum com porra nenhuma e ver o que acontece. Só que aí eu lembrava que aquela galera vivia no primeiro mundo, NY, Detroit, e eu vivo em Sergipe, Brasil, terceiro mundo total. É bem diferente. Aqui o bicho pega pra valer.
7. Você fez parte das polêmicas bandas ETC e 120 Dias de Sodoma. Como foram essas experiências e porquê o sonho acabou?
O sonho nunca acabou porque nunca existiu. Eram bandas despretensiosas (na verdade uma banda só, apenas mudou de nome), não nutríamos nenhum tipo de expectativa quanto a elas não. Só por diversão mesmo, pra “tirar uma onda”, como se diz por aqui. Claro que havia uma idéia por trás, e a idéia principal era bater de frente contra um certo dogmatismo que existia (ainda existe, na verdade, mas naquela época era pior) na cena underground, onde vários grupos se auto-proclamam “autênticos “e montam verdadeiras patrulhas ideológicas, tipo, punk é isso, punk é aquilo, metal é isso, metal não é aquilo. Nós achamos que qualquer um deveria poder ser o que quisesse da forma que quisesse na hora que quisesse, sem ninguém pra ficar enchendo saco e cagando regras o tempo inteiro, só isso. Simples assim. Nesse sentido, não deixava de ser uma banda com uma mensagem libertária.
8. Seu gosto musical é um tanto eclético. Fale um pouco a respeito.
Pois é, foi assim desde o inicio. Comecei ouvindo o rock nacional que tocava nas rádios (o rock era a musica mais popular do Brasil na época, metade dos anos 80, veja só), aí conheci o Iron Maiden (com o disco “somewhere in time”, lançamento na época, adorava aquela capa com o Eddie numas de Blade Runner) e o Metallica, tive uma fase bem metal mas logo logo conheci o punk também e curti muito, via principalmente “Nevermind the Bollocks” do Sex Pistols e o “Descanse em Paz” do Ratos de Porão, que abriu minha cabeça pros sons realmente agressivos e “underground “. Nessa fase curtia basicamente som pesado, mas tinha uma certa admiração à distância por grupos como The Smiths, Fellini, Cure, Siouxsie and the Banshees. Achava aquilo ali muito sofisticado, mas não conseguia gostar, acho que minha cabecinha dura de roqueiro louco adolescente não tava preparada pra tanto. Essa barreira foi quebrada com o disco “psychocandy “do Jesus and Mary chain, que era incrivelmente barulhento porém ao mesmo tempo tinha melodias suaves e sofisticadas por trás da massaroca sonora. A partir daí fui conhecendo e curtindo cada vez mais o chamado “indie rock”, Pixies, sonic Youth, a brasileira Second Come. Não saberia explicar porque sou eclético não. Acho que musica é estado de espírito – tem hora pra ouvir som porrada, tem hora pra ouvir melodias tristes. Nunca consegui entender uma pessoa que só ouve um mesmo tipo de musica, o tempo inteiro, não. Também nunca fui de me enquadrar tão rigidamente em “tribos “- sou de uma tribo bem ampla, a tribo do rock. Sou um roqueiro assumido – inclusive gosto dessa palavra, é a versão brasileira do termo “rocker”, não tem porque não adota-la, já que eu sou brasileiro e gosto de rock.
9. Como foi que criou os fanzines Napalm e Escarro Napalm?
Fiz meu primeiro fanzine sem saber que tava fazendo um fanzine. Queria compartilhar as informações que tava recebendo através de revistas como a Bizz e, principalmente, na época, a Rock Brigade (já tinha partido pras searas mais “underground“), mas tinha muito ciúme de minhas revistas, não emprestava nem a pau. Aí fiz o que eu pensava que fosse uma espécie de apostilha, na época, com umas mini-biografias das bandas que eu mais curtia, Led Zeppelin, Venon, Black Sabbath, por aí, só metal. Fiz imitando uma revista, era a MINHA revistinha de fã, e batizei de Napalm, em homenagem a uma casa noturna que tinha em Sp e cujo nome eu achava foda, pois remetia àquela bomba louca que espalhava gasolina e que os americanos soltaram aos montes lá no Vietnã. Aí os caras de uma loja especializada em discos de rock de Aracaju ficaram conhecendo meu zine e se espantaram do mesmo ter citações de George Orwell, de quem eu já era fã, na capa. Me ajudaram numa tiragem maior de cópias xérox e o zine se expandiu, chegando até Sylvio da banda Karne krua, que me influenciou bastante mandando um monte de material de fanzines punk com os quais ele tinha contato. Só aí fui saber que existia toda essa movimentação de publicações e de bandas por vias totalmente alternativas, via xérox e fitas k7 enviadas por correio. Achei fascinante, mas na época não tinha grana pra bancar o correio, então minha atuação foi bem tímida. Só mais tarde, em 1991, quando já morava em Aracaju e trabalhava, portanto tinha alguma renda, criei um novo zine, o ESCARRO NAPALM, e já na primeira tiragem mandei para um monte de endereços que tinha pego na coluna RUN XEROX da extinta revista Animal. O primeiro que me respondeu foi Fellipe CDC de Brasília, não esqueço isso. O segundo mandou de volta o fanzine, porque eu tinha escrito “pau no cu de Deus” na contra-capa junto a uma imagem do Frei Damião (um padre aí que era bem popular aqui no Nordeste na época, considerado santo e tal pelo povo) com um monte de armas apontadas pra sua cabeça e ele não curtiu.
10. O que esses zines mostravam e o no que era diferente dos demais da época?
Quanto aos zines tinha em mente sempre a máxima de que “se você não tem nada a dizer, não diga nada “. Chegavam a minhas mãos muitos zines vazios em conteúdo, que se limitavam a colar releases e flyers de bandas e reproduzir panfletos. Poucos se arriscavam a emitir opiniões sinceras, especialmente nas resenhas de demos – era como se tivessem medo de ofender a pessoa da banda que mandou a fita para a resenha, e que geralmente era também um amigo. A velha conhecida “brodagem”. Eu procurava evitar isso, achava contra-produtivo e extremamente chato. A leitura daquelas resenhas repetitivas, politicamente corretas e cheias de frases de incentivo padronizadas era de um tédio atroz – mas eu lia tudo, tamanho era o meu interesse por aquele tipo de literatura. Já eu procurava focar no que de mais interessante me chegava ãs mãos, e se não gostava de algo que recebia muitas vezes ignorava, citava por alto ou, se fosse o caso, descia o malho mesmo, especialmente em bandas que, ao meu ver, investiam muito esforço e recursos em idéias equivocadas. Não acredito em critica destrutiva – uma critica negativa invariavelmente leva a pessoa a, no mínimo, pensar no porque daquela opinião desfavorável, e PENSAR sobre as coisas antes de executá-las ou de levar algo adiante é sempre uma boa idéia. O caso mais emblemático pra mim pessoalmente foi a resenha que fiz do primeiro disco da banda Insanity, de Fortaleza, para a já revista (começou como fanzine), na época, PANACEIA. Achava o som que eles faziam um thrash ultrapassado e sem criatividade, repleto de clichês do estilo – muito embora executado de forma competente, e disse isso na resenha, apesar de ser amigo de longa data de George Frizzo, o comandante-em-chefe (no bom sentido) da banda, por sinal uma das pioneiras do metal nordestino, tendo lançado seu primeiro compacto, em vinil, ainda nos anos 80. Frizzo ficou meio chateado, ao que parece, me deu umas reclamadas meio que em tom de brincadeira quando nos vimos num Abril pro rock da vida, mas ao final ficou tudo bem, porque as pessoas podem se chatear no inicio, mas depois sempre chegam a conclusão de que é melhor uma opinião sincera do que criticas veladas ou do que aqueles que elogiam quando estão frente a frente mas que descem o pau quando se vira as costas. Tirando esse aspecto, que era um diferencial, a meu ver, meu fanzine seguia um estilo totalmente anárquico, sem regras – fazia como me vinha à cabeça, sem muita arrumação em colunas que lembrassem uma revista, por exemplo – na época havia uma distinção entre Fanzines propriamente ditos e os chamados pro-zines, que eram zines que seguiam muitas vezes à risca os moldes de uma revista, com editorias e espaços bem separados para matérias, notas e resenhas. O Escarro Napalm não era, definitivamente, um pro-zine.
11. Hoje tudo é muito fácil com a internet. Você pode imaginar se na época em que você tinha bandas e zines tivesse todo esse aparato tecnológico?
Teria sido tudo bem mais fácil, evidentemente, como é hoje. Mas de repente não se teria o mesmo tesão. Há uma frase que diz que o ser humano cresce na adversidade, esta é uma das contradições da alma humana. Muita facilidade deixa a pessoa acomodada, preguiçosa, sem tesão, e “sem tesão não há solução”. Mas também não vou cair no clichê de ficar falando que “antigamente é que era bom “, nada disso. Tou achando sensacional ligar o computador e dar de cara com blogs que oferecem links para discos que nunca saíram no Brasil ou aos quais eu dificilmente teria acesso, caso não existisse essa coisa absolutamente maravilhosa e revolucionária chamada internet. Exemplos: Só com a internet fui ouvir de fato a obra do lendário Daminhão Experiença, mendigo (por opção) que lançava discos em vinil por conta própria desde os anos 70 e do qual sempre tinha ouvido falar. E recentemente baixei o que acredito que seja a discografia completa do grupo britânico Durutti Column, que teve apenas 2 ou 3 discos (fora de catálogo) lançados no Brasil. Hoje em dia uma banda como o Laibach lança um disco novo e você consegue baixar pela net, e de graça, o que é mais incrível – mas ops, peraí, é proibido, é pirataria ... Fala sério né porra, excetuando-se os grandes medalhões do mainstrean, que são os verdadeiros prejudicados, pois não precisam mais de publicidade já que são mais do que suficientemente conhecidos, para todos os demais artistas que procuram um lugar ao sol o download gratuito via internet só traz vantagens. Apesar de que há um efeito colateral desagradável, o excesso de informação disponível faz com que se torne ainda mais difícil separar o joio do trigo. É necessário sempre um filtro, uma referência, nesse caso a opinião de alguém com uma posição já consagrada na imprensa, como um kid vinil ou um Fabio Massari, sempre vai ter mais peso que a de um blogueiro de plantão de primeira viagem. Mas já começam a surgir talentos que se destacam e que foram descobertos primeiramente via net, como é o caso do jornalista Arnaldo Branco e de bandas como o CSS, hoje em carreira internacional. Abro um parênteses aqui para registrar que Kid Vinil foi um de meus heróis, descobri muita coisa através de um programa de Vídeo-clips que ele apresentava na TV Cultura nos anos 80 (bem antes do surgimento da MTV), o “ Som pop “.
12. Qual banda underground que você investiria sua fortuna para lançá-la?
Gangena Gasosa, sem duvida. Acho sensacional a proposta deles.
13. Como você começou a apresentar o Programa de Rock? Fale mais como é o programa e quais personalidades já passaram por lá.
Apresentar e principalmente PRODUZIR – a questão do apresentar foi mais uma conseqüência, uma necessidade da gente comentar algo sobre os sons que colocava no ar. Não sou radialista nem locutor nem nada, nunca estudei para isso. Tudo começou com o convite feito pelo atual diretor da Radio, Patrick Torquato. É a radio publica daqui do estado, controlada e mantida pelo governo estadual. Com a ultima eleição houve finalmente uma troca de comando, caiu uma velha oligarquia que mantinha tudo como antes no quartel de abrantes há muitos anos, e com isso houve uma arejada na programação da Fundação Aperipê, que coniste numa emissora de TV e duas estações de radio, AM e FM (a AM, por sinal, é a emissora mais antiga em atividade no radio sergipano). Patrick já conhecia nosso trabalho, meu e de Fabinho, da banda Snooze, e nos chamou para produzirmos em dupla um programa de rock, literalmente falando. Foi tudo bem espontâneo, decidimos que a proposta do programa seria o mais ampla possível, abrangendo todos os estilos e tendências do rock, mas garantindo sempre um espaço cativo para a produção independente e especialmente para a produção local. Procuramos, dentro dessa filosofia, chamar sempre as bandas locais para contarem sua historia e mostrarem seu trabalho no ar, ao vivo, em entrevistas também informais e espontâneas já que, como mencionado, nem eu nem Fabinho somos profissionais do ramo, somos amadores no sentido mais literal da palavra. É diversão levada a sério, feito com dedicação e compromisso, nesses quase dois anos de existencia o programa não deixou de ir ao ar um só dia, salvo por decisão da própria direção da radio, quando os horários do programa se chocavam com alguma outra transmissão prioritária para a Fundação, como em junho, durante os festejos juninos, ou quando há alguma transmissão ao vivo em cadeia com a Rede de Rádios publicas nacional. Mas ressalto que fazemos o programa que queremos, com independência total, sem interferência nenhuma da direção da Radio. É uma produção independente, feita de forma voluntária e veiculada pela FM Aperipê. Além dos grupos, artistas e produtores locais, procuramos entrevistar sempre que possível bandas de fora que estejam de passagem pela cidade. Foram poucas, em boa parte por uma dificuldade estrutural da cidade para este tipo de vento, já que é uma capital pequena do menor estado do Brasil, mas já passaram por lá as bandas mineiras Enne e Silent Cry, e os cariocas Uzômi, Gangrena Gasosa (na pessoa de seu vocalista Ronaldo Chorão, que estava de férias por aqui, na ocasião) e o produtor Michael Menezes, da Parayba Records. Sergipanos, pela própria disponibilidade (e também interesse nosso e da direção da radio em destacar a produção local) foram vários: As bandas Plástico Lunar, The Baggios, karne Krua, Urublues, Scarlet peace, sign of Hate, Cessar Fogo, Glory box e Perdeu a Língua, entre outros, e os produtores Lucas e Edcarlos, da Rock Vivo (que fez shows do Krisiun, Angra, Shaaman e André Matos por aqui) e Fabio andrade, da Terrozone produções, uma produtora bem atuante que também trouxe uma série de atrações nacionais e até mesmo internacionais, como o Sinking da Finlandia e Blaze Bayley, ex-vocalista do Iron Maiden. Enfim, com essas iniciativas, esperamos estar dando nossa cota de contribuição para a cena local, além de estarmos nos divertindo, o que é também muito importante, afinal. É divertido de fazar e fazemos como satisfação pessoal, é satisfatório saber que estamos agradando pessoas com a mente aberta que entendem a importância de uma maior diversidade cultural no dial e nos incentivam a continuar em frente, assim como é satisfatório saber que estamos incomodando outros com uma mentalidade estreita e preconceituosa, como um senhor que ligou pro programa pra dizer que iria fazer um abaixo assinado pra tirar o mesmo do ar pois era um lixo que só tocava musica estrangeira pra corromper a juventude. Achei uma pena ele não ter feito o tal abaixo-assinado, ia ser publicidade gratuita.
14. Fale um pouco desse seu projeto para a TV.
Imagino que por conta da indicação do programa de rock para o premio Dynamite na categoria melhor programa de radio, surgiu um convite por parte da presidente da fundação Aperipê para que produzíssemos uma versão para a televisão do programa. Estamos produzindo o piloto, com algumas matérias e vídeo-clipes. Ainda não há data para ir ao ar nem definição se será apenas um especial ou se será um programa semanal – tudo vai depender de uma série de fatores, já que produzir para a TV é, definitivamente, infinitamente mais complicado que para o radio. Quem viver verá.
15. Recentemente o Chorão3 declarou para o mundo todo no Portal Rock Press que é apaixonado por você e tudo mais. O que acha disso? Aproveite esse espaço para responder à altura.
Eu diria que é um amor correspondido. Pena que ele é casado ...
16. Se pudesse apagar algo nessa sua caminhada, o que seria?
Nem tinha percebido que era uma caminhada, foi tão natural. É minha vida né. É o que eu gosto, com o que me identifico. É o que eu sou. Não apagaria nada não, acrescentaria – aliás, estou acrescentando, sempre que possível. Estou em pleno caminho ainda, afinal. Espero morrer caminhando.
17. O que tirou de proveito disso tudo?
Muita coisa. Dos tempos de fanzineiro ficaram especialmente as amizades que fiz Brasil afora, dentre elas a sua. Através dos zines conheci muitas bandas muito legais que sumiram na poeira do tempo, não “aconteceram”, no sentido de projeção midiática – bandas que eu não conheceria de outra forma. Nem vou me arriscar a citar porque são muitas. Dos shows, as lembranças de momentos inesquecíveis, tanto no “underground”, Festivais anternativos (BHRIF, Goiânia Noise, Abril pro rock) e grandes Festivais como o Rock in Rio II, no qual vi Judas Priest na turnê de painkiller, Megadeth com Rust in peace e Sepultura lançando o Arise, e um Hollywood Rock que fui e no qual vi Jimmy Page e Robert Plant , The cure, Smashing Pumpkins (me lembro claramente que tava no banheiro mijando e a parede tremendo ao som de “today”, uma de minhas msuicas preferidas deles), vários shows underground Brasil afora, grandes sons e grandes amizades. Em resumo, eu diria que viver é bom quando a gente corre atrás de nossos sonhos e não fica “sentado no trono de um apartamento com a boca escancarada cheia de dentes esperando a morte chegar”.
Adelvan. Escarro Napalm. ETC. Quem viveu no underground dos anos 90, com certeza já ouviu um desses nomes. Pode até nem saber do que se tratava, mas sabia que existiam. Os três estão intimamente ligados. Ou são a mesma coisa. Ou os dois. Sim, tudo isso junto. Adelvan foi editor do fanzine Escarro Napalm, cantou no ETC (sigla de Eu Te Como) e é um dos eternos ícones da cena alternativa brasileira. Roqueiro desde que se entende por gente, está com sua antena lá em Aracaju sintonizada com o mundo. E é lá que também comanda todas as sextas-feiras seu programa de rádio que é exibido simultaneamente na internet, o Programa de Rock. O nosso fã ardoroso e colecionador de seriados de TV conta um pouquinho de sua vida e os motivos que fazem com que ele continue firme e forte nesse espaço virtual chamado underground.
Por Márcio Sno
1. Explique para o mundo quem é o Adelvan.
Eu diria: leia a entrevista e tire você mesmo sua conclusão. Ou não.
2. Como você descreveria o jovem Adelvan dos final dos anos 80, quando se envolveu com o rock?
Eu me descreveria como um revoltado, basicamente. Revoltado principalmente contra aquela velha educação católica castradora e repressiva, que faz a gente se sentir culpado por tudo o tempo inteiro. Decidi que não queria passar o resto de minha vida ajoelhado pedindo perdão, e nesse sentido o rock and roll me forneceu uma cultura libertária com a qual me identifiquei a adotei para contrapor ä minha formação católica. Fisicamente, um moleque extremamente magricela, só tinha cabelo e nariz, com um monte de espinha na cara e vestindo uma camiseta verde-cana silkada com uma copia tosca da capa do “Live after Death” do Iron Maiden e o numero 666 estampado atrás. É sério, eu tinha essa camiseta. E meu apelido era “Satan”. Um jovem, realmente - Tinha por volta de 15 anos quando comecei a curtir rock. Sou da geração Rock in Rio/Revista Bizz. Só quando a Globo começou a fazer aquelas matérias sobre as bandas que tocariam no primeiro Rock in Rio, de 1985, eu fui começar a achar aquele mundo que eu vislumbrava até então apenas apenas como exótico também interessante e diversificado. Fui vendo que haviam conceitos ali, não era só coisa de maluco. Notei que havia toda uma cultura alternativa a ser explorada, uma cultura que não chegava até mim, cidadão comum do interior de Sergipe (morava em Itabaiana, na época). Era algo a ser perseguido, caso quisesse se aprofundar, já que o que passava na televisão eu notava que era apenas a ponta do iceberg. É aquela velha historia clássica do moleque que começa a crescer e procurar novos horizontes para além de sua cidadezinha provinciana natal – no caso, eu era um dos “freaks”, um dos que não conseguiam se adaptar ao convívio social “normal” – ou padronizado, pelo meu ponto de vista.
3. Quando você percebeu que essa viagem ao mundo do rock não tinha mais volta?
Acho que foi quando eu fui para o rock in rio II, já em 1991, e voltei de lá mais “roqueiro” do que nunca, cheio de idéias fervilhando na cabeça. A partir daí comecei a me envolver mais intensamente na produção de shows, e com a idéia fixa de montar uma banda - comprei uma guitarra mas não aprendi a tocar, então fui ser vocalista de uma banda grindcore pornográfico (em todos os sentidos) e critico musical underground frustrado, uma entidade também conhecida pela alcunha de Fanzineiro. – a segunda parte da sentença é brincadeira, ok? Desencanei logo dessa idéia de ser guitarrista e por conta disso nunca fui frustrado não. Pelo menos não que eu saiba, conscientemente falando. Foi nessa época também que comecei a publicar meu segundo e mais “famoso’ fanzine, o “Escarro Napalm” – já tinha publicado um nos anos 80 em Itabaiana, intitulado apenas NAPALM.
4. O primeiro disco que você comprou foi o Viva do Camisa de Vênus. Você ainda tem? Costuma ouvi-lo? Quando ouve, o que passa por sua cabeça?
Não tenho mais o vinil, fiz a besteira de trocar pelo CD naquela época da transição em que quase todo mundo ficou deslumbrado com a tecnologia digital. Ridículo isso, era o disco numero 1 de minha coleção, deveria ter preservado. Nunca mais ouvi não. Tenho um carinho especial pelo Camisa de Vênus por ter sido a principal banda a me colocar no caminho do rock, digamos assim – junto com o Ira! (meu disco numero 2 foi o “Vivendo e não aprendendo” do Ira!, e esse ainda tenho guardado em vinil), mas não dá mais pra ouvir hoje com a mesma empolgação que ouvia nos anos 80 né. Os tempos eram outros, minha carga de informação não era suficiente para, por exemplo, detectar os plágios descarados que eles faziam, como de “That´s entertainment” do The Jam em “Passatempo” ou de “gimme shelter” dos Stones em “Só o fim”. Mas era uma banda necessária para a época, uma banda desbocada e vagabunda, como o rock deve ser, na maioria das vezes, pelo menos (nada contra rock poético e trabalhador). E Marcelo Nova, apesar de falar demais e, como todo mundo que fala demais, falar muita besteira, ainda é um cara a ser respeitado. Não dá pra não respeitar um cara que emprestou a guitarra dele pra Chuck Berry tocar, né ?
5. Na sua última passagem por SP você usou pela primeira vez uma jaqueta de couro. É muito difícil ter rock na veia em Aracaju?
Kkkkkkkk – Você não esquece isso né? Com o tempo e o amadurecimento fui vendo que não é preciso se enquadrar em estereótipos estéticos para se auto-afirmar como “roqueiro”. Jaquetas de couro são legais, mas não dá pra usar aqui por causa do calor, vai-se fazer o que ? Andar numa sauna ambulante só pra dizer que é roqueiro ? Sou um roqueiro feliz de camiseta, bermudas e chinelo de dedo. Na verdade sempre fui, nunca fui disposto a fazer esse sacrifício besta de andar de preto no sol escaldante só pra manter a postura maléfica não – lembre que mesmo no auge de meu radicalismo metaleiro adolescente minha camiseta do Iron era verde (risos). Aquela jaqueta de couro eu só usei acho que 2 ou 3 vezes em toda a minha vida.
6. Ao contrário da maioria do povo do rock, você tem o hábito da leitura, inclusive costuma ler autores polêmicos como George Orwell, Saramago, Nietsche. Que livro você indicaria para alguém do rock pegar o gosto pela leitura?
“Mate-me Por Favor”, sem sombra de duvidas. Porque tem tudo a ver com o rock e tem uma linguagem coloquial, já que é todo montado a partir de entrevistas com a galera que viu o punk nascer, crescer e morrer. É muito divertido e inspirador, para o bem ou para o mal. Eu mesmo, ao lê-lo, tinha vontade de largar tudo pro alto e virar um punk de verdade, sair pela rua sem compromisso nenhum com porra nenhuma e ver o que acontece. Só que aí eu lembrava que aquela galera vivia no primeiro mundo, NY, Detroit, e eu vivo em Sergipe, Brasil, terceiro mundo total. É bem diferente. Aqui o bicho pega pra valer.
7. Você fez parte das polêmicas bandas ETC e 120 Dias de Sodoma. Como foram essas experiências e porquê o sonho acabou?
O sonho nunca acabou porque nunca existiu. Eram bandas despretensiosas (na verdade uma banda só, apenas mudou de nome), não nutríamos nenhum tipo de expectativa quanto a elas não. Só por diversão mesmo, pra “tirar uma onda”, como se diz por aqui. Claro que havia uma idéia por trás, e a idéia principal era bater de frente contra um certo dogmatismo que existia (ainda existe, na verdade, mas naquela época era pior) na cena underground, onde vários grupos se auto-proclamam “autênticos “e montam verdadeiras patrulhas ideológicas, tipo, punk é isso, punk é aquilo, metal é isso, metal não é aquilo. Nós achamos que qualquer um deveria poder ser o que quisesse da forma que quisesse na hora que quisesse, sem ninguém pra ficar enchendo saco e cagando regras o tempo inteiro, só isso. Simples assim. Nesse sentido, não deixava de ser uma banda com uma mensagem libertária.
8. Seu gosto musical é um tanto eclético. Fale um pouco a respeito.
Pois é, foi assim desde o inicio. Comecei ouvindo o rock nacional que tocava nas rádios (o rock era a musica mais popular do Brasil na época, metade dos anos 80, veja só), aí conheci o Iron Maiden (com o disco “somewhere in time”, lançamento na época, adorava aquela capa com o Eddie numas de Blade Runner) e o Metallica, tive uma fase bem metal mas logo logo conheci o punk também e curti muito, via principalmente “Nevermind the Bollocks” do Sex Pistols e o “Descanse em Paz” do Ratos de Porão, que abriu minha cabeça pros sons realmente agressivos e “underground “. Nessa fase curtia basicamente som pesado, mas tinha uma certa admiração à distância por grupos como The Smiths, Fellini, Cure, Siouxsie and the Banshees. Achava aquilo ali muito sofisticado, mas não conseguia gostar, acho que minha cabecinha dura de roqueiro louco adolescente não tava preparada pra tanto. Essa barreira foi quebrada com o disco “psychocandy “do Jesus and Mary chain, que era incrivelmente barulhento porém ao mesmo tempo tinha melodias suaves e sofisticadas por trás da massaroca sonora. A partir daí fui conhecendo e curtindo cada vez mais o chamado “indie rock”, Pixies, sonic Youth, a brasileira Second Come. Não saberia explicar porque sou eclético não. Acho que musica é estado de espírito – tem hora pra ouvir som porrada, tem hora pra ouvir melodias tristes. Nunca consegui entender uma pessoa que só ouve um mesmo tipo de musica, o tempo inteiro, não. Também nunca fui de me enquadrar tão rigidamente em “tribos “- sou de uma tribo bem ampla, a tribo do rock. Sou um roqueiro assumido – inclusive gosto dessa palavra, é a versão brasileira do termo “rocker”, não tem porque não adota-la, já que eu sou brasileiro e gosto de rock.
9. Como foi que criou os fanzines Napalm e Escarro Napalm?
Fiz meu primeiro fanzine sem saber que tava fazendo um fanzine. Queria compartilhar as informações que tava recebendo através de revistas como a Bizz e, principalmente, na época, a Rock Brigade (já tinha partido pras searas mais “underground“), mas tinha muito ciúme de minhas revistas, não emprestava nem a pau. Aí fiz o que eu pensava que fosse uma espécie de apostilha, na época, com umas mini-biografias das bandas que eu mais curtia, Led Zeppelin, Venon, Black Sabbath, por aí, só metal. Fiz imitando uma revista, era a MINHA revistinha de fã, e batizei de Napalm, em homenagem a uma casa noturna que tinha em Sp e cujo nome eu achava foda, pois remetia àquela bomba louca que espalhava gasolina e que os americanos soltaram aos montes lá no Vietnã. Aí os caras de uma loja especializada em discos de rock de Aracaju ficaram conhecendo meu zine e se espantaram do mesmo ter citações de George Orwell, de quem eu já era fã, na capa. Me ajudaram numa tiragem maior de cópias xérox e o zine se expandiu, chegando até Sylvio da banda Karne krua, que me influenciou bastante mandando um monte de material de fanzines punk com os quais ele tinha contato. Só aí fui saber que existia toda essa movimentação de publicações e de bandas por vias totalmente alternativas, via xérox e fitas k7 enviadas por correio. Achei fascinante, mas na época não tinha grana pra bancar o correio, então minha atuação foi bem tímida. Só mais tarde, em 1991, quando já morava em Aracaju e trabalhava, portanto tinha alguma renda, criei um novo zine, o ESCARRO NAPALM, e já na primeira tiragem mandei para um monte de endereços que tinha pego na coluna RUN XEROX da extinta revista Animal. O primeiro que me respondeu foi Fellipe CDC de Brasília, não esqueço isso. O segundo mandou de volta o fanzine, porque eu tinha escrito “pau no cu de Deus” na contra-capa junto a uma imagem do Frei Damião (um padre aí que era bem popular aqui no Nordeste na época, considerado santo e tal pelo povo) com um monte de armas apontadas pra sua cabeça e ele não curtiu.
10. O que esses zines mostravam e o no que era diferente dos demais da época?
Quanto aos zines tinha em mente sempre a máxima de que “se você não tem nada a dizer, não diga nada “. Chegavam a minhas mãos muitos zines vazios em conteúdo, que se limitavam a colar releases e flyers de bandas e reproduzir panfletos. Poucos se arriscavam a emitir opiniões sinceras, especialmente nas resenhas de demos – era como se tivessem medo de ofender a pessoa da banda que mandou a fita para a resenha, e que geralmente era também um amigo. A velha conhecida “brodagem”. Eu procurava evitar isso, achava contra-produtivo e extremamente chato. A leitura daquelas resenhas repetitivas, politicamente corretas e cheias de frases de incentivo padronizadas era de um tédio atroz – mas eu lia tudo, tamanho era o meu interesse por aquele tipo de literatura. Já eu procurava focar no que de mais interessante me chegava ãs mãos, e se não gostava de algo que recebia muitas vezes ignorava, citava por alto ou, se fosse o caso, descia o malho mesmo, especialmente em bandas que, ao meu ver, investiam muito esforço e recursos em idéias equivocadas. Não acredito em critica destrutiva – uma critica negativa invariavelmente leva a pessoa a, no mínimo, pensar no porque daquela opinião desfavorável, e PENSAR sobre as coisas antes de executá-las ou de levar algo adiante é sempre uma boa idéia. O caso mais emblemático pra mim pessoalmente foi a resenha que fiz do primeiro disco da banda Insanity, de Fortaleza, para a já revista (começou como fanzine), na época, PANACEIA. Achava o som que eles faziam um thrash ultrapassado e sem criatividade, repleto de clichês do estilo – muito embora executado de forma competente, e disse isso na resenha, apesar de ser amigo de longa data de George Frizzo, o comandante-em-chefe (no bom sentido) da banda, por sinal uma das pioneiras do metal nordestino, tendo lançado seu primeiro compacto, em vinil, ainda nos anos 80. Frizzo ficou meio chateado, ao que parece, me deu umas reclamadas meio que em tom de brincadeira quando nos vimos num Abril pro rock da vida, mas ao final ficou tudo bem, porque as pessoas podem se chatear no inicio, mas depois sempre chegam a conclusão de que é melhor uma opinião sincera do que criticas veladas ou do que aqueles que elogiam quando estão frente a frente mas que descem o pau quando se vira as costas. Tirando esse aspecto, que era um diferencial, a meu ver, meu fanzine seguia um estilo totalmente anárquico, sem regras – fazia como me vinha à cabeça, sem muita arrumação em colunas que lembrassem uma revista, por exemplo – na época havia uma distinção entre Fanzines propriamente ditos e os chamados pro-zines, que eram zines que seguiam muitas vezes à risca os moldes de uma revista, com editorias e espaços bem separados para matérias, notas e resenhas. O Escarro Napalm não era, definitivamente, um pro-zine.
11. Hoje tudo é muito fácil com a internet. Você pode imaginar se na época em que você tinha bandas e zines tivesse todo esse aparato tecnológico?
Teria sido tudo bem mais fácil, evidentemente, como é hoje. Mas de repente não se teria o mesmo tesão. Há uma frase que diz que o ser humano cresce na adversidade, esta é uma das contradições da alma humana. Muita facilidade deixa a pessoa acomodada, preguiçosa, sem tesão, e “sem tesão não há solução”. Mas também não vou cair no clichê de ficar falando que “antigamente é que era bom “, nada disso. Tou achando sensacional ligar o computador e dar de cara com blogs que oferecem links para discos que nunca saíram no Brasil ou aos quais eu dificilmente teria acesso, caso não existisse essa coisa absolutamente maravilhosa e revolucionária chamada internet. Exemplos: Só com a internet fui ouvir de fato a obra do lendário Daminhão Experiença, mendigo (por opção) que lançava discos em vinil por conta própria desde os anos 70 e do qual sempre tinha ouvido falar. E recentemente baixei o que acredito que seja a discografia completa do grupo britânico Durutti Column, que teve apenas 2 ou 3 discos (fora de catálogo) lançados no Brasil. Hoje em dia uma banda como o Laibach lança um disco novo e você consegue baixar pela net, e de graça, o que é mais incrível – mas ops, peraí, é proibido, é pirataria ... Fala sério né porra, excetuando-se os grandes medalhões do mainstrean, que são os verdadeiros prejudicados, pois não precisam mais de publicidade já que são mais do que suficientemente conhecidos, para todos os demais artistas que procuram um lugar ao sol o download gratuito via internet só traz vantagens. Apesar de que há um efeito colateral desagradável, o excesso de informação disponível faz com que se torne ainda mais difícil separar o joio do trigo. É necessário sempre um filtro, uma referência, nesse caso a opinião de alguém com uma posição já consagrada na imprensa, como um kid vinil ou um Fabio Massari, sempre vai ter mais peso que a de um blogueiro de plantão de primeira viagem. Mas já começam a surgir talentos que se destacam e que foram descobertos primeiramente via net, como é o caso do jornalista Arnaldo Branco e de bandas como o CSS, hoje em carreira internacional. Abro um parênteses aqui para registrar que Kid Vinil foi um de meus heróis, descobri muita coisa através de um programa de Vídeo-clips que ele apresentava na TV Cultura nos anos 80 (bem antes do surgimento da MTV), o “ Som pop “.
12. Qual banda underground que você investiria sua fortuna para lançá-la?
Gangena Gasosa, sem duvida. Acho sensacional a proposta deles.
13. Como você começou a apresentar o Programa de Rock? Fale mais como é o programa e quais personalidades já passaram por lá.
Apresentar e principalmente PRODUZIR – a questão do apresentar foi mais uma conseqüência, uma necessidade da gente comentar algo sobre os sons que colocava no ar. Não sou radialista nem locutor nem nada, nunca estudei para isso. Tudo começou com o convite feito pelo atual diretor da Radio, Patrick Torquato. É a radio publica daqui do estado, controlada e mantida pelo governo estadual. Com a ultima eleição houve finalmente uma troca de comando, caiu uma velha oligarquia que mantinha tudo como antes no quartel de abrantes há muitos anos, e com isso houve uma arejada na programação da Fundação Aperipê, que coniste numa emissora de TV e duas estações de radio, AM e FM (a AM, por sinal, é a emissora mais antiga em atividade no radio sergipano). Patrick já conhecia nosso trabalho, meu e de Fabinho, da banda Snooze, e nos chamou para produzirmos em dupla um programa de rock, literalmente falando. Foi tudo bem espontâneo, decidimos que a proposta do programa seria o mais ampla possível, abrangendo todos os estilos e tendências do rock, mas garantindo sempre um espaço cativo para a produção independente e especialmente para a produção local. Procuramos, dentro dessa filosofia, chamar sempre as bandas locais para contarem sua historia e mostrarem seu trabalho no ar, ao vivo, em entrevistas também informais e espontâneas já que, como mencionado, nem eu nem Fabinho somos profissionais do ramo, somos amadores no sentido mais literal da palavra. É diversão levada a sério, feito com dedicação e compromisso, nesses quase dois anos de existencia o programa não deixou de ir ao ar um só dia, salvo por decisão da própria direção da radio, quando os horários do programa se chocavam com alguma outra transmissão prioritária para a Fundação, como em junho, durante os festejos juninos, ou quando há alguma transmissão ao vivo em cadeia com a Rede de Rádios publicas nacional. Mas ressalto que fazemos o programa que queremos, com independência total, sem interferência nenhuma da direção da Radio. É uma produção independente, feita de forma voluntária e veiculada pela FM Aperipê. Além dos grupos, artistas e produtores locais, procuramos entrevistar sempre que possível bandas de fora que estejam de passagem pela cidade. Foram poucas, em boa parte por uma dificuldade estrutural da cidade para este tipo de vento, já que é uma capital pequena do menor estado do Brasil, mas já passaram por lá as bandas mineiras Enne e Silent Cry, e os cariocas Uzômi, Gangrena Gasosa (na pessoa de seu vocalista Ronaldo Chorão, que estava de férias por aqui, na ocasião) e o produtor Michael Menezes, da Parayba Records. Sergipanos, pela própria disponibilidade (e também interesse nosso e da direção da radio em destacar a produção local) foram vários: As bandas Plástico Lunar, The Baggios, karne Krua, Urublues, Scarlet peace, sign of Hate, Cessar Fogo, Glory box e Perdeu a Língua, entre outros, e os produtores Lucas e Edcarlos, da Rock Vivo (que fez shows do Krisiun, Angra, Shaaman e André Matos por aqui) e Fabio andrade, da Terrozone produções, uma produtora bem atuante que também trouxe uma série de atrações nacionais e até mesmo internacionais, como o Sinking da Finlandia e Blaze Bayley, ex-vocalista do Iron Maiden. Enfim, com essas iniciativas, esperamos estar dando nossa cota de contribuição para a cena local, além de estarmos nos divertindo, o que é também muito importante, afinal. É divertido de fazar e fazemos como satisfação pessoal, é satisfatório saber que estamos agradando pessoas com a mente aberta que entendem a importância de uma maior diversidade cultural no dial e nos incentivam a continuar em frente, assim como é satisfatório saber que estamos incomodando outros com uma mentalidade estreita e preconceituosa, como um senhor que ligou pro programa pra dizer que iria fazer um abaixo assinado pra tirar o mesmo do ar pois era um lixo que só tocava musica estrangeira pra corromper a juventude. Achei uma pena ele não ter feito o tal abaixo-assinado, ia ser publicidade gratuita.
14. Fale um pouco desse seu projeto para a TV.
Imagino que por conta da indicação do programa de rock para o premio Dynamite na categoria melhor programa de radio, surgiu um convite por parte da presidente da fundação Aperipê para que produzíssemos uma versão para a televisão do programa. Estamos produzindo o piloto, com algumas matérias e vídeo-clipes. Ainda não há data para ir ao ar nem definição se será apenas um especial ou se será um programa semanal – tudo vai depender de uma série de fatores, já que produzir para a TV é, definitivamente, infinitamente mais complicado que para o radio. Quem viver verá.
15. Recentemente o Chorão3 declarou para o mundo todo no Portal Rock Press que é apaixonado por você e tudo mais. O que acha disso? Aproveite esse espaço para responder à altura.
Eu diria que é um amor correspondido. Pena que ele é casado ...
16. Se pudesse apagar algo nessa sua caminhada, o que seria?
Nem tinha percebido que era uma caminhada, foi tão natural. É minha vida né. É o que eu gosto, com o que me identifico. É o que eu sou. Não apagaria nada não, acrescentaria – aliás, estou acrescentando, sempre que possível. Estou em pleno caminho ainda, afinal. Espero morrer caminhando.
17. O que tirou de proveito disso tudo?
Muita coisa. Dos tempos de fanzineiro ficaram especialmente as amizades que fiz Brasil afora, dentre elas a sua. Através dos zines conheci muitas bandas muito legais que sumiram na poeira do tempo, não “aconteceram”, no sentido de projeção midiática – bandas que eu não conheceria de outra forma. Nem vou me arriscar a citar porque são muitas. Dos shows, as lembranças de momentos inesquecíveis, tanto no “underground”, Festivais anternativos (BHRIF, Goiânia Noise, Abril pro rock) e grandes Festivais como o Rock in Rio II, no qual vi Judas Priest na turnê de painkiller, Megadeth com Rust in peace e Sepultura lançando o Arise, e um Hollywood Rock que fui e no qual vi Jimmy Page e Robert Plant , The cure, Smashing Pumpkins (me lembro claramente que tava no banheiro mijando e a parede tremendo ao som de “today”, uma de minhas msuicas preferidas deles), vários shows underground Brasil afora, grandes sons e grandes amizades. Em resumo, eu diria que viver é bom quando a gente corre atrás de nossos sonhos e não fica “sentado no trono de um apartamento com a boca escancarada cheia de dentes esperando a morte chegar”.